81- Os 1% Parte 9

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Dra. Ellis bate levemente seu pé contra a cadeira. A movimentação continua e o som baixo geralmente conforta seus pacientes. Quase tudo em Dra. Ellis é confortante. Ela tem cabelos castanhos curtos levemente jogados para o lado. Seus olhos são pequenos e redondos, que pairam sobre seu nariz modesto. No mais, ela é uma mulher bem normal que faz o melhor que pode para ajudar seus pacientes. E se a ajuda que dá a eles contribuir para o seu sucesso, melhor ainda.Seu novo paciente está sentado diante dela. Já tinham se encontrado algumas vezes antes, sem melhora. O paciente se recusada responder pelo seu nome verdadeiro e insistia em ser chamado de #1477. Dra. Ellis não conseguia decifrar o significado destes números a não ser a tatuagem que ele tinha na nunca. Mas hoje estava planejando uma nova abordagem que esperava dar certo. "Bom dia" falou calorosamente. #1477 olha para frente, piscando vagarosamente. Seus olhos são de uma linda coloração de azul. Se destacam contra sua pele avermelhada. Seu rosto é uma tela em branco. Seu nariz parece ter se derretido em seu rosto, sobrando-lhe finos lábios pálidos. Seu cabelo de penico cobre suas orelhas. "Está com vontade de conversar hoje?" Dra. Ellis pergunta. #1477 sorri. "O doutor me chamou?" O sorriso não é normal. Parece que ele está tentando deixar o sorriso maior que o próprio rosto. Dra. Ellis resiste o impulso de se encolher. "Eu sou sua doutora, lembra? Sou a Dra. Ellis." Ela se escora novamente na cadeira, tentando manter sua linguagem corporal aberta. #1477 continua a sorrir. "Você não é minha doutora. O doutor é um bom homem. O bom doutor." "Pode me falar mais sobre ele?""Ele me salvou. Me trouxe de volta. Fez milagres."Dra. Ellis faz algumas anotações na sua pequena caderneta pautada. O bom doutor. A caderneta já está preenchida com várias outras palavras que havia colhido durante outras sessões. "E antes de você conhecer o bom doutor?"#1477 se endurece um pouco na sua cadeira, mesmo sendo difícil se mover enquanto confinado na sua camisa de força. Ele quer responder a pergunta, mesmo que seus pensamentos estejam desorganizados. As lembranças vem como imagens que tomam conta de toda sua consciência. A principio elas o dominam, mas então, se lembra da voz reconfortante do doutor. "#1477, estou orgulho de seu progresso. Já fizemos tanto em tão pouco. Você é um prodígio." Deitado na mesa de operação, finalmente podendo ver sua transformação, #1477 pode entender finalmente seu valor. Seus olhos novos eram ainda melhores que os antigos. Na verdade, todo seu corpo foi melhorado. Onde antes era magro e fraco, agora era forte. Seu peito era largo e seus braços grossos. Podia andar e falar com autoridade. Não conseguia se lembrar de alguma época que tinha sido mais perfeito do que naquele momento. Dra. Ellis sabe que #1477 está se esforçando para pensar, e queria poder ler seus pensamentos. Ela fala baixo "Você consegue-""Porque estou contido?" #1477 vira sua cabeça de lado e olha para Dra. Ellis. "Para sua própria segurança." Dra. Ellis escreve em sua caderneta que o paciente finalmente parece perceber seus arredores. "Tem alguma coisa perigosa por aqui?" #1477 olha em volta, mas vê somente o quarto acolchoado. "É você? Você é perigosa?" Em sua mente, vê imagens de dedos perfurando seus globos oculares. Dra. Ellis se inclina para frente. "Eu não sou perigosa. Você é perigoso?" #1477 pensa. Existe violência em sua mente. Vê sangue e ouve gritos. Não se lembra se algum deles pertence a ele. Ele se mexe dentro da sua camisa de força. Algo em estar contido o faz ficar com raiva. "Por favor, pergunte ao bom doutor se posso ser solto." #1477 parecia estar calmo.
Dra. Ellis começa a ficar impaciente. "Você se lembra o que aconteceu no último verão?" Ela sabe que é cedo demais para falar dos crimes que ele cometeu, mas sem dúvida isso geraria um avanço.
#1477 fecha os olhos. Pode ver cabelos longos e pele. Ele machucou alguém? Com certeza o bom doutor não permitiria que ele se machucasse ou machucasse a outra pessoa.
A respiração de Dra. Ellis começa a ficar mais pesada. "Barry, você se lembra das crianças?"


