introdução

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London

Me peguei um dia olhando para ele no meio da aula, observando cada pequeno detalhe de seu rosto, cada movimento ou expressão que ele fazia. Minhas mãos estavam suando, minha garganta estava ficando seca, eu não conseguia parar de olhar, não conseguia parar com a ansiedade de morder a parte interna dos meus lábios e de ficar colocando o cabelo para trás da orelha, parecia ser involuntário, inevitável, apenas aconteceu e eu não pude controlar.

Eu me chamo London Olivia Clark, sim tipo a cidade Londres mesmo, capital da Inglaterra. Mas não sou só eu que tenho um nome nada convencional por aqui, minha irmã mais nova Italy também não escapou dessa criatividade duvidosa das mentes insanas de nossos pais.

Sempre questionamos eles por causa disso, sendo que nenhum dos dois nunca nem sequer colocou os pés para fora dos Estados Unidos. Não pode ser uma tarefa tão difícil colocar nomes comuns nas filhas, tipo Claire e Kate, ou Rose e Mary, ou Bonnie e Clyde (ok, viajei), mas continuando...

Desde pequena sempre fui muito tímida, sempre só observei as pessoas, as coisas, as situações, sem nunca dar uma palavra sobre nada. Nunca fui de me expressar, nem dar minha opinião, sempre fui mais de aceitar e não reclamar muito, não abrir a boca pra quase nada. Era tudo só comigo mesmo, entre mim e as paredes do meu quarto, ou nas milhares de folhas soltas que eu guardava em uma caixa com pensamentos e desabafos.

Minha mãe saiu de casa quando eu tinha seis para sete anos. Depois de um período conturbado em que meus pais se divorciaram, ela contratou uma empresa de aluguel de imóveis, pois o plano era encontrar um apartamento barato perto de mim para ela e Italy morarem. Mas ela acabou "se apaixonando perdidamente" pelo cara que a empresa mandou pra ajudá-la: um vendedor de imóveis chamado Bill, com quem ela se mudou mais tarde para Cincinnati e com quem teve mais dois filhos para os quais não deu nomes de cidade, o Thomas e o Jeremy (que inveja).

Então nas férias eu podia escolher entre ir para a casa da minha tia Milly que morava em Boston, a casa da minha mãe com meus três queridos irmãos que não iam muito com a minha cara ou simplesmente ficar em casa com meu pai, trabalhando na lanchonete, assistindo a jogos de futebol americano todas as noites, comendo quilos de pipoca, ovos fritos e muito muito muito bacon.

É, eu sempre acabava escolhendo ir visitar a tia Milly. Eu amava ir pra Boston, respirar novos ares, visitar lugares diferentes a cada ida e ainda passar um tempo com a minha tia, ela me entendia como mais ninguém. Milly vinha de Emillya, sempre admirei sua alma jovem e aventureira, ela já tinha viajado quase o mundo todo, nunca se casou ou teve filhos, suas crenças eram inspiradoras, e ela sempre se lembrava de uma nova história pra me contar, ou de conselhos sobre a vida que me motivavam muito, por isso visitá-la era sempre minha escolha.

Bom, e agora sobre o meu pai não tem muito o que falar: meu querido Richard Clark é um show à parte, tipo um show de stand-up sem graça em que toda  a plateia boceja do inicio o fim e aplaude sem nenhum vigor. Mas voltando as apresentações, ele é dono de uma conhecida lanchonete no centro, a Richard's, seu maior sonho na juventude, que acabou sendo interrompido devido a gravidez inesperada da namorada, o que fez com que certas prioridades tomassem a frente de tudo, ou seja: eu.

E além de ser dono da lanchonete, ele também é dono de uma enorme lista repleta de relacionamentos fracassados, com cada mulher que minha nossa, seu gosto era indiscutível, e acho que se tratando de beleza, eu e Italy tivemos sorte de sermos fruto de um relacionamento dele com a nossa mãe. Mas na real, meu pai é um cara incrível, uma pessoa boa de verdade, de um coração imenso, minha gratidão por ele sempre ter dado o seu melhor para me criar, e não me fazer sentir tanta falta assim de uma mãe, não se medem, ele lutou muito por tudo que temos hoje. E uma característica sua que eu sempre invejei, era a sua capacidade de virar a página, ele era o maior adepto do "thank u, next" que eu já havia conhecido, porque apenas seguia em frente e passou a vida inteira me ensinando a fazer o mesmo, independente de qual fosse a situação.

–Caiu? Doeu? Ótimo, agora levanta e mostra pra quem queria te ver no chão que eles serão os próximos!

É, minha vida em Portland no Oregon era como uma montanha russa para crianças menores de oito anos: sem subidas, curvas ou qualquer outro tipo de emoção, tirando as sextas-feiras da batata frita grátis na lanchonete, isso era pura adrenalina. Por isso me apaixonar por Matthew Hamilton foi o auge dos meus dezesseis anos, eu só precisava ser notada...

A garota mais incrível da cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora