.::Capítulo 4::Cristopher

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O programa naquele dia com a minha noiva indesejada era um passeio pelo bosque do reino.
Eu queria usar minha calça bege, por ser leve e confortável. Mas me lembrei de ter visto a criada Bec carregando-a junto com as outras roupas sujas da bacia.

Ouvi a porta do quarto gemer e avistei o rosto delicado de Bec espiando educadamente por uma festa na porta.

-Senhor? Será que eu posso entrar?-Perguntou-me.

-Que? Ãh..?Claro, entre. -Respondi pateticamente, absorto em meus pensamentos.

Ela abriu a porta, entrou e fez uma reverência.

-O que eu disse sobre as reverências, Bec? -Perguntei, em tom desafiador.

-Ah...Perdão senhor, eu havia me esquecido. -Respondeu, envergonhada.

Bec deixou as roupas em cima da cama enquanto abria o armário. Eu avistei a calça bege que queria muito usar. Mas então encontrei outro problema...A calça não combinava com a camisa e o paletó que eu havia escolhido.

Uma idéia ocorreu na minha cabeça. Rebecca era uma garota, certo? E garotas tinham mais conhecimento sobre estilo do que os garotos. Tomei coragem e disse :

-Bec? Você poderia me ajudar numa questão meio...peculiar?

Ela pareceu confusa, mas respondeu:

-Claro alteza, estou aqui para ajudar no que você quiser ou precisar.

-Você vai achar isso meio estranho, mas diga-me, qual camisa e paletó combinam com essa calça bege e larga?-perguntei a ela.

Ela começou a tirar roupas de dentro do armário, falando sozinha, enquanto montava uma combinação de roupas em cima da cama.

Ela escolheu uma camisa branca simples e um paletó que eu não usava havia usado por achar feio, mas naquela combinação ele havia ficado perfeito. Era como juntar peças de um quebra-cabeça. O paletó era de um tom azul-anil e me deixava mais robusto quando vestido. Fui até o banheiro e pedi para Rebecca me esperar no quarto enquanto experimentava a roupa que ela havia proposto. Me vesti, pensando se ficaria atraente e saí do banheiro.

-Então? Pareço um príncipe?-Perguntei.

Ela deu uma risadinha delicada e chegou mais perto. Havia duas semanas que ela trabalhava como minha criada de quarto e eu nunca havia reparado em uma coisa: o cheiro dela. Uma mistura alucinante de arruda e laranja, era simplesmente o melhor cheiro que eu já sentira na minha vida.

-O senhor só precisa tomar mais cuidado com a gola da sua camisa.-Disse, me trazendo de volta à terra, enquanto ajeitava meu colarinho.

Nossos olhares se encontraram, os meus olhos castanhos eram sondados pelos verdes dela, fomos chegando mais perto...eu conseguia sentir seu coração bater junto ao meu peito...
Então de repente a porta se abre, e minha mãe, a própria rainha, adentra meu quarto e grita:

-Cristopher! A sua noiva está esperando no salão principal e nada de você aparecer! Você sabe que eu e seu pai demoramos muito para arranjar um bom casamento a você! E não vai ser agora que você vai estragar tudo!

-Sim mãe, eu já estava descendo!- Eu lhe respondi.

Ela desceu e eu fui atrás, evitando olhar para o rosto de Rebecca.

* * *

Chegando ao salão principal, me deparo com minha noiva indesejada vestindo algo que parece um bolo de casamento gigante. Cheio de "frufrus", como babados, rosas de tecido e pérolas. Tudo misturado num enorme furacão cor-de-rosa.

-Bom dia, Cristphinho!-Ela diz com uma empolgação exagerada, o que só piorava para a sua voz ficar irritante.

-Bom dia, srta. Amelia.-Eu digo, entediado.

Ela estica a mão para mim beijá-la. Eu o faço.

Ela dá um sorriso falso e diz:

-Vamos, não quero me atrasar mais!

Partimos em direção às carruagens, Amelia segurando o meu braço e soltando risinhos maliciosos.
Ela escolhe a carruagem mais chamativa, com quatro cavalos brancos e rodas douradas.

-Sabe Cristphinho, minha mãe me levará escolher meu vestido de noivado semana que vem, e eu acho que...-Ela disse, mas eu não estava prestando atenção, minha mente estava em outro lugar, em outra pessoa, em outra garota.

Para meu alívio, chegamos ao bosque. Eu sempre gostei do bosque, quando era criança, Norman, o criado, me levava para lá tomar banho no lago sem meus pais saberem, sobre a alegação de que iria me levar apenas para respirar um ar puro. Mas hoje o bosque parecia o pior lugar do mundo. Eu sabia que era por causa da companhia desprezível de Amelia Dickens. Fomos caminhando em direção ao lago, enquanto Amelia tagarela algo sobre sapatos abertos e como eles valorizam suas pernas. Eu respondo apenas "sim", "não" , "aham" , "concordo". Ela não parece se incomodar. Nós sentamos em um banco de madeira perto do lago. Amelia continuava falando pelos cotovelos. Mas eu só pensava no que tinha acontecido entre mim e Rebecca. Parecia que estávamos conectados de algum modo, por algum fio que nenhum de nós conseguia ver. Eu não via a hora de ir embora, embora do bosque, embora da companhia de Amelia, embora deste mundo.

O Príncipe e a ServaOnde histórias criam vida. Descubra agora