Alena está em seu quarto, brincando alegremente com sua amiga Rhi. Parece um anjo, enrolada em uma variedade de cachecóis e os cabelos trançados em duas longas tranças. Em comparação, Rhi não se destaca. Ela é pequena demais para sua idade e bem desengonçada. As duas tem sete, mas Rhi poderia ser confundida facilmente com uma criança de quatro anos. Suas costelas são visíveis por debaixo do corpo magro. Sua pele é escura e seu rosto é dominado pelo nariz enorme que tem. Alena, pelo outro lado, é uma criança linda e loira. Seu rosto é suave e seus olhos são grandes e brilhantes. As duas são completamente diferentes, mas se encontram semanalmente no que os seus pais chamam de "Dia de Brincar", um dia que reservam da semana para se verem e se divertirem juntas. Alena sempre lidera a dupla, geralmente inventando aventuras mágicas para brincarem. Rhi já fica feliz por simplesmente ter alguém para se divertir. Nesse dia em particular, Alena comanda um exercito e Rhi uma de suas soldadas. Elas estão lutando em uma terrível guerra contra suas Barbies. "Nós vamos triunfar!" Alena grita, levantando seu travesseiro como se fosse uma espada mágica. "Sim," diz Rhi, com a voz bem mais baixa. "Ah não! Os inimigos estão se aproximando!" Alena corre até as bonecas, pegando todas em seus braços. "Cuidado!" Ela começa a jogar as bonecas em direção de Rhi, que tenta se defender com o seu travesseiro. Mas Alena joga uma forte demais e bate na têmpora dela. Rhi solta o travesseiro e poem a mão na cabeça, chorando. Alena joga todas as bonecas no chão, preocupada. "Me desculpa, Rhi! Você está bem?" Ela corre em direção de Rhi, que está agachada, lágrimas escorrendo na sua camiseta sem graça.
"Vou chamar minha mãe." Alena demora um pouco para sair do lugar, observando uma gota de sangue se formar na cabeça dela. Claro, Alena já tinha visto sangue antes, mas dessa vez o estomago dela começou a embrulhar ao vê-lo. Ela deixou isso para lá e correu em direção do quarto de seus pais. Ao chegar correndo na porta do quarto do seus pais, vê sua mãe de pé num canto, de frente para a parede. Tudo está quieto. Sua mãe está tão pero da parede branca que seu nariz quase encosta na mesma. Alena está acostumada a encontrar sua mãe nessa posição. É tudo que sua mãe faz, a não ser quando ela ou seu pai precisam de alguma coisa.
"Mãe, Rhi está sangrando." Alena não entra no quarto. Não tem permissão nem para colocar o pé para dentro daquele cômodo. Seu pai falou que é só para adultos. Ninguém quebra as regras de seu pai.
Sua mãe vira lentamente, piscando. É como se ela estivesse saindo de um transe. Mas depois de alguns segundos ela já está com aquele sorriso plástico em seu rosto. Um sorriso que Alena conhece muito bem."Ah, não!" Theresa fala suavemente. "O que aconteceu?"
"Nós estávamos brincando e sem querer eu... sem querer ela se machucou." Alena começa a corar e olha para seus pés.
"Não se preocupe, tenho certeza que ela está bem." Theresa segue Alena até o quarto dela. Rhi está agachada, chorando baixo. Ela não olha para cima quando as duas entram.
"Você está machucada?" A voz de theresa é de um tom agudo e monótono. Ela nunca grita ou mostra emoções demais. Tinha sido treinada para ter o tom de voz feminino perfeito. Alena já a conheceu assim, e por isso acha normal.
Rhi não responde, mas faz que sim com a cabeça levemente. Alena se ajoelha ao lado dela. "Posso ver?" A curiosidade infantil de Alena está a flor da pele.
Relutantemente, Rhi joga o cabelo para um dos lados e revela um corte fino na sua têmpora. Não é profundo e só tinha levantado a pele. Alena sente vontade de tocar a ferida, mas tem consciência de que isso não é certo e mantem suas mãos consigo.
Theresa da uma risada leve. Parece ser severa sem rasão. "Isso não é nada." Rhi continua olhando para o chão. Ela não gosta da mãe de Alena.
"Já sei! Você pode usar um dos meus band-ais das princesas!" Alena se levanta empolgada. "Podemos brincar de doutora e paciente e vou fazer você se sentir melhor. Meu pai é um doutor. Ele faz as pessoas se sentirem melhor o tempo todo."
Os olhos de Theresa estão mortos e sem vida. "Bem, parece que vocês já se resolveram." Ela sai, andando na ponta dos dedos. Ela irá voltar para o seu canto e olhará para a parede.
