Diário de Viagem#3

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        Às vezes penso — um aluno está três anos na mesma escola e só tem uma amiga

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        Às vezes penso — um aluno está três anos na mesma escola e só tem uma amiga. Na verdade, eu e Amy somos colegas —, às vezes, tenho pressentimento que ela gosta de mim. Eu não sei se a amo de verdade. Amy é bonita, mas tem uma garota que amo ainda mais e levei-a como uma figura familiar, uma irmã para mim. Inclusive estou nervoso, não sei se vou a casa dela hoje, o convite foi uma baita surpresa para mim.
Como eu e Amy não conseguimos ficar juntos por muito tempo no colégio, sempre nós nos encontramos na casa de um e de outro ás vezes durante a semana no final da tarde para realizar nossos trabalhos de casa antecipadamente, mas o problema é que moramos bem longe um do outro, são quase 20 quilômetros de distância que nos separa, e uma hora e meia usando o skate até lá, mas pelo menos o esforço vale a pena, pois posso ver novos horizontes, lugares além do meu bairro, posso sair de casa e poder respirar ar puro, e é uma grande satisfação chegar até lá depois de todo meu esforço.
Na maioria das vezes, marcamos de nos encontrar na casa de Amy, pois é maior e bem mais limpa do que a minha, e também devido ao delicioso brownie que a mãe dela faz, o melhor, e como sou convidado me encho da sobremesa — o que há de errado? Muitos me falam que preciso engordar, então vou engordar comendo doces... ainda mais brownies —.
O bairro de Amy é uma zona costeira, como um banco de areia no mar e fica na Península de Rockaway, inclusive sua belíssima casa fica à beira mar em uma praia grande, isso é um dos motivos de querer adorar tanto ir até lar, ver e sentir a brisa daquela praia. Ficávamos em seu quarto confortável e as vezes Amy deixava a porta da sacada e o vento entrava naquele quarto, e neste momento sinto uma paz interna que nem sei explicar, é uma das melhores sensações que sentira até agora.
Sempre que há um trabalho bem difícil que precise necessariamente de uma dupla, temos um ao outro, pois nesses últimos dias no Ensino Médio temos muitos afazeres a cumprir e fica difícil concluir um por um, pois são muitos trabalhos a cada hora, por isso tínhamos uma espécie de Lei para fazer tudo adiantado. No início até que deu certo, mas com o tempo as coisas se complicaram, mesmo que tentássemos fazer com antecedência criava um grande acúmulo de tantos trabalhos, e isso sobrecarregou a gente — e foi bem trabalhoso —, realmente, o tanto de fazeres era enorme que nem tínhamos tempo para nós mesmos, para nossa diversão, mas amava estar nesses momentos, me sentia acolhido.
Através dela aprendi a não levar os problemas comigo para casa, a não deixar essa dor permanecer comigo, e assim ultrapassar a fase mais perigosa da depressão, aquele sentimento de solidão, de que todo o mundo vai te perseguir e talvez te destruir, chega as decisões mais difíceis a se tomar. Amy foi uma salvação para mim e me impediu de chegar à esta fase, mas creio que minha maturidade me impede de chegar mais longe, aprendi a conviver com a dor e a tristeza, e agora ela não me afronta mais, apesar de me sentir muito sozinho as vezes.
Em certos instantes me pergunto se realmente tenho depressão, se tenho uma dor ou tenho esse transtorno, pois tenho esse vazio existencial, as pessoas me veem como uma pessoa fria e vazia, mas sou como todos os outros, oco por dentro, e o que me atormenta sãos alguns fatores externos. O grande apelido que deram é O Homem Sonhador, uma referência ao fato de sempre está em transe em momentos como o que se repetiu hoje de manhã com Trevor. Infelizmente, os patetas da escola não são uns dos únicos desta escola que sabem que eu realmente existo, sou então infernizado com esse apelido. Nos primeiros dias de bullying, Trevor não parava de me chamar disto. Na escola alguns professores como de educação física me chamavam assim também — eu odeio apelidos —, graças a Amy, pelo menos, consegui superar.
No meio da tarde, após o colégio, retornei para casa para pegar um dinheiro do cofre de meu pai para passagem de ônibus, e também para trocar de roupa, está esquentando com esse clima doido de Primavera. Para chegar até o bairro de Amy, peguei o metrô até um terminal nas proximidades de Coney Island e de lá peguei um ônibus até seu bairro.

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