::Capítulo 9:: Amelia

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Uma questão pairou no ar quando Cristopher se afastou do meu beijo. Por que fizera aquilo? Que mal tinha em nos beijarmos, já que ninguém tinha visto? Do que ele tinha tanto medo, se ambos tínhamos certeza de que nos amávamos?
Estas e outras questões fixaram-se em minha mente durante toda aquela noite, que, por sinal, seria a última que dormiria em minha cama, na minha casa. Durante todas as outras noites, eu dormiria em um quarto de hóspedes na casa de Cristopher... ou mesmo na cama de Cristopher. Fui devaneando nestes pensamentos até adormecer por completo. Quando acordei, comecei a fazer minhas malas. Tive o cuidado de colocar só as melhores roupas e sapatos, que resultaram em três grandes malas abarrotadas de roupas. Mamãe mandara uma criada me chamar para tomar café da manhã minutos depois de arrumar as malas. Encontrei um criado magrelo e ordenei que buscasse minhas malas no quarto e as trouxesse para baixo. Coloquei meu lindo vestido violeta de seda e tule, para causar uma boa impressão quando chegasse no castelo de Cristphinho, no meu reino dos sonhos. Eu odiava o reino de meus pais e odiava tudo que havia nele. Era medíocre. E se eu me casasse com Cristphinho, iria também ter a chance de mudar de reino, ter mais súditos e mais rapazes bonitos, já que aqui neste reino eu já havia saído (escondida, claro) com quase todos, e havia me enjoado deles. Digo bom dia aos meus pais e me sento à mesa, me sirvo de brioches com geléia e suco de maçã. O criado magrelo desce com minhas malas e as deposita ao lado da porta principal.

-Não acha que exagerou um pouco na quantidade de roupas, querida? -Meu pai pergunta.

-Papai, quando eu solicitar sua opinião, aí você me responde, fui clara? -Digo-lhe sem paciência.
Ele não responde

-Querida, acho que deveria ser um pouco mais educada com seu pai, isso não é atitude de uma princesa. -Diz minha mãe.

-Querem saber?!- Digo-lhes com raiva. - Eu agradeço a Deus por poder finalmente ir embora deste reino!Todos se calam. Continuei a comer normalmente, já que não tinha me importado.
Quando acabei, meu pai ordenou que fossem trazer a carruagem que havia sido preparada para a minha partida. Nos despedimos sem muita cerimônia, depois fui para a porta e saí no pátio. A carruagem já estava pronta e o cocheiro já aguardava minha chegada. Subi na carruagem e o cocheiro começou a açoitar os cavalos. "Finamente vou sair deste reino medíocre", pensei em minha cabeça. Durante o caminho, vi muitos camponeses pobres e inúteis vendendo milho na beira da estrada, resolvi cuspir na cesta de uma mulher que estava com sua filha, tentando vender 6 cestas de milho com a ajuda de sua filha. Elas me olharam espantadas, a garota me encarou e foi rapidamente tirar o milho em que eu havia cuspido da cesta. A carruagem se distanciou da cena, olhei para trás, sorri e acenei para as vendedoras nojentas. Apanhei meu leque e comecei a abanar rapidamente, o sol naquele dia estava horrivelmente quente.

-Vamos mais rápido, seu estúpido! -Gritei para o cocheiro. Ele não disse nada e aumentou a velocidade da carruagem.

* * *

Quando entrei no castelo de Cristphinho, não encontrei ninguém, então fui em direção à cozinha, para pedir um pouco de água, já que estava com muita sede. Entrei na cozinha e encontrei Cristopher conversando abertamente com uma das criadas, que ria muito.

-Olá, Cristphinho!- Gritei e fui em sua direção para abraçá-lo.
Ele e a criada me olham surpresos.

-Ahm...olá, srta. Dickens.-Ele responde.

-Ah Cristphinho! Já falei para você que basta me chamar apenas de Melinha.-Digo-lhe delicadamente e rio.
Ele sorri.

-E você, sua inútil!-Digo à criada.-O que está esperando para pegar um copo de água para mim?

-Sim, alteza.-Ela responde e apanha um copo de porcelana.

-Bom, Cristphinho. Onde será o meu quarto?-Pergunto a ele.

-Já mandei um criado levar suas malas para um quarto de hóspedes, no quarto andar. -Responde.
Bebo a água que a criada me trouxe.

-Traga também alguma coisa que eu possa comer! Ou acha que eu me alimento de luz?!-Pergunto à criada.

