O príncipe, devo admitir, era totalmente o contrário do que eu achei que fosse.
Era compreensivo e humilde, não se achava melhor que eu. Devo admitir também que nunca havia preparado um banho para alguém. Muito menos para um príncipe num banheiro real de um castelo real. Era quase lindo, aquela banheira enorme e cintilante, aqueles frascos cheios de misteriosos líquidos coloridos e cheirosos. Como o príncipe Cristopher havia me dado a liberdade de escolher o que pôr na água, escolhi as essências de lavanda, morango e arruda, minhas favoritas.
Esperei o príncipe entrar no banheiro e depois saí. Ele elogiou a escolha das fragrâncias e agradeceu, eu agradeci também. Mas não foi isso que me surpreendeu, foi o que ele perguntou em seguida.-Ei Rebecca!- Exclamou .
-Sim, alteza?-Respondi.
-Posso lhe chamar de Bec?- Ele perguntou, meio embaraçado.
Bec? Bec? Bec?! Ninguém me chamava assim desde que minha mãe havia falecido, e isso me trouxe uma enorme nostalgia e uma saudade ainda maior da minha mãe.
Ela havia falecido quando eu tinha 10 anos de idade, deixando o dever de cuidar de mim e da minha irmã para o meu pai. Desde então ninguém me chamava de Bec. Não sei se era por que eles não queriam se lembrar da mamãe ou se não era para lembrar a mim sobre a mamãe.-Bec? Claro, é uma ótima idéia.- Respondi pateticamente.
O príncipe Cristopher sorriu com os lábios carnudos e fechou a porta atrás de mim. Saí do quarto em direção à lavanderia para levar as roupas que estavam na bacia. Passei por uma porta na qual uma criada de rosto redondo com cerca de vinte e cinco anos chorava histericamente, murmurando "eu não sei mais o que fazer com ele...eu o amo, mas está difícil continuar." Enquanto duas outras criadas a consolavam e limpavam suas lágrimas. Elas perceberam que eu observava e arregalaram os olhos. A criada que estava chorando recuperou a postura rapidamente, levantou da cadeira e ajeitou o uniforme igual ao meu.
-Ah... bom dia senhoras!- Eu lhes disse.
-Bom dia! O que procura por aqui?- Disse uma das criadas que consolaram a que estava chorando.
-A lavanderia.-Falei rapidamente.
-Lá embaixo, no andar térreo.-Disse ela bruscamente.
Eu desci ao térreo e cheguei à lavanderia, que era uma grande confusão de roupas, varais para roupas e perfumes para roupas. Na maioria das famílias, não na minha, usava-se urina para lavar as vestes.
Coloquei as roupas do príncipe Cristopher em um dos tanques, peguei uma pedra-sabão e comecei a esfregar uma calça quando ouvi alguém falar por cima do meu ombro.-Deixe isso comigo. -falou.
Virei para trás e me deparei com um garoto mais ou menos da minha idade. Tinha cabelos louros cacheados, olhos negros e o maxilar quadrado.
-Prazer,Thomas Breed.-Falou e me estendeu a mão.
Peguei sua mão educadamente e respondi:
-O prazer é todo meu, me chamo Rebecca Bones.
Ele me olhou por longos instantes e me senti desconfortável. Voltei ao meu serviço, me sentindo mal por ignorá-lo.
-Se você segurar a pedra-sabão desse jeito, vai acabar lavando a roupa com seu sangue diluído na água. Deixe-me mostrar como se segura.
Aquele sujeito já estava soando um pouco exibido demais. Mas decidi deixá-lo me mostrar como se segurava a pedra-sabão.
O jeito como ele segurava era basicamente igual ao meu. "Legal", pensei, "ajudou muito".-Está bem, muito obrigado pela demonstração. -Disse a ele, dispensado-o.
-Ahm... Está bem, obrigada pela conversa. -Respondeu, meio desapontado.
Continuei a esfregar a pedra nas vestes, pensando em como ficariam tingidas com meu sangue.
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O Príncipe e a Serva
Romanceprólogo "Naquele dia pálido e triste, ela chegou como se fosse o sol, se destacando de todo o cinza e do marrom e do verde apagado. Era simplesmente o que faltava para tornar a paisagem perfeita, tão perfeita que nem parecia alguma coisa possível de...