Diário de Viagem#31

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Após nossa conquista, demos meia volta, começamos a descer a imensa montanha e foi mais fácil descer por conta da gravidade

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Após nossa conquista, demos meia volta, começamos a descer a imensa montanha e foi mais fácil descer por conta da gravidade. Seguimos o mesmo caminho através das nossas pegadas que ainda não se desapareceram, mas o grande problema é a forte tempestade sobre nós, e isso vai atrapalhar muito.
Nosso caminho de volta seria diferente do qual viemos, pois o início da trilha é longe da cidadezinha onde está nossa carona, mas através desse caminho alternativo que segue outra trilha para uns dos picos dessa montanha, pouparia o nosso tempo. Mas segundo Jane, nessa trilha alternativa é onde os montanhistas profissionais usam para praticar rapel ao descer parte do planalto que é próximo de uma das geleiras daqui. Sem escolhas, concordei e seguimos o caminho para sair logo daqui e chegar à vila a tempo de pegar o ônibus.

Por fim, descemos sem parar, atravessando as nuvens e os ventos fortes que quase nos levaram, tirando nossa visibilidade, mas por sorte chegamos enfim ao final do planalto e chegando na trilha alternativa e foi bem rápido, umas três horas que gastamos atravessando essa planície que na realidade faz parte da cratera coberta de neve do vulcão. Continuamos a descer a trilha e então seguimos a uma parte crítica, havíamos chegado no fim da planície e à frente havia um vale pequeno onde passava um rio devido uma geleira próxima. Descer este vale nos pouparia tempo mas além disso era alto, e as nossas cordas que trouxemos em nossa mochila tinham uns quarenta metros. Para realizar prendemos dois parafusos grande sobre uma rocha aqui no topo e fixamos várias cordas nela da qual dividimos, e Jane lançou o restante lá para baixo, assim poderíamos fazer rapel sem o perigo de cair. Antes de irmos, Jane havia me dado uma pequena aula de como descer. Realmente foi bem complicado entender, mas quando ela me mostrou como realizar tudo isso, consegui fazer na prática, mas o medo impedia.
Começamos a descer e bem rápido. Mas infelizmente não podíamos ir logo descendo de uma vez como é feito normalmente devido ao vento, agora foi por um passo de cada vez, pois tivemos que utilizar os machados para fixá-los na parede lisa de rocha semelhantes a uma picareta, e no auxilio disso tínhamos as garras presas as solas de nossas botas para ter mais cuidado. Jane estava indo mais rápido, já eu, estava descendo um pouco devagar pois o meu medo me atrapalhava.
Jane tinha conseguido chegar até uma certa distância de mim, e ela não perdia tempo, já a mim era um passo de cada vez. Fixando o machado contra a rocha e usando as garras da bota como apoio de um jeito dinâmico, estava a observando com medo. Até que, a tempestade havia chegado sobre a montanha e os ventos ficaram ainda mais fortes. A força dos ventos fez com que algumas pedras acima de nós caíssem. Elas passaram perto da gente, e percebemos que não poderíamos continuar fazendo rapel com esse vento, mas a chance era continuar sem parar porém com cuidado. Novamente o vento fez cair uma pequena parte da parede de rocha acima de nós e ela desabou rapidamente, mas por sorte não nos atingiram pois caiu na elevação onde estão os parafusos onde fixamos as cordas, mas isso o fez com que ficassem frouxos na rocha deixando-nos a balançar. As nossas cordas estavam começando a soltar do parafuso, mas os danos maiores foram em Jane, pois em sua ousadia em continuar saltando a fez perder o controle por conta dos ventos, e talvez a corda pudesse se romper do prego. Ao perceber, tentei ajudá-la, desci o mais rápido possível até ela através do machado e as garras.
As rochas começaram a cair sobre nós novamente e tentamos nos proteger delas. Foi quando uma me atingiu sobre minha cabeça, mas por sorte foi pela lateral do meu rosto, mas atingiu-me e deixou desorientado durante alguns instantes, e um forte zumbido permaneceu em meu ouvido. A força dos ventos fez Jane largar o machado que estava preso na parede lisa de rocha, logo ela ficou pendurada, talvez desorientada assim como eu. Minha mente estava fora de si, flutuava, e não consegui compreender a maioria das coisas, mas vi que Jane estava correndo perigo, aparentemente a peça que dividia as cordas do cinto de utilidades que assegura que não fôssemos cair se rompeu e a deixou apenas com uma, assim ela se segurou na única corda que a salvava e se balançava devido ao vento. E por causa do peso, o parafuso na rocha se soltou e com a gravidade ela caiu.
Quando percebi que a corda se soltou, olhei para baixo na esperança de poder salvá-la e enfim saltei para o abismo abaixo do qual ela caía onde havia neblina e neve.

