Diário de Viagem#17

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      Uma viagem precisa de roteiros e quando não se tem roteiros para definir você acaba ficando perdido no meio do nada

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      Uma viagem precisa de roteiros e quando não se tem roteiros para definir você acaba ficando perdido no meio do nada. Aqui estou junto com Jane no meio de uma estrada na escuridão da noite, as estradas da Islândia não tinham postes de luz ou ainda mais alguma iluminação externa, apenas as faixas brilhavam, como o brilho do neon, mas não era o suficiente para iluminar o resto da pista, além disso tínhamos medo de acabar atropelando alguma ovelha no meio do caminho ou algum animal no meio da estrada. Éramos para ter chegado no nosso primeiro ponto para dormir em uma pousada — mas afinal, cadê a cidade? —, fiquei preocupado que Jane tenha errado o caminho, tinha me perdido no mapa, e o celular de Jane não tinha sinal nesta região, parecia que estávamos em uma área isolada do resto do mundo. É oito da noite e então preocupado perguntei:
— Jane será que erramos o caminho? Já que atravessamos as montanhas talvez a cidade que procuramos esteja escondida por essas montanhas e passamos batido dela — pergunto deixando-a nervosa.
— Não, eu tenho certeza, conheço caminho... — respondeu Jane meio nervosa, como quisesse explodir.
— Tem certeza? Estamos andando a mais de três horas e nem encontramos nenhuma civilização...
— Eu tenho David!... — reclamou Jane com tom alto, então ela parou a caminhonete e descansou no volante refletindo o caminho todo, — maldita estrada... é, admito, acho que passamos batido da cidade... ela fica entre algumas montanhas em frente à uma baía, e não tem nenhuma baía aqui, nem mesmo o sinal do mar — finalizou dando um pequeno soco no volante que apitou a buzina e me assustou um pouco.
— Relaxa Jane, errar é humano, é normal, estamos bem, e inclusive até adiantamos caminho...
— O que está acontecendo comigo... — indagou ela bem baixo sem que pudesse ouvir, — vamos parar aqui, preciso descansar, minha cabeça vai explodir...
Percebia que Jane não estava bem, seu psicológico tinha se dissipado, e ela estava esgotada, sentia isso pelo seu olhar cabisbaixo, sentia pena dela. Talvez Jane seja uma pessoa que faz de tudo para não cometer um erro, como uma perfeccionista, não tolera seus erros. Ela continuou dirigindo mais um pouco à frente e saiu da pista em direção ao um lago cheio de rochas vulcânicas com pedaços de gelo de uma geleira próxima a nós. O terreno era bem plano e não havia nenhum sinal de civilização, apenas era a escuridão e a iluminação da lua nos iluminando. Também não tinha um sinal de algum animal que pudesse nos atormentar.
Jane saiu da caminhonete e a apenas deixou o farol aceso para iluminar à frente, e ela perguntou assim que saiu:
— David, já acampou no meio do nada? — perguntou ela me observando enquanto me retirava da caminhonete.
— Não que me lembre, mas acho a ideia de dormir no meio do nada meio insana, vai que aparece o Jason aqui com um facão... — ironizo chamando o entusiasmo dela.
— Que isso, acampar é legal, mas primeiro: o Jason teria que andar muitos quilômetros para chegar até aqui, e segundo; ele tem medo de água e a distância da Islândia até Nova Iorque é gigantesca, caso ele tentasse, seria congelado por causa das temperaturas próximas do círculo polar ártico. Então nada de assassinos em série aqui, e também eu sei várias técnicas de lutas, quer ver? Sei quebrar várias tábuas de madeiras juntas... — ironizou Jane finalmente colocando um sorriso no rosto.
Consegui trazer o bom humor de Jane e tirá-la de seu estresse. Fomos até a caçamba onde estava nossas coisas e Jane tirou de sua mochila alpinista uma barraca bem pequena, mas cabia duas pessoas, como disse anteriormente, Jane estava preparada pra tudo e então trouxe uma barraca para o caso de não dormirmos em um hotel. A barraca era azul, tinha um tecido bem grosso para nos proteger do frio. Montamos de acordo com as instruções que vieram junto com a barraca e era bem fácil, só prender pequenas barras de ferro na terra, enfiá-las entre os tecidos e prender. Demorou uns quatro minutos para isso, mas tínhamos um lugar para dormir, mas veio outro problema.
Mas antes de dormir, estávamos cheirando a peixe por causa do navio que nos trouxera, e então queríamos tomar banho ou pelo menos lavar algumas partes do corpo. Outro problema surgiu, a água do lago era gelada demais. Jane gostou da ideia de cair em um lago muito gelado cheio de pedras de gelo de uma geleira. E é claro, ela nem pensou nas consequências disso como a hipotermia, mas Jane adora uma loucura.
Queria manter a privacidade entre nós dois, pois não quero interromper a intimidade de Jane, então me escondi atrás da caminhonete esperando-a colocar sua roupa de banho dentro da barraca, assim ela me avisaria que estaria pronta. Estive intrigado, Jane até planejou usar seu biquíni em um país bem frio como este.
