Como que de impulso, eu me ajoelhei ao lado da perna direita de Rebecca e fui com a boca em direção à mordida. O gosto metálico de sangue invade minha cavidade bucal agressivamente.
O pequeno lago de onde recolhemos água não se encontrava longe dali, alguns metros e eu estaria lá.-Bec? Você está bem?- Perguntei.
-Estou muito melhor agora, mas ainda sinto muita náusea.-Vamos nos banhar e trocar as roupas. Eu vi que você trouxe mais algumas na bolsa.
-Mas eu só trouxe para você.
-Você pode usar uma roupa minha, não tem problema.
-Está bem então, mas você vai ter que me ajudar a andar, minha perna inteira continua doendo muito.
-É claro que eu ajudo você.
Ela estendeu o braço e eu o peguei, ajudando-a a se levantar. Ela fica pálida e cambaleante.-Estou muito fraca.- Murmura.- Preciso comer alguma coisa.
Apanho em uma das bolsas algumas frutas e as entrego a ela, que começa a comer com selvageria.
Eu rio.-O que foi?- Ela diz, ainda com a boca parcialmente cheia.
-Nada, só achei engraçado o modo com que você começou a comer.
-Quando se está com fome ninguém presta atenção à etiqueta.
De repente me sinto muito mal. Eu sabia que Rebecca era uma camponesa pobre, porém jamais passara fome, pois tinha um pai muito trabalhador. Mas com certeza já havia visto muitas pessoas, até crianças, praticamente morrendo de inanição. Cenas de crianças em pele e osso, pedindo esmola na beira das estradas me vieram à mente. É claro que agora as coisas estavam diferentes, com meus pais no trono, mas na época em que Rebecca e eu éramos crianças as condições eram bem piores, o dinheiro do reino era curto. Então começamos a produzir e exportar aveia de boa qualidade, e as coisas melhoraram para todo o reino. Os camponeses conseguiram construir suas casas, alimentar seus filhos e viver bem, comparado ao que viviam antes.-Você está bem?- Rebecca interrompe meus pensamentos, ela acabara de comer.
-Sim, eu só estava... devaneando.
-Pensava no que?- Perguntou enquanto caminhávamos em direção ao lago, ela apoiada em um dos meus braços.-Num passado aparentemente distante...- Eu não queria falar sobre aquilo, as imagens que me vinham à mente causavam repugnância.
Por sorte chegamos ao lago.-Podemos assar aquele esquilo se você quiser.- Ela disse.
-Ah... Claro! Estou com fome.- Digo eu me apressando a pegar o esquilo na bolsa e começar a prepará-lo.
-Ei Cristopher! Olhe!- Gritou Rebecca de repente. A voz parecia feliz e um tanto esperançosa.
Olhei em direção ao que o dedo dela apontava. Vi apenas o chão com algumas plantas que não havia visto em lugar algum da floresta, porém eu não sabia o que eram.-O que é isso?- Perguntei.
Rebecca pareceu desapontada.-São batatas, e não são selvagens.
Ela arrancou o caule das plantas, revelando a nodosa raiz. Um sorriso iluminou seu rosto.-Sabe o que isso significa?- Perguntou para mim, ainda sorrindo.
Eu me sinto um idiota. Não fazia idéia do que significava.-Essas batatas não são selvagens- Começa a explicar.- Então como elas vieram parar aqui?
Minha mente começa a abrir os olhos.
Eu também sorrio. Aquelas batatas pertenceram antes a uma plantação, mas foram descartadas para longe por um motivo ou por outro. Uma plantação significava civilização, civilização significava pessoas.
Isso!
Estávamos perto do Quartel General.
Eu também sorrio. Aquelas batatas pertenceram antes a uma plantação, mas foram descartadas para longe por um motivo ou por outro. Uma plantação significava civilização, civilização significava pessoas.
Isso!
Estávamos perto do Quartel General.-Eu sou Rebecca Bones, filha de Edgar Bones. E este é o príncipe Cristopher.- Diz Rebecca calmamente.
-Edgar Bones? O Ed? Marido de Cassia Tchanowsky?- Pergunta a mulher, sua voz cada vez mais próxima.
-Isso mesmo, você conhecia meus pais?
A mulher sai do meio das árvores e vejo que ela trouxe consigo mais duas pessoas, que revelam seu rosto um pouco depois.
A mulher que falara com Rebecca possuía os cabelos mais louros que eu já vira, era magra, os braços eram musculosos e tinha cerca de cinquenta anos de idade, com uma aparência severa. Ao seu lado se encontravam um garoto e uma garota. O garoto era alto, pálido e musculoso. Os cabelos raspados muito negros e o rosto encovado, parecia ter cerca de vinte anos. A garota era uma bela negra, os cabelos pretos trançados com capim e flores, o corpo forte e musculoso, a expressão rígida.
A mulher loira sorri e se aproxima de nós, estendendo a mão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Príncipe e a Serva
Romanceprólogo "Naquele dia pálido e triste, ela chegou como se fosse o sol, se destacando de todo o cinza e do marrom e do verde apagado. Era simplesmente o que faltava para tornar a paisagem perfeita, tão perfeita que nem parecia alguma coisa possível de...