Alena está radiante. "Eu sou a Dra. Alena e irei te curar!"
Rhi funga. "Não, por favor, estou bem." Ela cobre o arranhão com a mão e se afasta alguns centímetros da outra menina.
"Por que? Acha que eu não consigo te curar?" Alena franze o cenho. "Meu pai é o melhor doutor e eu também sou! Só precisamos fazer uma pequena cirurgia."
Rhi se levanta e fica de costas para a cama, seus olhos abertos e apavorados. "Não, por favor!"
Aena torce o nariz, confusa. "Não vou te machucar."
Rhi tenta se levantar. Alena também levanta e coloca a mão na bochecha de Rhi. Estão vermelhas e quente. "Você confia em mim, né?"
Rhi está com uma careta estampada no rosto, mas não se move. "Sim, sim. Okay."
Alena sorri novamente e vai até o banheiro buscar os band-aids das princesas. Ela pega um com a Bela, sua princesa favorita. Quando era mais nova ela via o filme A bela e a fera repetidamente até que caísse no sono e a tela da TV ficasse somente em estática. Alena pega o band-aid e troteia de volta para o quarto. Quando chega, o quarto está vazio. "Rhi! Rhi!" Ela a chama e olha pelo quarto. Ela vai até o quarto de seus pais, onde sua mãe continua no canto olhando a parede. "Mãe, você viu a Rhi?"
"Não" Theresa nem se quer olha em direção dela. Alena olha por todos os lugares da casa e não conseguia encontrar Rhi. Seu pai está no escritório, mas ela não o incomoda. Sabe que assim é melhor. Relutantemente, volta para o quarto. Ficou chateada. Ela senta na cama, balançando as pernas. Foi aí que ela ouviu um espirro vindo debaixo da cama.
Ela vai para o chão e grita "Te peguei!" Ela pega o tornozelo de Rhi e a menina fica se debatendo tentando se soltar. Alena não está acostumada com esse tipo de brincadeira, mas mesmo assim está se divertindo. Ela é maior e mais forte que Rhi, então consegue puxá-la de debaixo da cama. Rhi fica paralisada. "Se você queria brincar de esconde-esconde era só me dizer!" Alena está rindo. "Acho que seu band-aid das princesas pode esperar. Agora eu que me escondo!"Rhi não diz nada. Está olhando para trás de Alena, em direção da porta. Alena se vira e vê seu pai ali. Allen é um homem pequeno, mas não é menos opressivo por causa disso. Alena sorri. "Oi, pai." "Olá." Seu pai não adentra o quarto. "O que está acontecendo?"
"Estavamos brincando de doutora e paciente, mas Rhi se escondeu. Mas eu achei!" Alena Sorri. Calafrios correm pelo corpo de Rhi.
"Eu não estava me escondendo! Nós estávamos brincando!" Rhi tenta se acalmar, mas não consegue parar de tremer.
Allen não tira os olhos de sua filha. "Acho que é hora de levar Rhi para casa."
"Ah não! Já?" Alena dá os ombros e se levanta. Gostaria de poder andar até seu pai e dar um abraço nele. Mas sabe que não pode. Ao invés disso, ela ajuda Rhi se levantar e dá um grande abraço na menina. "Te amo, Rhi! Vejo você domingo que vem."
O pai de Alena faz um gesto para a menina menor e a mesma vai até ele. Alena já está organizando suas Barbies para brincar de escolinha. Allen coloca a mão pesadamente no ombro de Rhi enquanto andam pelos corredores até o carro. Lágrimas escorrem pelas bochechas de Rhi.
"O que eu te falei sobre tentar se esconder?" A voz de Allen é fria. Rhi não responde. A mão no ombro dela se aperta. "Se você não se comportar, terei que terminar sua amizade com Alena."
"Por favor, não." Rhi tenta olhar pra ele, mas Allen pega o queixo dela e vira para frente de novo.
"Vou ter que encontrar uma nova amiga para Alena. Usarei sua irmã mais nova, #1343. De qualquer forma, ela está quase pronta para ser usada."
O homem e a menininha atravessam a porta para a rua. Alena assiste-os pela janela e acena para os dois, mas ninguém vê. Foi a última vez que Alena viu Rhi.
Claro, até onze anos depois, quando Alena ficou cara a cara com o esqueleto humano que sobrou de sua ex-amiga, lá dentro da gruta de seu pai.
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Creepypastas ∆
Terror"O que é creepypasta?" Creepypastas são contos de terror (geralmente de autores anônimos) que se originaram na internet e são passadas entre fóruns, blogs e outros sites para assustar e perturbar seus leitores. O nome "Creepypasta" se originou das p...