85- Os 1% Parte 12

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Olga está sonhando com a Alemanha. Ela está usando um vestido de casa com os cabeços trançados. O sol espreita por atrás da cortina de sua mãe. Pão fresco e queijo a aguardam na mesa de jantar que conhecia desde a infância. Seu pai toca o acordeon. Ele abre a boca e ela se transforma num tipo de caixa, deixando o queixo cair em seu peito. Uma serpente negra sai de sua garganta e sorri para Olga, dizendo: "Faça por nós." Ela acorda ensopada de suor. Tinha transpassado até para suas roupas. Não, isso não é suor. Ela lembra lentamente da dor e de ir em direção a escuridão. Lembra do mais novo, o miststück, esfaqueando-a de novo e de novo e de novo. O seu coração apertou em seus peito. E Ally? Se aquele bastardo tiver encostado um dedo no seu amado Allen ela iria... Sua mente está pesada. O quarto está escuro. Talvez tenha morrido e aqui é o inferno. Mas é tão calmo ali na escuridão que chega a ser melhor do que morar com aquele Polonês fotze e seu filho ingrato. Talvez era antes que ela estava no inferno. Esse quarto escuro era o mais perto de salvação que já tinha experienciado. Olga não se mexe. A dor começa a voltar. Começa em suas têmporas e vai passando como um arame farpado por todo seu corpo. É dor física. Já tinha sofrido isso pelas mãos de seu marido muitas vezes. E antes dele, já sofria por causa de seu pai. Seu pai idiota que tocava a merda do acordeon pela manhã e batia nela e em sua mão durante a noite. O mesmo homem que havia vendido-a para um americano em troca de dinheiro para bebida. Mas a dor de ser espancada não se compara com a dor de ser despachada em um navio. Ou a dor de ver sua mãe se esconder atrás das cortinas, sabendo que apanharia se uma lágrima caísse de seus olhos. Tinha que deixar aquele hurensohn Polonês tocar em seus corpo para que ele não a matasse. Aquela dor - Aquela dor era insuportável. E mesmo assim ali ela estava deitada, deixando que o quarto escuro a confortasse da sua vida horrível. Mas não, nem tudo era tão horrível assim. Ela tinha o pequeno Ally. Ela queria ter dado seu próprio nome a ele, ao invés do nome do seu scheisskopf pai. Mas tudo bem. Pelo menos ela tinha alguém próximo que era do bem. Ela conseguia ver sua mãe nos olhos dele. Aquele menino tinha muitos problemas, mas sabia que se tornaria um bom homem. Um homem forte. Um homem que jamais bateria em uma mulher. Olga não tinha percebido que seus olhos ainda estavam fechados até que alguém ascendeu as luzes. A iluminação suave não irritou seus olhos. Abriu-os levemente e permitiu a luz entrar em sua retina. Talvez ela estivesse certa, talvez estivesse realmente morta. Talvez aqui seja o paraíso. A principio, ela não reconhece seus arredores. O quarto está coberto de lona azul. Quase não se parece com um quarto, na verdade. Mas há um cheiro ali que ela já conhece. Parece levemente com ossos de galinha ou caldo de carne. Ou talvez com um filé sangrento. É o cheiro que seu marido desgraçado carrega consigo todos os dias. Apavorada, percebe que provavelmente ainda está na casa dele. Allen II desvia de algumas lonas e entra no quarto. Ele está trajando seu jaleco de médico e um avental vermelho. Olhando mais de perto, Olga percebe que um dia aquele avental fora branco e estava na verdade manchado. Como sempre, ele não sorri. "Como você está se sentindo, #996?"

Olga segue o olhar dele até seu torso, que estava coberto de curativos. "Estou com dor." Ela nem registra o nome que ele havia lhe chamado.

"Isso é normal. A dor continuará." Seu marido chegou mais perto.

Instintivamente, ela se encolheu, causando mais dor ainda. "E Allen? Ele está bem?"

Allen II vira a cabeça para o lado. "Ele não tem mais esse nome. Agora ele se chama #995."

Os olhos de Olga começam a encher de lágrimas. "Não consigo entender."

"Você nunca entendeu." Ele está ao seu lado, examinando os curativos. "Você sempre foi muito normal para entender. Mas, tudo bem. Logo você entenderá a ideia geral disso. Agora você é um deles."

Olga quer fugir dali, mas não consegue reunir forças para isso. "Onde estou?"

"Você não está reconhecendo o porão?" Ele empurra o peitoral dela e ela sente uma dor repentina, mas nada faz. "Claro que você nunca veio aqui antes. Meu pai que projetou. A prova de som. Tem vários quartos, suficiente para armazenar alguns. O porão do meu escritório é bem maior. Nesse momento, tenho dez presos lá." "Dez o que?" Olga fica aliviada quando ele tira as mãos de seu corpo.

"Números. Ou pessoas, acho que você os chamaria assim. É aonde #995 está. Você não irá para lá, infelizmente. É melhor que ele ache que você está morta. Fará com que #995 se torne miserável mais fácil." Ele dá as costas para ela e coloca luvas. "Ele é o primeiro de Allen. Allen já removeu uma das mãos dele. Ele faz mais bagunça do que eu esperava, mas foi sua primeira vez." Olga respira fundo. "Não entendo. Allen está vivo?"

"O garoto que você se refere, nosso filho mais velho, se chama #995 agora. Esse é o nome que deve ter. Esse é o número dele." Allen II coloca uma máscara cirúrgica sobre o rosto. "O homem que carrega o nome da família é o nosso filho mais novo. Ele vem me demonstrando nos últimos dias que é digno de receber o nome Allen." Allen II pega uma seringa de algum lugar no seu jaleco. "Ainda tenho que dar pontos em algumas feridas que ele fez em você. Só os curativos não serão suficientes. Ia fazer isso alguns dias atrás, mas você estava dormindo. Quis esperar até que você pudesse sentir eu te costurando."

Olga sentiu todas suas emoções saindo de seu corpo. "Por que você não me mata logo?"

Allen II olhou para ela como se fosse louca. "Você é uma 1% agora. Finalmente tem um propósito. Você não está feliz? Você finalmente será algo que preste. Não será mais sem utilidade."

Olga fecha os olhos com força. Talvez ela consiga voltar para o quarto escuro. Ela sente a queimação da agulha sendo enfiada em seu braço. Mas sua mente está longe, lá na Alemanha. Ela e Ally estão de mãos dadas na varanda do seu chalé. A bebê deles está dormindo em seu berço. O sol está se pondo. Ally se inclina e sussurra algo lindo em seu ouvido.
Mas é a respiração quente de Allen II que ela sente no seu pescoço. Ele diz "Vou te curar por completa e depois te despedaçar pouco a pouco. Acho que vou começar com as linguiças alemãs que você chama de dedos."

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