As mulheres encaram o chão da sala de operação. Estão acostumadas com o chão. Cada azulejo branco é um quadrado perfeito. Talvez aquilo fosse calmante para alguém que possa sentir calma.
Theresa está cansada. Tinha passado o dia inteiro de pé no quarto, como sempre. Alena estava no Ensino Fundamental e voltou para casa um pouco mais cedo, então teve de fazer não só a janta como também um lanche. E, como todas as quartas-feiras, ela acompanhou seu marido até o trabalho para ser sua enfermeira.
#1302 a lembra que ela que é a enfermeira dele, Theresa é apenas sua esposa. #1302 não gosta muito de auxiliar nos projetos do doutor. Mas pelo menos consegue se distrair da dor constante que percorria pelo seu corpo.
Brittney odeia aqui. Não consegue nem falar consigo mesma. Aqui ela fica presa.
O doutor está lá em baixo, decidindo em qual número performará uma cirurgia no dia de hoje. Ele demora. Theresa espera que seja uma mulher. Há algo a respeito de ver outra mulher sofrer que faz com que fique calma. Semana passada ele terminou de costurar uma peruca na cabeça de uma mulher que trabalhará na recepção do consultório. Ficou segurando a cabeça enquanto o doutor enfiava a agulha de costura repetidamente na cabeça dela. A mulher não tentou fugir. Ninguém tenta fugir depois que atingem esse nível. Do mesmo jeito, #1302 não tenta mais escapar quando está sendo operada pelo doutor. O último procedimento foi a retirada de um grande pedaço de pele da coxa. Ele disse que precisava para o rosto de alguém. O descascamento da pele era tão doloroso que Brittney quase desmaiou. #1302, sempre obediente, não deixou que a outra sucumbisse.
As mulheres conseguem ouvir o barulho de #995 e o doutor trazendo um corpo pra cima. A pessoa parece estar surpreendentemente alerta e ter bastante força. Talvez seja um novo projeto. Normalmente, o único som que pode ser ouvido é da maca rolando e de homens levantando corpos pesados. Mas desta vez podem ouvir alguém resmungando por trás da mordaça. As mulheres dão um passo para trás enquanto a maca é puxada para a sala cirúrgica. #995 está grunhindo alto. Eles levantam a maca pela porta do alçapão da gruta. A pessoa na maca está coberta por uma lona azul. De baixo, a figura se debate, tentando se soltar.
#1302 olha para o doutor cheia de expectativas. Ela é paciente e esperará pelos comandos dele.
Theresa olha inexpressivamente para o marido. Tem nojo do cheiro da gruta, o qual o paciente de baixo da lona está exalando fortemente.
Brittney tenta fingir que está em outro lugar.
O doutor não sorri, mas está se movendo com entusiasmo. As mulheres não estão acostumadas com isso. "#1302, tenho uma surpresa especial para você."
#1302 vira a cabeça para o lado. "Sim, doutor?"
#995 sai da sala furtivamente sem ser notado. Não quer ser testemunha do que está prestes a acontecer naquele recinto.
O doutor empurra #1302 para que ela fique no pé da maca. Ele move o braço e a cabeça dela para que ela fique em um posição na qual veja perfeitamente a lona que cobre o corpo. A pessoa havia parado de se debater, agora estava somente respirando fundo, como se procurasse por ar. O coração dela parece pulsar de um jeito esquisito.
O canto do lábio do doutor parece tremer. Ele levanta a lona do mesmo jeito que um mágico puxa o pano para revelar sua mágica e joga para o lado, revelando um homem.
O homem está amarrado e amordaçado, seus olhos vermelhos. É um homem bem magro. Suas costelas aparecem em diversos ângulos sob a pele. Está nu. Seu pênis está enrolado em um tipo de artefato feito de arame farpado. Mas o rosto... O rosto e perfeito. Simetria completa. E seu cabelo continua lindo mesmo impregnado de suor.
Brittney deixa um gemido baixo escapar. "Greg..."
Finalmente o doutor da um sorriso largo. "Não mais. Agora ele se chama #1470."
