Acordei cedo no dia seguinte só pra ficar enrolando na cama, para pensar melhor e organizar as ideias que ainda estavam bagunçadas na minha cabeça, tentando clarear a mente e entender o propósito de tudo aquilo estar acontecendo.
Estava tudo completamente tranquilo aquela hora da manhã, e após abrir a janela do meu quarto que tinha vista para o quintal, eu só podia mesmo ouvir o barulho dos pássaros lá fora na árvore, até meu celular tocar feito uma sirene. Tomei um susto que acordou qualquer neurônio meu que ainda estivesse dormindo.
Antendi desconfiada.
-Mãe, você me ligando? -perguntei surpresa, pois minha mãe nunca me ligava diretamente.
-Oi pra você também filhinha. Essa é a educação que seu pai está te dando? -retrucou ela, sendo irônica.
-Foi mal mãe, mas é que a senhora nunca liga pra mim. E quando liga é sempre no celular do papai ou no telefone aqui de casa, eu nem sequer sabia que a senhora tinha meu número.
-Ok London querida, eu sei que não sou uma boa mãe para você, mas a culpa é de toda essa distância e também ando muito ocupada esses últimos tempos. -tentou justificar.
-Mãe, fazem anos que nossa relação funciona assim.
-É que eu tenho meu emprego, uma casa pra comandar, marido e ainda tem as crianças, entenda o meu lado. O importante é que eu liguei por que estava com saudades da minha bebê.
-Sei... Eu também sinto sua falta, agora fale logo porque a senhora ligou, preciso me arrumar pra escola. -respondi, porque tudo aquilo era tudo que eu sempre ouvia como desculpa, pra ser excluída totalmente de sua vida.
-Você sempre insensível, não? Mas tudo bem, eu te liguei mesmo porque não estava conseguindo falar com seu pai, você pode passar o telefone pra ele? É importante. -afirmou ela.
-Ah eu sabia! Até parece que você se importa de verdade comigo. -respondi, abaixando o celular em seguida para não ter que ouvir mais desculpas sem fundamento e saindo do quarto, descendo até a cozinha para entregar o celular a meu pai e depois voltando para o quarto, para me arrumar para a escola.
Eu não me importava mais tanto com o fato de minha mãe não estar nem aí pra mim, já teve um tempo sim em que isso acabava comigo, a época das festinhas da escola, meu aniversário, no natal, no dia das mães, por isso eu tinha tanta inveja da minha irmã mais nova, que podia passar o tempo inteiro com ela desde pequena. Eu costumava me torturar, quando pensava que minha mãe havia escolhido ela e não eu.
Mas então nove anos se passaram e nesses nove anos devo ter visto minha mãe pessoalmente umas sete vezes, sendo que a última vez já fazia uns dois anos. O jeito foi me conformar com as raras ligações, e o pior de tudo isso é que ela realmente não demonstrava interesse, ela não queria saber de mim, ela nunca fazia questão de saber como eu estava e é claro que as vezes dói precisar do colo da minha mãe, dos conselhos da minha mãe e simplesmente não ter nada disso, sabe eu preciso dela agora, mas ela não está aqui, como sempre, por isso é mais fácil nem pensar nesse assunto ou no máximo tentar fingir que isso não me atinge, sendo que esse assunto fere a parte mais profunda do meu coração.
Terminei de me arrumar e desci, o meu dia não havia começado tão bem mas eu tinha toda certeza de que terminaria incrivelmente inesquecível, não sei porquê.
Meu pai ainda estava na ligação com minha mãe na sala, aparentemente muito engajado na conversa, e eu fiquei esperando-o na cozinha, passando geleia nas torradas que iria comer. Ele entrou no cômodo.
-E aí pai, o que ela queria dessa vez? -perguntei dando um gole no café.
-Ah, sua mãe você sabe né... -insinuou. -Ela ligou para pedir que Italy passe um tempo aqui com a gente. -informou ele.
-Oi?! -disse quase me engasgando com as torradas e batendo a mão na mesa.
-Para com isso London, você e Italy não são mais duas criancinhas, não tem mais nada a ver essa implicância com sua irmã.
-Esse é o ponto papai, eu não passo mais de uma semana com a Italy desde que eu tinha sete anos. E essa tal "implicância" sempre veio da parte dela quando eu ia visitá-las, dela e daqueles dois. -expliquei, referindo-me a Italy e meus dois meio irmãos mais novos.
Ah que ótimo, só pra melhorar meu dia recebo a noticia de que minha adorada irmã vai vir passar uns tempos aqui. Logo a melhor pessoa desse mundo, a irmã da qual eu sempre tive inveja e vice-versa, pois ela tinha a mamãe e eu tinha o papai... Richas de infância e mágoas mal resolvidas, essas são as piores.
Nossos encontros nunca foram muito agradáveis, sempre atirávamos farpas uma na outra e nos implicávamos muito, o que mudou nela em dois anos que não a vejo? Posso apostar que nada, aquela garota me detesta e eu não sinto nada mais que vontade de sair correndo quando ela chega perto. Quando eu ia a Cincinnati, ela mal olhava na minha cara ou falava comigo, ficava irritada de eu dormir em seu quarto, ou de ter que me emprestar qualquer coisa. Não sei se eu estava gostando da ideia de recebê-la, na minha casa, no meu quarto, na minha vida.
Hoje é sexta feira 13 e ninguém me avisou? Tem como esse dia ficar mais lindo? Acho melhor eu calar a boca antes que um raio resolva cair na minha cabeça no caminho até a escola. Revirei os olhos como forma de demonstrar minha insatisfação e fui embora.
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A garota mais incrível da cidade
Romantizm1° Livro da série "Garotas incríveis" Sinopse: London Clark é uma adolescente de 16 anos que vive uma vida sem emoções. Ela tem apenas duas amigas, é invisível na escola e trabalha de garçonete na lanchonete de seu pai. Mas quando ela pensa que es...