Acordei com a luz do sol açoitando meus olhos, alguém deixara a cortina aberta. Não lembrei como dormi, só me lembro de ter visto Amelia e Rebecca em meu quarto. Parei de pensar e senti algo sólido ao meu lado na cama...Viro e dou de cara com Amelia Dickens, só de camisola! Mas como ela entrou em meu quarto?
De repente, vejo Rebecca entrar no quarto, trazendo toalhas limpas, mas as deixa cair assim que vê a cena na cama. Amelia acorda com o movimento brusco que eu faço. Em menos de um segundo, vejo Rebecca saltar para cima de Amelia, e começar a socar seu corpo e puxar os cabelos. Amelia tenta se defender, mas parece que não é páreo para Rebecca. Fiquei tão concentrado observando a cena, que esqueci de fazer a coisa certa.
Tento separar as duas, mas era tarde demais, o nariz de Amelia já expelia duas pequenas cascatas de sangue, e ela chorava e gritava, enquanto tentava se desvencilhar dos golpes de Rebecca. Consigo segurar Bec por trás, agarrando seus braços, até ela se acalmar. Alcanço um lenço para Amelia e ela limpa o nariz.-Você não pense que isso vai ficar assim, criadinha nojenta!- Amelia grita histericamente para Rebecca. -Eu vou arruinar sua vida!
-Estou com muito medo de uma mentirosa impura como você. -Rebecca diz com sarcasmo.
Eu digo para as duas pararem de brigar. Amelia sai do quarto com o lenço ainda no nariz, parecendo realmente muito zangada, e bate a porta com força quando sai.
Me viro para Rebecca.-Você não podia ter feito isso, foi insensato. Agora ela vai fazer de tudo para você perder o emprego. -Digo-lhe com calma.
-Eu sei, Cris, mas eu não podia deixar ela se aproveitar de você desse jeito, ela quer se casar com você a qualquer custo. -Ela responde, desesperada.
Eu a abraço.-Eu sei, ela é uma estúpida pervertida.
-Eu te amo muito, não posso deixar que qualquer pessoa te faça de bobo e arruine sua reputação, não enquanto eu estiver viva.- Ela diz, com carinho.
-Não fui eu que quis fazer isso...-Comecei a me explicar.
-Eu sei... você não seria capaz de tal barbárie.-Ela responde com calma.
Eu a beijo suavemente, como se não houvesse nada além de nós dois no planeta.
-Vamos fugir Rebecca.-Digo-lhe baixinho.
-Estava pensando nesta possibilidade.
-Vamos arrumar um emprego, bem longe daqui, em uma cidade pequena, onde ninguém nos reconhecerá. Vamos arranjar um lugar pequeno e simples para morar, e seremos felizes...-Digo, pensando na possibilidade real de fugir do reino levando Rebecca.
-Podemos morar até na floresta, já que qualquer lugar é melhor que aqui. -Diz indignada.-É tão horrível quando não podemos ser nós mesmos para agradar os outros.
Nos afastamos bruscamente, pois ouvimos passos no corredor. E então, Amelia aparece na porta, junto com o chefe dos criados.-Fui informado de que a senhorita Rebecca Bones agrediu um membro da realeza, sendo este a senhorita Amelia Dickens. -Disse ele, com sua voz grave.
-Sim senhor, eu agredi a senhorita Amelia.-Rebecca vai se adiantando a explicar.-Mas o erro dela não foi maior que o de Amelia.-Digo em sua defesa.
O chefe dos criados me ignora.-A sanção será aplicada normalmente, já que é o que consta nas regras, a senhorita Bones será condenada à execução.
As palavras ficaram suspensas no ar. O silêncio era tanto que praticamente dava para ouvir as batidas do meu coração. Parecia que o tempo havia parado. Olhei para Amelia, cujo rosto exibia um sorriso triunfante, de orelha a orelha. Em seguida olhei para Rebecca, que estava tão pálida que chegava a ser transparente, os olhos fixos em um ponto distante, mas eu sabia que ela não estava realmente ali, estava em casa, pensando na irmã e no pai que tanto amava.
Recobrei a consciência.-Eu não vou permitir que isso aconteça, não enquanto eu estiver vivo. -Eu digo lentamente. -Ah, que pena - Diz o chefe dos criados sarcasticamente. -Então teremos que matar você também.
Ele arranca o sobretudo preto e exibe uma camisa vermelha com um símbolo, eu já havia visto este símbolo antes, uma foice e um tridente cruzados, com dois galhos de trigo ao redor, formando um arco. Era o símbolo dos rebeldes que haviam se rebelado contra meu avô, e que agora esperavam se vingar de meus pais.
-Saia daqui! Ou eu chamo os guardas! -Gritei para ele.
Amelia arranca o espartilho, deixando à mostra o mesmo símbolo dos rebeldes. De repente, mais dois deles entram pela janela. Eu grito para Rebecca se proteger, mas não consigo fazer isso no tempo ideal. Um dos rebeldes segura ela pelos braços e prende ela numa cadeira. Ela grita histericamente. O outro rebelde tenta fazer o mesmo comigo, mas eu consigo me desvencilhar de seus braços musculosos, pego uma espada atrás do armário e começo a golpeá-los. Eles desembainham espadas mais largas que a minha, porém menores em comprimento.
Mas são mais habilidosos do que eu com as espadas, o que me deixa em desvantagem, além de eu ser só um, é claro.
Onde estariam meus pais agora? E os outros criados? Será que os rebeldes só entraram em nosso quarto? Eu preferia que sim, mas sabia que a probabilidade era baixa. Continuei lutando e me desviando das espadas curtas que tanto queriam me acertar.
Até que uma finalmente conseguiu e me acertou na região das costelas, eu só percebi quando senti uma dor súbita e excruciante. Rebecca não estava mais amarrada na cadeira e a corda havia sido rompida, não sei como ela conseguira. Vi que a porta do banheiro havia sido fechada, embora antes ela estivesse aberta, "ainda bem que se escondeu, assim estará segura", pensei agradecido. Acertei o braço de um dos rebeldes e ele urrou, nessa altura, eu já conseguia sentir a visão turvar e a pressão arterial despencar. Continuei lutando até começar a cambalear e suar frio. Então despenquei no chão, mas antes de desmaiar, consegui ver um clarão de fogo e sentir um cheiro agradável, porém distorcido de sua forma original. Arruda e laranja em chamas.

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O Príncipe e a Serva
Romanceprólogo "Naquele dia pálido e triste, ela chegou como se fosse o sol, se destacando de todo o cinza e do marrom e do verde apagado. Era simplesmente o que faltava para tornar a paisagem perfeita, tão perfeita que nem parecia alguma coisa possível de...