Minutos depois, aproveitei que ela não estava por perto e troquei de roupa, como não trouxe uma roupa de banho tive que usar minhas roupas sujas. Portanto, tirei as roupas da parte de cima do meu corpo e só fiquei com uma calça jeans e a minha roupa íntima, mas arregacei a minha calça. Queria até tirar o jeans, mas estava com vergonha. Me enrolei em duas toalhas por causa do frio e me perguntava a todo instante se isso valeu a pena, mas então ouvi a voz de Jane e me avisou que estava pronta para a loucura. Ela saiu da barraca. A primeira coisa que olhei foi para seu belo corpo. Jane estava vestindo um biquíni preto bem simples, mas foi a primeira vez que vi seu corpo que me deixou sem fôlego. Vi pela primeira vez suas curvas sinuosas, seu abdômen, coxas e quase tudo.  Além do mais, Jane não é uma garota que expõe seu corpo em fotos então pude ver de forma inédita a sua tatuagem de margarida na costela abaixo do seio, era bonita e simples. Acho que Jane, falando alegoricamente, era uma margarida, mas bem fechada sobre si.
Apesar da idade, seu corpo era esbelto, seus músculos o definiam bem, principalmente seus membros. Percebo também a alta concorrência atrás de mim, dariam de tudo para ter essa chance ao lado dela. Mas além disso não tinha segundas intenções com ela, não sou tão malicioso, ou um adolescente recheado de testosterona, mas claro, como qualquer outro jovem da minha idade tinha esses desejos de beijá-la, mas acredite em mim, é só isso e nada mais e fico impressionado.
Ela se aproximou de mim, colocando um roupão azul para se proteger do frio e trouxe uma bolsa transparente com produtos de higiene. Fiquei paralisado, diria que estava hipnotizado com a beleza dela, mas com suas repentinas chamadas a mim pude voltar a realidade:
— Oi... o que disse? — pergunto esfregando minha mão no meu rosto.
— Está tudo bem? Do nada você decolou daqui e voltou — perguntou ela em tom irônico.
— Não é nada, só foi uma brisa momentânea, ou déjà vu.
Ela ficou sorrindo, um sorriso semiaberto, talvez malicioso, quase queria rir de mim, mas segurou o riso e me entregou um sabonete com a forma de um quadrado de uma marca famosa de cosméticos e cheirava a rosas. Jane foi à frente bem determinada e eu estava ficando vermelho, era minha preocupação de um talvez acidente com a hipotermia, mas ela foi primeiro e me encorajou. Ela retirou seu roupão e respirou fundo enquanto observava aquela água bem calma, escura e sem agitação que refletia a lua.
Ela encostou o seu dedão na água na margem e de imediato retornou e se contorceu de calafrio, logo perguntei:
— Caramba, está gelada?
— Não, está fervendo de tão quente. Venha aqui, vamos realizar nossa primeira aventura... está pronto? — perguntou ela se virando a mim.
— Não... Não... Não, — respondo dando passos para trás com muito medo.
— Vem, vai ser divertido... — disse ela correndo até mim.
Neste instante, iria dar meia volta e trocar de roupa, mas Jane me segurou pelo o meu torso como um abraço e ela me virou puxando-me contra a minha vontade até a margem do lago, fiz de tudo para sair de suas mãos que me agarraram. Mas foi quando que Jane de algum jeito conseguiu me segurar em seu colo, mesmo tendo quase 71 quilos e 1,71 de altura, ela conseguiu me agarrar no colo e correu em direção ao lago até o mais fundo que conseguiu. Eu gritei de nervoso e estava apavorado, me contorcia para me libertar, mas foi quando que ela me jogou e afundei naquela água, senti um frio imenso que nunca experimentei em toda minha vida.
Logo emergi daquela água e me contorci de tanto frio. Estando encolhido, disse em tom alto:
— Ficou maluca garota! Essa água deve estar abaixo de zero, meu deus.
— Ah, que pena... — respondeu ela jogando um pouco de água na minha cara.
Ela continuou jogando mais e mais ainda, e é claro revidei fazendo o mesmo. Eu fiquei com raiva, mas algo me incendiou por dentro, talvez um sentimento que nunca me ocorreu — será a diversão? —, eu estive sorrindo por um instante e esse sorriso se contagiou em Jane e ela esteve rindo de nossa guerra de água que fazíamos.
Apesar daquela água está bem gelada, continuamos a brincar até que o frio começou a perpetuar e usei meus braços para me massagear do frio, portanto Jane se aproximou de mim novamente para jogar água e então pedir para parar, achava que estava sofrendo com os efeitos da hipotermia. Ela fez o mesmo e começou a gargalhar de nossa brincadeira que apesar de tudo foi engraçado.
Usamos os sabonetes para nos limpar e permanecemos naquela água por uns quatro minutos até estarmos limpos. Aquele sabonete me deixou bem cheiroso afinal de contas tirou aquele cheiro horrível de peixe morto que me atormentava. Depois disto, corri de volta a margem tremendo de frio e o som de nossos bater de dentes foi como uma música, com ritmo e tudo, mas nos enrolamos em nossas toalhas e tentamos nos proteger do frio o mais rápido possível, realmente tinha o perigo de hipotermia.
Vesti minhas roupas mais calorosas que tinha e fiquei tentando me aquecer, já Jane vestiu seu pijama e enrolou seu cabelo chamativo em uma toalha, pois estava úmido. Em seguida, todo esse gelo me deu sono e fui dormir, já Jane foi a última a dormir e o mais intrigante disso tudo é que iríamos dormir juntos de novo, mas nem liguei pra isso. Enfim dormi primeiro enquanto Jane foi esperar seu cabelo secar para descansar estando dentro da caminhonete.

