O homem subiu ao palco olhando para todos como se fossem vermes. Ele ajeitou o uniforme cinza de guarda, passou as mãos no cabelo calvo e tossiu fraco antes de começar a falar. O crachá preso em seu uniforme dizia que seu nome era Stanlee Forward, além dele haviam mais oito guardas, - dois próximos ao palco e os outros espalhados pelo lugar, diferente de num dia comum que haveriam apenas cinco guardas no pátio.
- Silêncio. – O homem pediu diante dos burburinhos.
Charlotte encarou uma das paredes brancas e começou a pensar, ignorando absolutamente tudo que o homem começara a dizer. A única coisa que chamou brevemente sua atenção de tudo que ele falava foi que os meninos com - ou que completarão – 17 anos podem se tornar guardas, se alistando nas próximas semanas – após um treinamento especifico e etc -, então Charlie novamente se desligou de tudo que estava sendo dito.
Poderia se dizer, sobre os amigos de Steve, que não eram completos idiotas, e sim, pessoas como Steve. Bem, ao menos Charlotte passou a considerá-los assim, e o que seriam pessoas como Steve para ela? Pessoas que carregam alegria mesmo nos piores momentos, confiáveis, leais, e que nunca escondem o sorriso. Seu pai fazia parte desta categoria. Lembrar-se dele naquele momento, durante a palestra, enquanto ignorava tudo que era dito, fez com que sua feição mudasse, e Steve notou aquele fato.
- Hey. - Ele chamou baixo e a cutucou. - O que foi?
- Nada. - Ela disse, tentando controlar sua voz.
- Olha, os garotos podem parecer irritantes e chatos, mas no fundo são pessoas legais.
- Não tem nada a ver com os garotos, Steve. - Charlotte olhou para um ponto específico, uma mancha no teto.
- Então o que é?
- Meu pai. - Ela murmurou e esperou que ele dissesse algo, mas apenas sentiu ele segurando sua mão, e a mesma deixou que ele fizesse, não queria brigas agora, só queria ser reconfortada. Queria um abraço de Kallie e que Steve continuasse ali, mesmo tentando negar, era o que ela queria.
Kallie que estava ao lado de Steve não pode deixar de vê-lo segurando a mão de Charlotte e soltou um riso que logo tentou abafar com as mãos, o que chamou a atenção dos garotos a seu lado, porém a mesma os encarou de tal forma que eles não conseguiram dizer nada a respeito.
Ao fim, todos estavam indo embora mais cedo, alguns em grupo, outros sozinhos. Steve e os garotos insistiram em acompanhar as meninas até em casa, mesmo com todas as reclamações de Charlotte.
A palestra havia sido entediante, tanto para Charlotte e Kallie quanto para os garotos. O único assunto realmente relevante era que o toque de recolher havia mudado, agora para mais cedo, antes era às 22, agora às 20 - e mesmo assim só poderiam estar na rua quem estivesse voltando para casa do trabalho ou da escola.
E o segundo turno havia sido cancelado - o que foi dito pela coordenadora -, ou seja, mais alunos apareceriam. Talvez não tenha explicado bem, leitor, como funcionavam os turno. O da manhã iniciava-se às 7:30 e o da tarde às 13:30, os da manhã saíam às 16:30 e os da tarde às 22:30, mas bem, agora isso não faz mais diferença, me encorajo a dizer. Os motivos que levaram ao cancelamento e a mudança no toque de recolher? Ninguém sabe, e não ousam perguntar, o que foi dito já está feito e nada mudaria o fato.
- Ali! – Kallie apontou. – Aquela é minha casa, e ao do outro lado da rua é a da Charlie.
- Vocês não enjoam de ver a cara uma da outra, não? – Mark perguntou rindo.
- Ah, eu enjoo de ver a cara desses dois aqui. Com certeza. – Steve disse.
- Imagina a gente? – Owen disse, brincalhão.
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A Menina da Conspiração
Science Fiction🔹🔹Segundo Lugar em Ficção Científica nas Olimpíadas Literárias🔹🔹 O mundo foi dividido em pequenas comunidades, na verdade é só um nome mais bonito para aquelas prisões, onde ninguém tem escolha, onde ninguém vive de verdade. Numa soci...