Sua respiração fazia mais barulho que o esperado e seus passos a traíam. Parecia alto demais, como se tudo estivesse amplificado, como se ela chamasse pelo perigo. A relva alta à sua volta era capaz de esconde-la, mas não bem o suficiente. Ela podia vê-los próximos. A Casa se erguia à poucos metros, e haviam cercas elétricas que demarcavam o caminho até lá, apesar de ser um espaço amplo o suficiente para a passagem de um caminhão, continha perigo na mesma intensidade do que se fosse um caminho íngreme.
Agora tão próxima podia ver com detalhes A Casa. Era madeira velha e podre e uma placa com os dizeres "Punição" estava pendurado sobre a porta. Havia uma escada de quatro degraus que levava à uma pequena varanda coberta por telhas quebradas, a semelhança com a casa de um menido era tão grande que Charlotte cogitou a ideia de que antes poderia ser o lar de um deles.
A garota enfiou a mão em um dos bolsos da calça e retirou de lá um papel dobrado diversas vezes. Ao abri-lo observou a diferença entre a Casa à sua frente e o desenho que fizera da parte mais próxima que já chegara, o Campo das Lamentações. O desenho não possuía os detalhes como o tapete em frente à porta, a madeira quebrada e fraca, a sujeira que invadia o local e a pouca luz que entrava ali.
Charlotte encarou aquele lugar e pensou em seu pai. De repente, não conseguia mais mover seus pés, seu coração batia descompassado e suas pernas tremiam de tal forma que ela sentia que cairia a qualquer momento. Quando algo pior aconteceu.
Três dias antes
Charlotte os encarava de olhos semicerrados numa distância considerável, boa o suficiente para ouvi-los. Steve e Kallie estavam frente a frente tendo uma conversa.
- Tudo bem? - Kallie o perguntou. - Você parece estranho.
- Perdoe-me, mas deveria seguir para sua sala - Ele respondeu, não foi grosso, mas era como se não a conhecesse.
- Steve, eu sei o que aconteceu e sei que estava tentando proteger a Charlie - A garota tentou novamente. - Não precisa fingir.
- Quem disse que estou fingindo? - Ele a encarou. - Não seja estúpida, garota. Eu não estava tentando proteger Charlotte, estava fazendo meu trabalho.
- Steve...
- Guarda Trustworth - Ele a corrigiu.
- Por que está fazendo isso? - Kallie franziu o cenho. - Por que finge que não somos amigos?
- Nós não somos. Nunca fomos - Steve a encarou. - Eu que só notei agora.
- Não faça isso - Kallie disse, como um pedido.
- Estou pedindo com educação para se afastar, da próxima vez não serei tão paciente - Trustworth disse.
Kallie assentiu e se afastou, seus pés deslizavam sobre o chão do pátio e os alunos se enfileiravam para entrar na sala. Charlotte finalmente saiu do canto em que se encontrava para ir até ela.
- Eu te disse - Charlotte se posicionou na fila atrás de Kallie.
- Eu sei, você me contou o que aconteceu, mas não dava para acreditar que era verdade.
- Eu não menti, Kallie.
- Eu sei! E acredito em você - Kallie mordeu seu lábio inferior, - só não conseguia imaginar aquilo.
- Desde o início, quando ele se inscreveu no treinamento para guarda, eu disse o que ia acontecer - Charlotte entrou na sala e se dirigiu para seu lugar, dando por encerrada a conversa.
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A Menina da Conspiração
Ciencia Ficción🔹🔹Segundo Lugar em Ficção Científica nas Olimpíadas Literárias🔹🔹 O mundo foi dividido em pequenas comunidades, na verdade é só um nome mais bonito para aquelas prisões, onde ninguém tem escolha, onde ninguém vive de verdade. Numa soci...