A garota mais incrível da cidade

eu gosto de você, olha pra mim

Calça jeans rasgada (√)
Camiseta que um dia já foi branca (√)
All star surrado (√)
Rabo de cavalo mal feito (√)
Fones de ouvido (√)
Celular (√)

Ao trabalho!

Eram pouco mais de sete da noite, depois de alguns pedidos, eu estava apoiada no balcão com o celular na mão, ouvindo "Shot at the night" do The Killers no volume máximo, e dando uma olhada no snapchat enquanto isso, essa música parecia ter sido feita pra mim, eu não parava de ouvi-la. Estava distraída demais para prestar atenção em qualquer outra coisa, quando então senti alguém me tocar de leve nos ombros. Olhei para frente instantaneamente por reflexo e me assustei ao ver que era ele.

Bendito o dia em que eu escolhi o look mais podre do armário, droga, droga, droga mil vezes! Tirei os fones um por um em câmera lenta, para ter tempo de pensar no que eu iria dizer a ele. Mas o quê ele estava fazendo aqui? Qual é? Não dava pra ter avisado? Ter dado uma ligadinha antes? Minha nossa, ele estava todo suado, com uma camiseta de time que estava completamente colada em seu corpo, com a qual todos podiam ver nitidamente sua boa forma, e ô se era boa, quanta saúde! Meu coração não estava preparado pra isso.

-Matthew, nossa que surpresa! O quê você está fazendo aqui? -perguntei, sem me tocar do quão óbvia a resposta era.

-Nossa, sabe eu vim aqui na lanchonete, talvez, quem sabe comer algo? E que bom te ver também hein... -Respondeu ironicamente, e de novo ele não sabia meu nome.

-London, Matth, eu me chamo London. -disse levemente séria, quase como um ultimato para informa-lo de que minha paciência estava se esgotando em relação a isso.

-Vai com calma aí London, é só que o seu nome não é nada comum, é difícil ter na ponta da língua. -afirmou ele sem graça.

-E é por isso mesmo que você deveria se lembrar dele, por ser, sei lá... -me atrevi a dizer. -Especial!

-Realmente é especial, eu diria único, e combina com você, é diferente e legal, combina até com a cor da sua pele que coincidentemente é da mesma cor da bandeira de Londres! -ironizou ele pela bandeira ser branca e minha pele de cor de papel também.

-Ei, também não exagera! -exclamei rindo.

-Então eu posso encurtar, só para não esquecer? Talvez eu possa te chamar de Lô ou algo assim? -perguntou ele fazendo com que eu me derretesse por inteira.

-Bom, contanto que você não esqueça! -respondi em tom suave, mas antes que eu ficasse ainda mais vermelha do que já estava, mudei o assunto. -Mas então, já decidiu o quê você vai pedir?

-Ah, sim! Quero um número 14 e um 2.

Pedi que ele esperasse um pouco enquanto eu me encarregava de seu pedido, entreguei o papelzinho ao cozinheiro, Will, que era o melhor amigo de papai, e corri para o banheiro, onde fechei a porta em desespero e me encostei na parede, deslizando até o chão de suspiros e muito nervosismo.

Já posso respirar agora? Cadê o fôlego? Socorro! É sério isso ou foi só uma ilusão dessa minha mente que adora brincar de me fazer de boba? O garoto mais perfeito desse mundo me deu um apelido, ele me elogiou e no momento estou sem a menor coragem de voltar para lá, tenho medo de falar bobagem e assusta-lo, eu meio que tenho esse dom de estragar situações maravilhosas, e não quero fazer isso agora, isso deveria ser especial, mas o destino fez ele brotar do chão bem na minha frente e eu fiquei sem saber o que dizer, como agir, nada.

E agora? O quê eu faço? Não quero que ele perceba nada sobre o que eu sinto, não quero assusta-lo, não quero ser evasiva, intrometida, não quer deixar na cara, mesmo que esteja escrito bem no meio da minha testa "Matth eu gosto de você, olha pra mim!", eu não faço a menor ideia de como lidar com a rejeição, ainda mais dele, por isso é melhor deixar quieto, guardar só pra mim, porque assim eu não corro riscos. Não quero fazer nada que acabe estragando tudo, vou apenas deixar as coisas acontecerem e ver o que acontece.