Diário de Viagem#29

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          Ela tem muita força de vontade, queria saber de onde ela arranja essa força

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          Ela tem muita força de vontade, queria saber de onde ela arranja essa força. Estando juntos novamente, Jane colocou mais algumas roupas de frio e pôs as garras de gelo nas solas de suas botas, também fiz o mesmo e nos preparamos. Deixamos nossos equipamentos ao nosso alcance, como as cordas presas no nosso cinto de utilidades e as machados para o gelo. Também coloquei um gorro bem grosso para me proteger do frio e óculos de sol para o montanhismo. Jane fez o mesmo e andamos mais um pouco até o início da trilha.
Mas ela sabia da rota que tomaria graças ao seu conhecimento de mochileira, e ela também memorizou o caminho.

Começamos a subir o planalto o mais rápido possível, a tempestade estava se aproximando. As temperaturas baixaram muito rápido e os ventos ficaram mais fortes e gelados. A paisagem do planalto era bem limpa e plana, só havia algumas elevações e pedras de gelo como as rochas vulcânicas espalhadas pelas planícies verdes.
As garras também nos ajudavam a subi as elevações e então fiquei atrás dela durante todo o caminho até o fim da subida para o planalto. Quando chegamos no topo, uma nuvem escura cobriu o céu e parecia que já era noite, pois não víamos o sol, porém era quase o fim da tarde, então os ventos ficaram mais fortes e ainda nevava. Jane pegou uma corda e a prendeu em seu cinto de utilidades e entregou a outra ponta para mim para caso eu escorregasse, assim ela poderia me salvar ou vise e versa. Também ela emprestou um bastão de caminhada para impedir de escorregar. Eram como os bastões que alugamos para esquiar, porém era de outra utilidade.
Andamos por mais de cinco quilômetros e demorou umas duas horas, parecia que foi uma eternidade, porém foi um inferno tentar andar, a neve era bem fofa e ia até a metade de meu calcanhar. Conforme andávamos, estive reparando em algo atípico em Jane, acho que ela não está bem, via que ela tossia bastante, como se estivesse engasgando. Talvez ela esteja tendo dificuldades para respirar por causa a sua asma, então apressei o passo até ela já que estava à seis passos de distância dela.
— Jane, você está bem? Quer que voltemos para buscar ajuda — pergunto preocupado e com o tom alto, pois mal me ouvia falar alguma coisa.
— Não!... eu estou bem, só estou meio cansada — respondeu ela respirando bem forte.
Continuamos o nosso caminho, e admito, estava bem assustado, aqui em cima era bem caótico. A neve chegava até as nossas canelas, havia uma forte tempestade sobre nós e mal tínhamos visibilidade da região, pois há neblinas entre nós, e ao nosso redor só tinha neve e mais neve, nem sabia onde estava o céu. Mas por sorte tínhamos uma orientação onde é o sul e o norte devido a bússola de Jane e seu conhecimento do local.
Mas foi quando que Jane parou de andar e começou a tossi e respirar mais forte. Achei que ela tivesse tropeçado numa rocha, porém ela se levantou e continuou a andar, mas caminhava lentamente. Bem nervoso e preocupado, verificava se havia fendas em nosso caminho espetando o chão com meu bastão que se assemelhava com uma bengala. Apesar do lugar ser bem perigoso, eu e Jane tínhamos coragem e encontrei a minha determinação realizando tudo isso, estava confiante que íamos conseguir realizar esse feito.
Uma hora depois, tínhamos conseguido dar uma volta enorme sobre o plano de neve. Conseguimos sair da enorme camada de neve que ia até as nossas canelas, agora tínhamos que começar a subi a imensa montanha a partir dali, o que seria ainda mais complicado.
A subida foi bem complicada, pois a neve fofa enterrava nossos pés quando andávamos, assim era um esforço tentar tirar o pé da neve, e então chegamos na altura das nuvens e elas cobriam tudo ao nosso redor. Mal tínhamos visibilidade, só conseguia ver Jane à frente com seu casaco vermelho que chamava atenção em meio aquele vale de branco.
Estava preocupado, não tínhamos noção para onde íamos, apenas na bússola de Jane, então ficamos próximos um do outro para não nos perder no meio daquela neblina.
Jane então caiu no chão, simplesmente do nada. Eu fiquei paralisado, ou congelado, ela caiu de frente para o chão e seu corpo afundou na neve fofa e a quase cobriu. Retornei à realidade e fui socorrê-la, me ajoelhei para levantá-la. Achei que ela estivesse desacordada, mas estava acordada, porém pediu minha ajuda para usar a bombinha para asma. Encontrei várias bombinhas vazias no bolso do casaco dela e fiquei meio assustado com a quantidade que ela já usou só nessas últimas cinco horas. A ajudei a procurar o restante no mochila, e foi complicado encontrar uma que pelo menos estivesse cheia, a maior parte vazia ou pela metade, e com isto, ela não teve escolha a não ser usar as bombinhas com metade do ar. Imediatamente ela usou, respirou bem fundo, parecia estava aliviando a sede, mas invés disso o seu respirar, além disso seu rosto estava vermelho, como se estivesse pegando fogo.