#1302 continua com suas mãos ao lado do corpo. Involuntariamente fecha os seus punhos e tem que usar todo seu auto controle para esticar os dedos novamente.
"Como posso ajudá-lo, doutor?"
Brittney sente um arrepio interno. Foi aquele bastardo que colocou-as ali. O homem que estragou a vida delas.
Theresa sentia um ódio curioso.
O doutor vai em direção de seus instrumentos cirúrgicos e pega um bisturi grande. Brinca com ele nas mãos. Ele balança o instrumento de corte por cima do corpo de #1470, que está tentando gritar, mas não consegue pois sua mordaça está apertada demais. "Sabe, 1302, estou muito satisfeito com seu trabalho recentemente. Sua assistência nas operações são de grande ajuda."
#1302 não responde. As mulheres estão observando o bisturi se mover logo acima do rosto de Greg, desejando que caia.
O doutor parece estar satisfeito. "Fiz a decisão de deixá-la fazer o primeiro corte."
De repente, Brittney fica em silêncio. Pela primeira vez em muitos anos, se sente animada. As duas outras mulheres lutam para ter controle, mas é Brittney que levanta a mão, pronta para pegar o bisturi. O doutor entrega-o com delicadeza.
"A única coisa que lhe peço é que não o mate, mesmo que queira muito."
Brittney anda com propósito em direção da cabeça de Greg. Ele tenta implorar com os olhos. Ela percebe que ele não a reconhece. Faz sentido: sua aparência física está incrivelmente diferente desde que ele a vendera para o doutor. Mas seus olhos são os mesmos. Ela olha fixamente nos olhos dele. O rosto dela muda de animação para desprezo. Greg percebe isso e começa a tremer.
Um sorriso largo corre pelo rosto de Brittney.
Com um movimento rápido, Brittney fatia um pedaço da bochecha esquerda dele. Greg grita por de baixo de sua mordaça, mas não consegue fazer nada mais que isso. O doutor se aproxima, tentando pegar o bisturi da mão dela, mas com outro golpe, ela arranca um pedaço da bochecha direita do homem.
"#1302, mê devolva o bisturi." O doutor fala em um tom firme e irritado.
Brittney nem se quer o ouve. Ao invés disso, faz três cortes rápidos nos lábios de Greg. Sangue escorre abundantemente das feridas. Ele chora e se debate com suas amarras. Brittney não consegue parar de sorrir.
O doutor dá um passo para trás. Percebe que isso faz parte da transformação de #1302. Fica observando com atenção.
Brittney se aproxima da face de Greg. Toca o sangue de bochecha dele com uma das mãos e com a outra começa cortar o nariz. Sangue começa a entrar na garganta dele e com isso fica com dificuldade para respirar. Demora menos de um minuto para que Brittney remover completamente o nariz dele. Pega o pedaço de carne morta e joga no chão como se fosse lixo.
Ela observa seu trabalho. O rosto de Greg está irreconhecível. Ele está em choque, quase perdendo a consciência e a habilidade de respirar. Uma onda de calma toma conta dela. Pela primeira vez na sua vida ela se sente em paz.
#1302 toma controle de volta e deixa cair o bisturi no peito de Greg. Ela se vira para o doutor, horrorizada com sua própria desobediência. "Eu sinto muito, Doutor."
O doutor pega o bisturi e se vira para #1302. "Chega. Temos que liberar as vias respiratórias dele, se não irá morrer." Ele faz uma pausa, estudando-a. "E se ele morrer, não poderemos trabalhar nele novamente."
Theresa nunca se sentiu tão próxima do marido como naquele momento. #1302 nunca se sentiu tão insegura consigo mesma. Há um espaço vazio entre elas. As mulheres percebem que Brittney não está mais lá.
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Creepypastas ∆
Terror"O que é creepypasta?" Creepypastas são contos de terror (geralmente de autores anônimos) que se originaram na internet e são passadas entre fóruns, blogs e outros sites para assustar e perturbar seus leitores. O nome "Creepypasta" se originou das p...