2° C. Mais um dia

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      Acordei em pleno dia de sábado, já tarde e totalmente indisposta de levantar da cama mas infelizmente minha mãe não me deixaria em paz. Levantei, fiz minhas higienes e reparei sangue em minhas fezes, lembrei de todas as vezes que eu via algo errado comigo e ignorava achando que nada iria acontecer. Talvez o mal de muitas pessoas seja esse mesmo, "achar que nunca vai acontecer com você". Olhei pela janela e estava chovendo, fraquinho, mas chovia. Percebi que tinha um cachorro lá do outro lado da rua, era um vira lata branco mas estava. bem sujo. Desci e minha mãe estava ocupada lavando a louça da janta.

      — Mãe, posso ter um cachorro? - Disse me encostando na pia
      —- Você nunca foi fã de cachorro.
      — Eu sei mas é que agora deu vontade de ter um cachorro. Posso?
      — Claro Savannah, oque você quiser querida.
      — Obrigado mãe — Abracei ela por trás, comi forçadamente um bolo de cenoura e saí a procura daquele pobre cachorro. Quando saí ele já não estava lá, daí resolvi olhar de baixo dos carros. Estava empinada e de repente ouço passos de alguém atrás de mim.

      — Que bela visão —  Reconheci logo a voz e tinha que ser a pessoa mais sem noção pra dizer isso, né Théo. Sentei no chão rapidamente para que ele não tivesse o privilégio de ver meu traseiro.
      — Algum problema? — Revirei os olhos.
     — Sim, daquele jeito estava bem melhor. Pode voltar a posição que estava?
      — Nem em sonhos.
      — Sonhos? Não me dá idéias, sou bem atrevido com sonhos.
      — Vá se ferrar.
      — Não sofra — Passou a mão sob meus cabelos e bagunçou o mesmo.
      — Você lava a mão pelo menos?
      — Não tenho nenhuma doença contagiosa, pode deixar — Sei que a minha doença não é contagiosa mas só de ouvir essa palavra me dá um embrulho no estômago — Vem cá, deixa eu te ajudar a levantar — Ela estendeu a mão e eu aceitei.
      — Obrigado — As vezes eu agradeço por ele não saber sobre a minha doença.
      — E oque estava fazendo?
      — Tinha um cachorro viralata, branco e muito maltratado aqui fora - Disse olhando para os lados pra ver se achava pistas dele.
      — Acho que eu vi ele, e se não me engano ele foi para aquele lado —Disse apontado para a esquina.
      — Obrigado — Saí andando.
      —- Pera aí, vou te ajudar a achar ele.
      — Não precisa, você deve ter mais oque fazer, eu cuido disso sozinha.
      — Não tenho nada, e vou adorar estar na sua companhia.
      — Ta bom, então vem! — Ficamos procurando aquele cachorro por um bom tempo e nada dele aparecer. Théo estava se comportando até que bem.
     — Acho que ele não está por aqui, quer olhar do outro lado?
     — E resta outra opção?
     — Resta. Você pode me beijar agora já que perdeu uma aula de beijo gratuita comigo ontem — Disse pegando em minha mão
      — Nunca reclamaram do meu beijo, então não devo beijar mal.
      — Será? Vai que te pouparam de saber a verdade. Lembre-se que quase sempre a verdade dói e dói muito — Oque ele disse tinha a total verdade, mal ele sabia que eu estava poupando ele de saber a "verdade", mas acho que talvez eu esteja poupando a mim mesma do ter o olhar de pena dele.
     — E você? Será que te pouparam da verdade?
     — Não sei, mas você poderia resolver isso pra nós dois — Ergui uma sobrancelha e calmamente passei meus dedos em seus lábios, ele estava totalmente imobilizado. Daí eu aproximei nossos lábios, sentindo sua respiração totalmente ofegante. Então assim que senti suas mãos em meu cabelo eu sussurrei alto o bastante para que ele ouvisse — Nem em seus sonhos — Me afastei mas daí ele pegou em meus braços me prendendo a ele, esboçou um sorriso safado e trocamos olhares por um tempo, eu estava totalmente submissa a ele e estávamos prestes a se beijar, de repente eu queria aquele beijo mais do que ele. Senti sua mão em minha nuca e do nada ele me afastou, sorrindo como uma criança recebendo o presente de natal, eu fiquei alí, imobilizada.
      — O que foi Savannah? O gato comeu sua língua? — Ele estava zoando da minha pessoa, que canalha.
      — Imbecil — E finalmente eu consegui dizer alguma coisa, ainda estava ofegante
      — Vem, vamos procurar meu cachorro — Ele pegou em minha mão e foi me puxando, mas como assim "Seu cachorro"
      — Seu cachorro?
      — Sim, esse cachorro é meu e ele está lá em casa. Não sabia que gostava de animais — Sorriu.
      — Esse tempo todo eu estou procurando um cachorro que na verdade é seu e está na sua casa? - Falei furiosa.
      — Me desculpe, mas foi uma forma de passar um tempo ao seu lado, meu doce.
       — Meu doce?! Você me fez andar como uma condenada e agora vem com essa cara mais lavada do mundo me pedindo desculpa? — Revirei os olhos.
       — Muita calma, meu doce.
       — Não me chama de "meu doce" - Debochei.
       — Ta bom — Suspirou e então continuou —  docinho.
       — Cansei, tchau. - Bufei e saí andando.
       — Pera aí, não quer ver o cachorro?
       — Outro dia — Disse sem olhar pra trás.
       — Então haverá outro dia, Savannah Hans. Espero ansiosamente por ele, fiquei sabendo desde já —  Gritou. Ignorei aquele comentário, apertei o passou e logo cheguei em casa.

   Cheguei já era umas 17hrs, não estava com fome, porém estava suja. Tomei um banho, me vesti, desci pra beber um copo de água e havia um bilhete na geladeira dizendo: "Filha fui as compras com sua irmã, qualquer coisa me liga". Bebi minha água, comecei a sentir aquelas dores horríveis na barriga, fui deitar e consegui dormir. Acordei com campainha tocando, ainda não tinha ninguém em casa era de noite. Atendi a porta e vi Amora com o Ryan ao seu lado. Ryan sempre foi extrovertido e cara de pau, como grande parte dos gays, mas infelizmente aquele não era ele na minha frente. Sem exitar me abraçou forte e não disse mais nada.

Presa ao fimOnde histórias criam vida. Descubra agora