Isso literalmente acabou com a gente, então não tivemos outra escolha a não ser retornar para o vilarejo onde íamos nos hospedar. Através de seu mapa, Jane e eu encontramos uma rota para descer dessa rota inteira e voltar. Foi desanimador ter que abortar tudo, estávamos no meio do caminho, porém esse mal tempo acabou com a gente e a viagem, pois perdemos um dia para chegar lá.
Descemos o planalto de neve e agora estamos na estaca zero, e assim voltamos para o hotel que alugamos. Havia bastantes turistas visitando a montanha em uma excussão em um ônibus de viagem, mas eles não subiram com medo da tempestade e da neblina que escondia o pico, e por conta disso lotou o hotel. Contudo, tivemos a sorte em pegar um quarto.
Jane estava diferente, acho que ela está enjoada. Horas depois, tomei um banho bem quente e liguei o aquecedor e deixei no máximo, estava muito frio. Durante a noite, cansados e exaustos, pedimos uma sopa típica da Islândia bem quente, não tinha colhões de ovelha, acho que finalmente sei do que realmente tenho medo, de ovelhas, como dizem os jovens, peguei ranço de ovelhas, inclusive das Islandesas.
Jantando, aproveitei para mostrar a besteira que fiz:
— Jane, me desculpe, mas sem querer eu quebrei...
— Quebrou o que?
Logo, pondo minha mão no bolso de meu casaco, trago o celular quebrado de Jane lentamente, com a metade da tela rachada devido a depravação que causei a ele, mas ainda funcionava, apesar de algumas partes não funcionarem. Enfim mostrei a ela, então algo inusitado aconteceu. Ela ficou alguns segundos paralisada sem acreditar e isso me deixou envergonhado e desconfortável, porém ela começou a rir ao ver o aparelho e a minha cara de assustado. A entreguei, e  Jane esteve verificando se alguns aplicativos funcionavam. Com seus risos, perguntei:
— Como assim, não está triste...?
— Ah, tudo bem, é um celular, quer dizer é importante... mas não é ouro, já passei por isso. Mas você, sem dúvidas, se superou de mim...
— Nossa, e não está brava comigo?
— Não, fica tranquilo. É isso que me deixa mais impressionada em você, é tão inseguro, precisa ser mais seguro de si mesmo.
— É o que estou tentando fazer, seguir suas orientações para ser uma ótima pessoa e um ótimo namorado.
— Você é fofo. Mas David, você pode mudar.... Vamos fazer o seguinte, me prometa aqui e agora — disse ela segurando minhas mãos e apertando-as, —  prometa que será mais seguro de si?
— Sim, claro. Tentarei — digo com um pouco de receio, confiança não é meu forte, mas aqui está meu primeiro passo para a mudança, temos que estar dispostos.
— Agora... vamos mudar de assunto, já que você adora perguntar sobre meu passado traiçoeiro, o que te motivou a vir comigo?
— É claro que fiquei muito duvidoso no início, a ideia era perfeita para mim, sair em uma aventura em busca dos segredos da felicidade ao lado da pessoa que mais amo, o que poderia dar de errado? E então pensei e pensei várias vezes quando voltei para casa após o seu convite, iria até mandar uma mensagem para você, porém liguei para Amy, e pelo incrível que pareça ela me incentivou a ir nessa aventura. Com isso, usei para me motivar a ir ao seu lado, tinha três objetivos, os segredos da felicidade, a saída do limbo de sonhos, e por último te conquistar, como disse anteriormente, oportunidades como esta acontecem uma vez, e não podemos desperdiçar — respondo pensando nos fatos anteriores.
— Ah que fofo, e você acha que conseguiu? Já que conseguiu me beijar e viajar por toda Islândia, quase morreu várias vezes, andou comigo em uma caminhonete caindo aos pedaços, disse adeus a sua insegurança e inocência, também escalou uma montanha em um forte temporal. 
— Creio que sim, acho que sou outra pessoa depois disso, e nem sei como agradecer a você por isso — respondo rindo de tudo o que passei.
— Não, eu que devo agradecer a você, por me libertar do meu limbo, talvez sejamos iguais, almas gêmeas. Mas você mudou e acredito que tenhamos conosco. Mas, obrigada por ter ido comigo...
— Tudo bem, e obrigado por tudo... e quase ia me esquecendo... eu te amo.
— Eu também te amo, como é bom ouvir isso... enfim, vamos sair cedo amanhã, precisamos terminar isso, tipo pra ontem ou se não teremos que ficar mais alguns dias na Islândia fora do programado, e o pior é o dinheiro acabar — revelou ela colocando o problema na mesa.
— Compreendo, mas falando nisso, temos alguma grana para algumas coisas aleatórias?
— Mais ou menos, o dinheiro que ainda nos resta é para gasolina, comida e agora as bombinhas. Hoje eu usei além do previsto e acho que não vai ter o suficiente até o fim.
— Mas quantos você tem ainda?
— Acho que uns cinco... mas eu aguento, sou forte.
— Podemos antes ir comprar mais bombinhas, pode ajudar — sugiro.
— Pois é, eu procurei por tudo que é canto no mapa alguma farmácia, mas é bem difícil achar essa bombinha nessa parte do país — revelou Jane me assustando, pois ela pode morrer se todas as bombinhas acabarem já que só hoje ela usou mais além do previsto.
— Tem certeza disso, pode ser perigoso?
— Vamos encarar esse desafio, vamos conseguir. 

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