-Amelia, se a senhorita for morar neste castelo, sob o mesmo teto que eu, sugiro que tenha mais respeito com a srta. Rebecca Bones e com os outros criados, afinal, ela é um ser humano tanto quanto você.-Cristopher me responde, tenso.
Como ele se atreve a falar assim comigo? Me fazendo submeter-me a respeitar uma criada!

-Como quiser, Cristphinho.-Respondo, tentando controlar a raiva.

Subo rumo ao quarto andar sozinha mesmo, sem a companhia de Cristopher. Vou pensando no que faz ele ter tanto respeito por aquela criadinha pobretona. Eu era mais bonita que ela, com certeza, eu tinha olhos azuis e cabelos dourados. Ela tinha um baço cabelo castanho e os olhos verdes, ela era uma camponesa comum, enquanto eu era uma princesa rica e incrivelmente bonita. Quanto ao corpo? Mesma coisa. Ela era uma magricela sem graça, enquanto eu era uma mulher estilo violão. Cheguei a conclusão de que ele não poderia estar apaixonado por ela, pois seria uma grande tolice de sua parte. Cheguei a porta do quarto e abri. O interior era interessante, mas era inferior ao meu quarto no reino de meus pais. Os móveis eram de carvalho e seus estofados eram cor-de-rosa. Combinava comigo.

-Bom dia, senhora!- Disse uma voz atrás de mim.
Era uma criada gorda baixinha. Provavelmente minha nova criada de quarto.

-O que está esperando? Vá me preparar um banho!-Gritei sem paciência.
Ela pareceu confusa.

-Claro, minha senhora.
Saiu do quarto, desapontada.
Eu me joguei na minha nova cama e fui maquinando um plano em minha mente. Cristopher poderia desistir de se casa comigo, se quisesse, mas eu não queria. Porém, se nos vissem em um momento íntimo, iriam obrigar Cristopher a se casar comigo, eu receberia o dote, moraria no castelo e teria a chance de conhecer rapazes diferentes. Mas o que seria necessário para promover este momento íntimo? Então uma idéia atacou minha cabeça, e era brilhante!
Eu tinha trazido um frasco de sonífero para o caso de não conseguir dormir. Se eu o desse para Cristopher, ele beberia e dormiria instantaneamente, depois eu deitaria ao seu lado, somente de camisola, a criada de quarto dele entraria no quarto e em seguida sairia para espalhar a fofoca, esta chegaria aos ouvidos do rei e da rainha, que obrigariam Cristopher a se casar comigo, já que esta era a etiqueta de uma boa família real. Comecei a rir sozinha, enquanto esperava a hora de dormir de Cristopher chegar logo . Quando finalmente chegou, pedi para a minha criada de quarto onde era o quarto do príncipe Cristopher, pois inventei que tinha de entregar uma carta dos meus pais a ele. Ela me informou onde era e eu fui pra lá. Bati na porta, bati na porta e quem abriu foi a criada intrometida, Rebecca. Passei por ela empurrando-a, como se não estivesse ali, e adentrei o quarto.

-Cristphinho, precisamos conversar. -Eu lhe digo. -E você, vá buscar um suco para nós.-Eu digo à criada e ela sai obedientemente.

-O que você quer comigo?-Ele me pergunta.

-Precisamos conversar sobre as flores de nosso casamento. -Invento.
Ele faz uma cara de raiva.

-Amelia, entenda uma coisa- Diz.-Eu não quero e nem pretendo me casar com você.
A criada entra com duas taças de suco de laranja e os coloca em cima de uma mesinha.

-Ótimo, agora saia.-Eu digo à ela.

-Posso usar seu banheiro?-Pergunto a Cristopher.
Ele faz que sim com a cabeça.
Eu entro, fecho a porta e começo a gritar. Cristopher vem e eu saio do banheiro.

-Uma aranha! Mate esta besta horrível!-Eu Berro.
Enquanto ele procura uma aranha que não existe, eu ponho meu plano em ação, despejando o sonífero em um dos copos.
Cristopher sai e diz que a aranha deve ter fugido. Eu alcanço o suco e ele bebe. Se senta na cama e me pede para prosseguir com a conversa. Eu continuo falando sobre as flores, magnolias e girânios. De repente ele se deita e leva a mão à cabeça. Eu peço o que ele tem e ele diz que deve ser uma queda de pressão. De repente, sem aviso prévio, adormece quando já está escuro. Eu começo a me despir, até ficar só com a camisola e a anágua. Arrumo Cristopher em uma posição confortável e deito em cima de seu braço, fico quieta até adormecer. "Amelia, você é a melhor" digo a mim mesma.

O Príncipe e a ServaOnde histórias criam vida. Descubra agora