77- Os 1% Parte 5

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Allen era um menino muito bonzinho.

Comia todos seus vegetais. Escovava os dentes. Nunca retrucava. Allen nunca reclamava que sua mãe o vestia sempre nas mesmas roupas, mesmo quando as outras crianças tiravam sarro dele. Nunca se sujava, nunca implorava por mais sobremesa e nunca ficava acordado até tarde. Fazia todas suas tarefas escolares. Adora fazê-las, principalmente biologia.

Allen não gostava de muitas coisas. Não gostava de seu pai. Não gostava de seu irmão. Não gostava das outras crianças. Não gostava dos sapatos pretos apertados que usava todos os dias. Mas nunca reclamava. Raramente falava, a não ser que falassem com ele. Mesmo assim, tentava manter suas respostas o mais breves possíveis.

As outras crianças davam apelidos cruéis a ele. Não tinha nenhum amigo. Mesmo quando batiam nele, ele só se afastava, se limpava e continuava quieto. Não havia motivos para gritar. De qualquer forma, odiava barulhos altos. As outras crianças pareciam ficar ainda com mais raiva por conta de sua falta de emoção.

Eles começaram a fazer coisas piores - incluindo arrancar toda a roupa dele e obrigá-lo a andar pela escola sem ter nada para cobrir seu pequeno corpo. Eles riram e riram. Allen nunca implorava ou chorava. Apenas andou até o escritório do diretor e pediu calmamente por uma muda de roupa, pois tinha perdido as suas.

Mãe nunca soube das torturas que ele sofreu na infância. Idolatrava-o com muito amor. Admirava seu auto-controle. Nem quando era um bebê ele chorava muito. O parto foi tão fácil, então esperava que seu segundo filho fosse tão simples quanto o primeiro. Mas seu filho mais novo era totalmente o oposto. Ele choramingava sem parar. Era carente e berrava. Constantemente fazia bagunça.

Mas, Allen - Allen era perfeito.

Quando Allen se formou no ensino médio, Mãe não conseguia fazer nada a não ser chorar. Ele planejava cursar medicina. Seu pai tinha o persuadido a ser um cirurgião também. Allen concordou sem emoção. Mas Mãe não podia controlar suas emoções e as lágrimas corriam silenciosamente por suas bochechas.

"Você está se envergonhando," seu marido disse friamente.

Allen estava feliz por ter terminado o ensino médio. Nessa época, a maior parte das crianças o deixavam em paz. A falta de resposta perante as crueldades tinha se tornado tediosa. Agora se focavam em alvos mais fracos, como o irmão mais novo dele. Mas Allen não gostava de seu irmão mais novo e não ligava para o que fizessem com ele. Mesmo quando seu irmão tinha sido internado no hospital por hemorragia interna, ele não ligou. Mesmo quando foi comprovado que os valentões tinham forçado um taco de basebol de metal no anus de seu irmão mais novo, ele nem se quer piscou. Tinha coisas mias importantes para se concentrar.

Cursar medicina seria fácil. Allen sempre tinha se dado bem na escola. Recebia 10 em todas as matérias, exceto artes. Não entendia artes. Não via utilidade naquilo. Em seus projetos, desenhava diagramas complexos do que encontrava dentro de animais mortos. Seu professor pediu que ele acrescentasse um pouco de criatividade em seu trabalho. Então Allen começou a... "melhorar" esses animais. Fazia-os com dentes mais longos e unhas mais afiadas. Tentava torná-los perfeitos. Mas o professor não achou que aquilo era criativo o suficiente. Ele desistiu dessa matéria.

Mas tirando isso, Allen era um estudante perfeito. Nunca falava na aula ou distraia outros estudantes. Fazia todos seus trabalhos no devido prazo e era sempre perfeito. Nunca incomodava os professores. Os professores sentiriam sua falta.

Mas ele não sentiria falta deles. Não gostava deles. Não gostava de várias coisas.

Mas ele gostava de Mãe. Ela era uma mulher rechonchuda com cabelos castanhos encaracolados. Tinha uma pontinha de sotaque alemão. Seu pai tinha a "conhecido" na internet, mas Allen suspeitava que ela era uma esposa por correspondência. Além do mais, ela não tinha mais de dezesseis anos quando se casaram. Seu sotaque costumava ser bem forte, mas o pai de Allen a forçou a falar certo. Seu pai não queria que se destacasse.

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