Estava tendo um sono tão bom, mas tudo foi interrompido quando ouvi um barulho que me fez acordar e tomar um susto, mas não era nada além de ovelhas próximas da barraca comendo a grama, eu voltei a dormir, mas elas não paravam de soltar balidos, p...

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Estava tendo um sono tão bom, mas tudo foi interrompido quando ouvi um barulho que me fez acordar e tomar um susto, mas não era nada além de ovelhas próximas da barraca comendo a grama, eu voltei a dormir, mas elas não paravam de soltar balidos, portanto saí da barraca para afugentá-las e havia umas seis ovelhas. Rapidamente gritei para afugentar, algumas correram de mim bem rápido que me aliviou bastante, porém havia uma ovelha macho com chifres que poderia me machucar, e o mais estranho é que ele permaneceu parado. Peguei algumas pedras no chão e as joguei próxima da ovelha a fim de afugentar, porém ele ficou me encarando por uns segundos, achei que ele fosse querer avançar. Invés disso, deu meia volta e retornou até o seu grupo.
Isso aliviou meu coração, pois achei que iria acabar me machucando, mas foi aí que então refleti — caramba, eu encarei o perigo, eu não tive medo —, sempre que aqueles chatos como Trevor e sua turminha me perturbava eu não reagia por medo, e agora consegui reagir contra um bando de ovelhas, será que consigo reagir contra um bando de imbecis do colégio? Isso me deixou inspirado, pois finalmente tive a determinação que precisava e causou uma alegria nesta madrugada.
Retornei para a barraca bem feliz de minha atitude e reparei que Jane não estava lá, achei que ela estivesse esperando seu cabelo secar, então fui atrás dela para chamá-la. Andei até a caminhonete e a chamei, porém ela não respondeu, pois achei que estivesse acordada, mas a encontrei sentada no banco do motorista dormindo. Eu abri a porta da caminhonete velha que fez um barulho muito desconfortável devido a corrosão, achei que poderia acordá-la, mas não, permaneceu adormecida, então a observei sentada no banco do motorista inclinado para trás. Seus cabelos ainda estavam úmidos e sem a toalha, mas em suas mãos ela carregava uma espécie de caderno pequeno para anotações, creio que seja um diário pessoal de Jane — quem diria que Jane é uma pessoa que escreve sua vida em um diário, ela é antiquada —, mas estranhei com algo bem atípico dela, vi que em seu rosto havia lágrimas, não era suor ou água do lago, mas eram lágrimas, isso me deixou preocupado, pois achei que a alegria contagiante de Jane a tornasse forte contra sentimentos que a fizessem chorar, ou será que Jane é meio bipolar ou temperamental. Vai saber.
Segurei seu braço e remexi para que ela pudesse acordar. A chamei diversas vezes até acordar, e quando acordou tomou um susto com a minha presença:
— Está tudo bem Jane? — pergunto preocupado com ela.
— Oi David... — respondeu ela com um susto e rapidamente ela jogou seu diário para debaixo do banco do motorista e enxugou suas lágrimas que me deixaram preocupado, então fingiu que estava coçando os olhos por causa de seu sono — estou bem, que horas são?
— Sei lá, umas ovelhas me acordaram, e aí procurei por você...
— Ata, pode ficar tranquilo, eu vou dormir...
Há muitos mistérios que orbitam Jane, e isso não é segredo pra ninguém, o que será que estava havendo com ela para que ficasse chorando, horas atrás estávamos nos divertindo naquele lago e agora ela estava triste, ou seja lá qual foi seu sentimento.

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