Capítulo Dezoito

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O vento frio soprava o cabelo de Charlotte o trazendo para sua face, impedindo seus olhos de verem a mistura de cores no céu ocasionada pelo pôr do sol. Charlie fechou os olhos, e tentou estabilizar sua respiração após a corrida, agora se encontrava sentada no chão de terra próximo ao início das cercas.

Inspire. Expire. Deixe as coisas ruins irem. Ela pensou.

Tentou espantar os pesadelos, mas as imagens continuavam a passar por sua mente. Ela tentara o truque de imaginar que sua mente era um grande armário cheio de gavetas, e que seus pensamentos poderiam ser colocados dentro dessas gavetas, e estas, fechadas e trancadas, não permitiram que eles viessem à tona novamente. Mas, naquela ocasião, não dera certo.

Seus passos ecoavam pelo corredor escuro e vazio. Passos cautelosos. O cabelo lhe caía em frente ao rosto, o que a fazia levar a mão até ele o colocando atrás da orelha frequentemente. A vontade que tinha era de dar meia volta e voltar para onde quer que tenha saído. Mas, algo lhe atraía e impedia que desse passos para trás.

Fragmentos do pesadelo se faziam presentes em sua mente, vindo e indo. Não queria se lembrar daquilo, não queria pensar, queria esquecer, queria tirar aquilo de sua mente e afastar aquela sensação ruim do peito. Mas sua mente, como já disse talvez até repetidamente, não a obedecia, e continuava a trazer o pesadelo à tona como que para tortura-la.

Ela olhou para trás, o nada infinito seguia pelo corredor, e à frente, bem ao longe, era possível ver uma porta iluminada por uma luz fraca. Havia alguma substância líquida abaixo de seus pés, mas não dava para ter certeza do que era naquela escuridão. Ela se abaixou para tocar e molhou a barra do vestido que usava, seus dedos levemente molhados lhe indicavam que era água, então ela os secou no vestido e continuou a andar.

- Não. – Charlotte sussurrou, num tom implorativo. Fechou os olhos com força, criando um vinco entre as sobrancelhas. Mas de nada adiantara, a cena continuou em sua mente.

A porta cada vez mais perto, poderia ser a saída que precisava, ou só um quarto sem saída. Seu passo lento se tornou apressado diante ao suposto fim, ela parara de olhar para trás pois o medo do escuro a cercava lentamente, como uma fumaça se aproximando lentamente até toma-la por completo impedindo sua visão clara da situação. Três passos e ela estava próxima o suficiente da porta para abri-la. Sua mão se dirigiu devagar até a maçaneta. A ponta dos dedos tocando o metal frio. A mão envolveu a maçaneta, pronta para girá-la. O rangido da porta sendo aberta ecoou pelo corredor.

- Por favor. Por favor. – Charlotte pediu, fazia tanta força fechando os olhos agora que quase chorava. Precisava espantar aquilo. As mãos cavavam e apertavam a terra.

Charlotte estava sozinha ali, enquanto o sol ia embora devagar, ela permanecia no chão de olhos fechados. Aquele, de fato, fora o pior dos pesadelos que tivera pois fora o mais real dentre eles. Ela podia sentir tudo, era como se estivesse lá.

Finalmente abriu a porta, era escuro demais para saber se era um corredor ou um espaço amplo.

Ela socou o chão, algumas lágrimas solitárias escorreram por seu rosto, deslizando pelas bochechas e queixo até chegarem ao solo como gotas de chuva molhando a terra, pois ela sabia o que viria a seguir.

Seus pés a guiaram, passos depois de passo, havia mais água ali. Estendeu os braços buscando as paredes ou algo em que pudesse se apoiar na tremenda escuridão. Mais passos. E tropeçou em algo, indo em direção ao chão, usou as mãos para absorverem a queda e assim não bater a cabeça. Ainda no chão se arrastou até ao que tinha tropeçado, tateando tentando descobrir o que era, lentamente percebeu que se tratava de um corpo. Suas mãos se aquietaram, e ela se enrijeceu, um frio lhe subindo a espinha. Mas algo a fez prosseguir, o corpo estava virado com as costas para cima, então o desvirou.

No instante seguinte uma luz forte se fez presente iluminando o corpo e toda a sala. O corpo no chão era, na verdade, Darius. O que outrora parecia ser água, eram poças de sangue, que se espalhava pelas barras do vestido surrado de Charlotte, assim como em suas mãos. Ela se afastou assustada, alternando entre olhar para as mãos sujas de sangue e o rosto de seu pai, morto. Ela deu um passo em falso e caiu sobre o sangue. O desespero tomando conta, a forte dor e as lágrimas que ao cair no chão se tornavam sangue. Ao olhar para a porta vira J.L.C. escrito também com sangue. Ela tentara secar as lágrimas, mas...

- Já chega! – Charlotte gritou afastando-se da lembrança vívida do sonho. Interrompendo o silêncio de fim de tarde e abrindo seus olhos desesperada pela realidade. A dor no peito e a dificuldade de respirar trazida pelo sonho ao acordar a acompanhava novamente neste momento. – Não é real, não é. – Ela repetia para si mesma, tentando se convencer.

Naquela noite enquanto tinha este pesadelo, sua mão se dirigira ao lugar onde ficava seu coração, tentando tirar aquela dor excruciante que a fizera despertar de seu sono, e a mesma dor a perseguia agora. Ela buscou ar, inspirando e expirando, tentando se manter no controle de seu corpo. Sua mão tocara seu braço nu, chegando até seu pulso, nele se encontrava uma pulseira, sua mão a envolvera buscando alguma paz. A pulseira era simples, fios trançados presos a um pingente de asas. Ela se agarrara àquilo como se fosse o que a mantinha viva, fechando os olhos, enquanto a lembrança do dia em que ganhara o presente tomava sua mente...

Steve prendera a pulseira a seu pulso enquanto ela estava de olhos fechados. "Pode abrir." Ele disse sobre seus olhos. "Feliz aniversário, Char." Ela lhe encarara com um sorriso contido e tocou com delicadeza o presente. "Obrigada." Deixara solto no ar, dito junto à um suspiro. Um abraço dado valia mais do que as palavras que poderiam ser ditas. Um sorriso de canto já era suficiente como agradecimento.

Ela voltara ao momento presente como que saindo de outra dimensão, sua respiração agora leve, simples e fácil, a dor em seu peito se esvaíra completamente deixando apenas um formigamento na espinha. O sol já havia deixado o céu, a lua se mostrava brilhante, mostrando seu breve domínio, as estrelas como súditas, elas piscavam como se contassem segredos entre si.

Charlotte olhara para a pulseira uma última vez antes de deixar o local em direção a casa, sua mão continuava brincando com o presente, era sua conexão com o que há de bom, uma conexão física e presente. À cada passo, afastava ainda mais a lembrança do pesadelo, o prendendo num lugar profundo de sua mente, num baú que seria jogado ao mar. A casa, que era vista no fim da rua, nunca lhe parecera tão acolhedora antes, lhe convidava a entrar e permanecer segura por tempo suficiente.

Olá, conspiradores! Aqui vai mais um capítulo! Desculpem a demora a postar, está tudo muito corrido. Mas então, o que acharam deste capítulo? O que será que realmente aconteceu ou acontece com o pai da nossa Char? Será que o pesadelo dela tem alguma verdade? Me digam suas teorias do que pode acontecer! Obrigada por lerem e até a próxima! <3

A Menina da ConspiraçãoWhere stories live. Discover now