#344

114 8 0
                                    

O Impossível e o Possível.

Mas... Como assim o Jantar foi cancelado? Eu sei que não queria ir e muito menos organiza-lo, mas nunca quis que isto acontecesse. Agora sinto-me bastante culpada por odiar tanto estes jantares.

"Mas porquê?"
"Acontece que surgiu uma grande tempestade na nossa terra de natal e as estradas estão todas cortadas até ao dia de Natal. Não podemos ir e eles muito menos virem para cá. Peço desculpa, querida."
"Eu é que peço desculpa, estava tão zangada por ser eu, outra vez, a organizar tudo sozinha que me esqueci do quão importante isto é para nós, especialmente para ti."
"Não te preocupes. Por um ano, não morremos."
"Eu sei! Mas não ficas triste?"
"Triste, não digo... Mas desapontada, sim. Estava com grandes expectativas para este natal, já tinha as prendas todas compradas para oferecer aos teus primos."
"A sério? Compras-te os presentes?"
"Sim! No dia em que fui comprar comida para o vosso fim de semana."
"Uau! E eu a pensar que tinha de fazer mesmo tudo sozinha."
"Não querida, posso ser uma péssima mãe, mas não sou assim tanto."
"Não és uma péssima mãe, só és uma mãe ausente."
"Eu sei e peço desculpa por isso, porque mesmo ausente eu penso eu vocês todos os dias."
"Obrigada mãe e prometo que irei tentar resolver este enigma."
"Não vale apena querida, não podemos controlar o tempo."

Eu até podia, sou inteligente o suficiente para virar um super-vilão. Ou super-vilã* Não interessa.

Vou falar com o João, pode ser que ele consiga arranjar uma ideia.

"Não."
"O quê?"
"Eu disse que não."
"Mas tu ainda nem sabes o que ia dizer."
"Precisamente por isso."
"Eu não te compreendo, antes estavas super fofo comigo, muito protector e agora Voltaste a ser arrogante."
"Tenho os meus dias."
"Já vi que sim. Bipolaridade é o seu nome."
"O meu nome é João e aquilo é uma porta, da qual está aberta para a miss chatinha sair."
"Ok."

UGH!!! Juro que odeio quando ele fica assim, parece que se transforma numa pessoa diferente do costume. Será que é do meu perfume? Porque é que eu acabei de perguntar isto? Mas... Bolas, esqueçam.

Tenho que resolver isto sozinha, mais uma vez. Começo achar que estão sempre à minha espera para fazer as "cenas".
O que fazer? O que fazer?

JÁ SEI! Vou escrever ao Pai Natal.
Marta, mas tu tens que idade? Já não escreves pró Pai Natal à anos e tu sabes que quem recebia as cartas e respondia de volta era o pai.
Sim, o meu pai roubava as cartas às escondidas da caixa de correio e respondia no dia seguinte. Ele pensava que era um Pai Natal 5*, mas eu apanhei-o a tirar as cartas uma noite e a rir feito Grinch. Penso que seja assim que se diz... Não sei!

Seja como for... Vou fazer isso, pelo menos poupo mais tempo para pensar em mais ideias desparatadas.

"Querido Pai Natal, desculpa estar a enviar esta carta, depois de tantos anos ausente e do meu crescimento repentino, mas precisava de um grande favor seu. Eu sei que já não tenho idade para escrever cartas a pedir presentes ou um pequeno desejo natalício, mas este é mesmo muito importante e eu pretendo deixar alguém feliz se ele se concretizar. Gostava que a tempestade que se situa na minha terra Natal (não sei se é preciso dizê-lo, pois o senhor é o Pai Natal e sabe tudo acerca da minha vida, mais que os meus próprios pais) terminasse e a minha família se pudesse reunir connosco na noite de Natal. Se esse desejo fosse concretizado, agradecia imenso e a minha mãe ficaria feliz pró resto da vida.
Obrigado!

Cumprimentos, Marta Silva."

E pronto.
Escrita e bem estruturada.
Agora só preciso de escrever a morada no postal/carta e enviar prós correios.

"Mãe, eu já volto."
"Está bem, tem cuidado."

Está um frio enorme na rua que não se aguenta, acreditem. Já começo a bater os dentes e tudo, odeio isso.
Cheguei aos correios e Enfiei a carta naqueles buracos prós destinatários ou a porra, sei lá.
Nunca tinha feito isto antes, porque como já sabem, eu metia as cartas na MINHA caixa do correio e era o meu pai que as respondia. Anyway...

Voltei para casa o mais depressa possível, entrei, despi o casaco, fiz uma pequena maratona pró quarto e de seguida para a cama.
Ouvi baterem à porta...

"Posso?"

... E era o João.

"Sim, entra."
"Obrigado."

Ele fechou a porta e sentou-se na minha cama assim sem mais e nem menos. Grande lata!

"O que se passa?"
"Queria pedir-te desculpas pela atitude que tive para contigo."
"Não tem mal, se bem que foste um grande otário."
"Eu sei, por isso mesmo que te vim pedir desculpas."
"Estas perdoado, como sempre."
"Como sempre?"
"Sim! Já não é a primeira vez que me falas dessa maneira."
"Marta, há algo que te tenho de contar."
"Força, diz."
"Sabes, é que... Bem..."
"Sim...?"
"É que eu... Bem... Tu sabes... Eu estou..."

A minha mãe entra no quarto e interrompe a conversa.

"Marta, preciso da tua ajuda na cozinha se não for muito incómodo."
"Ah! Sim, eu vou já."
"Está bem!"
"Desculpa, estavas a dizer?"
"Sabes? Não era nada, deixa."
"Tens a certeza? Parecia sério."
"Tenho! Vai lá ter com a mãe."
"Está bem!"

Ele saiu do quarto com uma cara de cachorrinho triste.
Eu queria ficar feliz por o ver triste depois da maneira como me tratou à bocado, mas algo me disse que havia algo mais dentro dele para me contar e que não era nada fácil de sair cá para fora.
Tenho que descobrir o que esconde de tão valioso da minha pessoa e se era isso que estava prestes a contar, então terei que puxar mais por ele.

Fui ter com a minha mãe à cozinha e ela estava a preparar uma refeição requintada para o almoço de amanhã. Não sei porquê, deve-lhe ter apetecido cozinhar.

"Cheguei! O que precisas?"
"Preciso que cortes essas batatas enquanto dou uma olhada no forno."

Comecei a cortar as batatas, ajudei-a em mais algumas coisas e quando acabámos reparei que ela cozinhou frango assado com umas batatas meio cozidas a condizer, sem esquecer do molho extra. Já ganhei fome!!!

Mal posso esperar pelo almoço de amanhã. Desta forma não irei conseguir dormir, pois só vou pensar no Frango.

Fui-me deitar e comecei a fechar os olhos, quando ouço a porta abrir e alguém a entrar.
Estava pronta para mandar o João sair, quando uma cara pequena e doce se intercepta com o meu olhar.

"Marta, posso dormir contigo?"
Era o Ricardo. Ele fez-me lembrar o João em pequeno a perguntar-me exatamente a mesma coisa.
"S-sim, sim, podes. Anda!"

Que estranho. Porque é que me sinto mal com isto? Será que estava mesmo à espera do João para o mandar embora? Será que fiquei triste por não ser ele? Será que... Eu chegaria mesmo a mandá-lo embora?


Um Natal de ComédiaOnde histórias criam vida. Descubra agora