Pulei e estendi meu braço enquanto a observava de alguns metros de distância entre mim e ela, seu rosto estava avermelhado com as bochechas meio rosadas, e enquanto estávamos caindo ela estava olhando para mim enquanto desabava de costas ao chão que se aproximava. O vento balançava seus cabelos ruivos que as vezes tampavam seu rosto, mas era momentâneo e ela sabia disso.
Estava quase alcançando-a, faltava alguns centímetros e os meus dedos se estendiam ainda mais.
Jane sabia que ali seria o seu fim e se preparou, fechou logo seus olhos cheios de lágrimas. No último segundo — faltava tão pouco —, mas a minha corda não era tão longa, só conseguia ir até um certo ponto e então ela me parou no meio da queda. Estando pendurado, a minha corda iria também se soltar, mas ignorei e fiquei pendurado vendo-a cair.
Ela parecia tão calma e relaxada ao cair, seus olhos não poderiam ver o que lhe ocorreu, mas eu pude ver, e pra sempre aquele momento estaria comigo. Ela sempre estará. Desejei que isso fosse um sonho e que nunca mais acordasse ou que acordasse e não me lembraria, mas era tudo real, tão real.
Meus olhos se fixaram no seu corpo tão leve como o vento que quando se aproximou do chão não pude fechar meus olhos.
Ela despencou no chão, e ouço o terrível som do impacto, agora seu corpo agora estava lá fazendo parte daquele terreno de rochas e pedras cheias de neve. Seus braços estavam meio abertos, e sua cabeça virada de lado, e a boca entreaberta, enquanto suas pernas estão arreganhadas, e ao seu redor rochas que caíram junto com ela, espatifadas e partidas em vários pedaços;
Fiquei chocado, paralisado e congelado. Mas acordei e tentei absorver mesmo não acreditando. Não aceitei, não me conformei. Logo me soltei da corda e usei a outra machadinha, na qual sobrou em meu cinto de utilidades para descer até ela. Estava alarmado, inquieto e nervoso, não conseguia parar de tremer.
Quando a vi assim que desci, me desesperei, corri até seu corpo sobre o chão. Me abaixei e sentei ao lado dela,  e então a segurei em meus braços. Mesmo sabendo que sua vida já se foi ainda não aceitava, pois a amava muito. A chocalhei diversas vezes, a abracei enquanto estava apavorado.
Comecei a tocar sua bochecha fria, alisei, tentei encontrar nas minhas memórias o seu carinho, queria tê-la de volta. A pele de seu rosto era bem macio, mas agora frio e pálido. Ela ainda tinha o cheiro do seu perfume caro, seus cabelos mantinham isso e a beijei, quando tentei encontrar a única gota de esperança senti minhas mãos estarem meio molhadas, sinto segurando sua cabeça aquele buraco na nuca. Meu casaco estava sujo de sangue e quando vejo fico mais apavorado.     
— Jane..., acorda — digo começando a chorar.
Eu gritei de raiva por não conseguir salvá-la, estava com raiva de mim mesmo. Eu beijei em sua testa várias vezes, queria não poder esquecer da sensação de beijá-la, de senti-la e de seu coração que me acolheu, mesmo fragilizado. Não queria perdê-la, não queria esquecer o cheiro que ela tinha, principalmente dos seus cabelos lisos. Das sensações que tive ao seu lado, do amor e da sua felicidade.
Eu gritei em desespero. E chorei, intensamente:
— Jane, por favor. Eu não consigo sem você.

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