"Esse não é o meu nome." #1477 começa a se contorcer.

"Tudo bem, #1477. Você se lembra das menininhas?" Dra. Ellis sabe que está se arriscando demais, mas está ansiosa para aquilo dar certo.

"Meninas?"

"Sim, três meninas. Nenhuma dela tinha mais do que dez anos. Você se lembra o que fez com elas?"

#1477 pode ver um parquinho escuro em sua mente. Ouve risadas. Gargalhadas. O som faz com que ele sinta arrepios. Lembra do doutor dizendo que sua raiva era justificável. Que a morte, muita vezes, é um resultado que não pode ser evitada. Ele lembra das unhas pintadas.

"O bom doutor me disse que-"


"Não existe nenhum doutor, Barry. Ele é apenas um homem que você inventou para justificar suas ações. Você cegou as três meninas. Você arrancou os olhos delas com as próprias mãos. Você não se lembra?" Dra. Ellis está quase babando.

#1477 começa a sorrir novamente. "O bom doutor me disse que ninguém acreditaria que ele é real. Foi por isso que ele me mandou de volta para o mundo. Queria que os outros vissem seu milagre." Ele olhou dentro dos olhos de Dra. Ellis. "Eu sou o milagre. Eu sou a perfeição."

"Eu sei que algo aconteceu com você, Barry. Você era um bom homem. Pode me dizer o que aconteceu com sua esposa?" Dra. Ellis estava quase ofegando. Se conseguisse fazer com que Barry Shore, o famoso assassino, confessasse mais assassinatos, seria promovida. Finalmente teria o sucesso que sempre mereceu.


#1477 não consegue lembrar de sua esposa. Lembra de uma criança de trancinhas. Lembra de estar contido. Ele olha para Dra. Ellis com os olhos arregalados. "Esse é um tom adorável de rosa."

"Como é?" Dra. Ellis consegue sentir os ares do quarto mudando. Talvez tenha ido longe demais.

"Suas unhas. Estão pintadas de rosa."


Dra. Ellis tinha esquecido que sua filha havia pintado suas unhas pela manhã. Estava toda borrada. "Ah..."
#1477 sorriu novamente. "Eu farei com que o bom doutor fique orgulhoso."


"Barry, Eu-"

Antes que pudesse finalizar sua frase, #1477 se lançou da cadeira em direção de Dra. Ellis, que começou a gritar. Os guardas abriram a porta rapidamente, para vê-lo em cima da mulher. Um dos guardas tirou ele de cima, mas quase o soltou de tanto medo.


A boca dele estava coberta de sangue. Sorriu e cuspiu o olho esquerdo da Dra. Ellis. Ela está no chão, gritando, sangue escorrendo da sua cavidade ocular.


"Rebecca! Rebecca! Eu estou livre e você não!" Ele gargalhou. "Obrigada, doutor. Doutor. Bom doutor!"

Quase que instantaneamente, foi injetado com sedativos e desmaia quase que imediatamente. Dra. Ellis é retirada do quarto com ajuda dos funcionários do hospital. Toda a clinica psiquiátrica está em alerta. Uma das enfermeiras pega a caderneta da doutora que estava no chão. Na primeira página, coberta em sangue, apenas uma pergunta: Será que um dia ele irá lembrar?

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