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'Que passeio.'


À medida que o tempo passava, o caminho tornava-se cada vez mais longo e a minha paciência mais escassa. 

"Mãe, falta muito para chegarmos?"

"Não! Mais 5 minutos e chegamos ao destino."

Destino! Eu cá não acredito muito nisso, especialmente quando se refere em locais geográficos. 

"Chegámos!"

Quando olhei ao pormenor para a janela, reparei num enorme edifício e uma placa a dizer 'Restaurante Knick'. Deva perguntar, ou?

"Mãe, eu pensava que íamos passear e não comer pela segunda vez."

"Oh! Nós não vamos comer, vamos ajudar."

Ajudar?

"Ajudar na cozinha?"

"Nada disso! Hoje é o dia do restaurante abrir as portas aos sem abrigo e nós iremos ajudar na distribuição de alimentos para eles."

Sinceramente, acho uma óptima ideia e parece que os meus irmãos também concordaram. (Desde que não metam nenhum de nós a cozinhar, já é uma boa vantagem)

"Vamos?"

"Sim!"

Assim que entrámos, um senhor sorriu e dirigiu-se logo na direcção da minha mãe.

"Ainda bem que puderam vir, precisávamos imenso de uma ajuda neste evento."

"Vai ser uma óptima oportunidade para os meus filhos aprenderem a olhar para a vida com uma versão totalmente diferente do que imaginavam." 

Mãe, nós sabemos o quão complicada a vida é, não queres mesmo saber o que nós, JOVENS, ultrapassamos todos os dias, stress após stress e decisões atrás de decisões.

"Os aventais estão em cima daquela mesa, não é obrigatório utilizarem-nos, mas se não quiserem sujar a roupa, recomendo. As mesas com a comida estão ali ao fundo, é só agarrar num tabuleiro e distribuir cada prato para cada pessoa, sem excepções. Cada pessoa come uma refeição equilibrada e numerada. Primeiro começamos pelos petiscos para dar outro sabor ao paladar, em seguida partimos para um prato de sopa, depois o prato principal e por fim a sobremesa. É claro que iremos também distribuir sacos com comida, mantas, resumidamente, roupas limpas e que possam utilizar no dia-à-dia. Só queremos entregar o suficiente que possamos para ajudar estas pessoas a terem um óptimo dia pós Natal e pré Ano Novo."

Quando o senhor acabou de me explicar tudo o que iria passar naquele dia eu fiquei estupefacta, sabiam? Este senhor é um santo, assim dizendo, porque se preocupa a 100% com as pessoas ao disponibilizar o seu restaurante por 1 dia para ajudar estas pessoas e dar-lhes um óptimo dia de risada e boa comida.

"Eu concordo plenamente com o seu plano para este dia. Também poderíamos conversar com as pessoas, ajudá-las a conhecerem-se melhor e criarem laços de amizades em comum, o que acha?"

"Também é uma óptima ideia, mas não podemos passar o resto do dia na conversa e sim, a pensar em ajudar o máximo possível neste dia especial para eles e para mim."

Este homem está-me a deixar sensível.

Depois de todas as explicações ficarem finalmente resolvidas, começámos a trabalhar e ao abrir as portas do restaurante, imensas pessoas entraram, super contentes e animadas por este dia.

Comecei por entregar o primeiro prato, tal como foi referido e imensas pessoas começaram a chorar de felicidade ao poderem tocar num prato de petiscos e deliciarem-se com eles.

"Faz 10 anos que não saboreava um prato de petiscos como este. Saber que posso saborear sem grandes pressas e que eles são para mim, deixa-me uma grande felicidade transbordar por entre os meus olhos."

Ao ouvir aquilo, tocou-me imenso e comecei a rasgar a minha cara com um grande sorriso. 

Passaram as horas e o dia começou a escurecer, os pratos vazios acumulavam-se aos montes em cima das mesas e os sorrisos pareciam infinitos.

"Este dia, pode-se dizer com grande firmeza e certezas, foi o melhor que eu já tive nestes anos de sem-abrigo."

Digamos que conseguimos alcançar o objectivo do proprietário do Restaurante: Dar o melhor dia de sempre a estas pessoas, porque elas merecem tal como todos nós.

Bateram as 23h e o restaurante fechou, os pratos já estavam devidamente limpos e arrumados e o senhor dirigiu-se à minha mãe com um sorriso e um tom de voz suave e relaxada.

"Missão cumprida! Muito Obrigado pela colaboração e a ajuda que nos deram, sem vocês isto nunca teria acontecido, não desta maneira espectacular, mas de uma maneira simples e sem grande motivação."

"Nós é que agradecemos por um dia esplêndido ao lado destas pessoas tão sábios e morais."

O senhor sorriu e levou-nos à porta de saída.

Ao entrarmos no carro completamente cansados, porque já passavam da 00:00h/m, a minha mãe sorriu, lançou uma gargalhada e terminou.

"Obrigado por este dia, meninos. Tenho muito orgulho!"

Nunca pensei que este dia pudesse correr desta maneira linda e educativa, acabámos por socializar com pessoas sábias, que aprenderam muito com a vida e perderam tudo nela, correcção, não perderam tudo, porque o sorriso continua com eles e sempre irá permanecer.

E sabem? O JOÃO NÃO ME IRRITOU, NEM ME CRITICOU, QUANTO MAIS IMPLICAR COM A MINHA PESSOA! Estou super contente por isso também e ainda bem.

"Então Marta, derrubaste muitos pratos, fizeste muitas pessoas chorar, ou simplesmente trabalhaste com essa tua cara de pessoa fria e sem sentimentos?"

Era bom de mais para ser verdade e falei cedo de mais!

Um Natal de ComédiaOnde histórias criam vida. Descubra agora