CAPÍTULO XVII

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Emily

"Era a Veneza na Ponte dos Suspiros; um palácio de um lado, do outro uma prisão; vede o seu perfil emergir da água como o toque da varinha de um mágico...
-Lord Byron, em Childe Harold's Pilgrimage, canto IV, estr. 1, 1812

Eu estava imprensada contra o Eric que roncava de boca aberta na minuscula cabine do caminhão, ele havia sentido o ferimento causado por Edmund pouco depois de termos conseguido a carona e desde então só tem feito dormir. O homem que tinha nos dado carona não era de falar muito então tudo estava quieto, exceto pelo barulho da chuva no para-brisa. Mais algumas semanas e seria Natal, involuntariamente meus pensamentos me levam a propriedade onde Elise sempre fazia questão de enfeitar a casa e fazer uma festinha para que os moradores da Cidade pudessem comer e se divertir. Nunca entendi o por quê que ela fazia isso mas, agora, eu iria sentir uma falta tremenda da agitação que ocorria todos os anos. Pego a mochila e retiro uma pequena caixinha preta, eu tinha comprado isso a meses para o Alan, agora eu teria que envia por Sedex e esperar que ele recebesse.

- Chegaremos a Itália em uma hora - o motorista fala

- Grazie - cutuco o Eric que acorda e me olha com os olhos vermelhos - chegaremos em uma hora. Você está melhor ?

Ele se mexe e levanta a bainha da camisa, revelando um abdome bronzeado e bem definido respingado com um pouco de sangue, um traço fino do lado esquerdo era visível.

- Sim, já faz algum tempo - ele responde

- Então por que está dormindo esse tempo todo ? - franzo a testa

- Preguiça - ele respondo sorrindo feito idiota. Reviro os olhos - está com fome?

- Não muito - me encosto mais perto dele já que estava morrendo de frio, ele me abraça pra esquentar melhor, eu sabia que estar abraçada assim a ele era estranho.

- Você está tremendo - ele alisa meu braço e sinto seu queixo mudar de posição na minha cabeça, olhando para o motorista - tem aquecedor?

Um jato de ar quente chega até mim e eu quase gemo de satisfação por isso, algumas modernidades são uma bênção.

- Melhor? - ele pergunta. Balanço a cabeça já caindo em um sono profundo.

Estava de volta a clareira do sonho, o mesmo sol com os mesmos passarinhos. O que seria agora? Como antes, sigo até as ruínas do Templo e encontro a estátua novamente. Ele sorrir quando me ver e aquela sensação de djavu me assombra.

- Olha quem voltou - sua voz retumba pelo lugar

- Eu não morri de novo, morri?

- Não criança, não morreu - ele se levanta - eu lhe trouxe até aqui.

A Marca dos Caídos - Livro I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora