Capítulo 3

1.1K 74 3
                                    

A brisa invernal castigava seu rosto, e Regina podia sentir leves flocos de neve caindo em seu vestido preto de plumas e seu grosso manto, enquanto o sol se escondia cada vez mais. Seu Castelo Negro se projetava acima dela. Estava agora quase branco, encoberto pela neve. E roubado dela. Ao redor, montanhas ainda mais altas completavam a paisagem.

Regina olhou ao seu redor; ali estavam Snow, Tinker, Blue Fairy e Zangado, todos preparados para colocar o que tinham combinado em ação. Ela repassou o plano mentalmente: Blue Fairy e Tinker iriam destruir as barreiras mágicas que Wilma tinha colocado ao redor do castelo. Enquanto isso, Regina lançaria labaredas de fogo para distrair Wilma. Quando as barreiras fossem destruídas, Regina, Snow e Zangado entrariam no Castelo, procurariam o pergaminho da Maldição e o queimariam. Charming não estava com eles, mesmo que tivesse insistido, porque tinha se ferido seriamente dois dias antes durante uma luta com um dos cavaleiros de Wilma.

"Não há como dar errado", tentou convencer-se Regina, embora soubesse que havia uma grande possibilidade de dar.

O principal problema era a altitude – eles se encontravam na floresta, e o castelo estava bem acima deles, o que exigia que as chamas de Regina fossem bem maiores do que chamas comuns. Tentou se concentrar, preparando-se para lançá-las.

– Pronta, Verde? - perguntou Blue, a alguns metros de distância

– Pronta, Blue - respondeu Tinker.

As duas apontaram suas varinhas para o castelo, muito concentradas, e a camada mágica transparente que o envolvia começou a fraquejar lentamente. A destruição da barreira ia ser lenta, então a distração de Regina tinha que ser muito boa. Ela concentrou-se e conjurou uma bola de fogo mágico nas mãos. Esticou o braço e fez com que as chamas crescessem, se tornando enormes labaredas que voaram para cima com toda a força e bateram na barreira, iluminando todo o castelo por alguns segundos.

– Isso deve ser o suficiente – disse Regina, mas continuou atirando chamas e mais chamas contra a proteção mágica que fraquejava cada vez mais. Logo, Wilma apareceu na janela, com um olhar furioso. Regina percebeu, com uma raiva crescente, que a bruxa usava um de seus vestidos. "Como ela ousa?" pensou.

– Você! – cuspiu ela, olhando para Regina. Em seguida, conjurou um raio em direção à irmã, que quase foi atingida – para sua surpresa, Snow se jogou contra ela, empurrando-a para longe do raio bem a tempo.

– Vocês realmente acham – falou Wilma, começando a rir e olhando para elas com desprezo – que podem contra mim?

Em seguida, Regina teve que se controlar para não gritar. Ainda caída no chão ao lado de Snow, ela olhou para cima e viu uma enorme figura se erguendo no céu acima delas. Uma figura escura e reptiliana com dois chifres – um dragão.

– Como você conseguiu manter um dragão dentro desse castelo? –exclamou Regina, incrédula, mas não teve tempo de obter uma resposta; o dragão cuspiu enormes labaredas que quase as atingiram.

Blue Fairy e Tinker olhavam desesperadas, mas tinham que continuar desfazendo a barreira, ou eles não poderiam entrar no castelo. Regina se levantou, encarando o dragão e pensando no que faria. Zangado segurava um bastão e o agitava contra o ar.

Snow empunhou sua espada e apontou-a para o monstro tentando parecer ameaçadora, sem muito sucesso. Ela usava sua roupa de caça, a mesma que usara durante anos enquanto era uma fugitiva na floresta, mas com um manto branco envolvendo-a. Seu cabelo estava completamente bagunçado, e ela parecia amedrontada. Ainda assim, tentou manter-se firme quando disse:

– Eu acho que posso lidar com um simples dragão!

Naquele momento, a barreira à qual Wilma não estava prestando atenção se desfez completamente. Blue e Tinker, aliviadas, começaram a lançar feitiços em direção à sacada de Wilma – uma nova distração. Regina entendeu sua deixa e começou a correr para longe do dragão, que agora estava concentrado nas fadas, assim como Wilma. Regina saiu despercebida da cena e abriu caminho pela floresta em direção a entrada do jardim do castelo. Percebeu que estava sendo seguida por Snow e Zangado, mas continuou correndo.

Não havia portões no palácio – nunca fora preciso, os camponeses sempre tinham respeitado e temido invadir o lar do Rei Leopold e mais tarde, da Rainha Má – e logo Regina adentrou o pátio que conhecia tão bem. Sua antiga macieira não estava mais ali; tinha desaparecido durante o tempo em que estivera fora. Seus passos ecoavam pelo local, acompanhados pelos passos dos outros dois, e ainda era possível ouvir o som da batalha e dos rugidos do dragão.

Depois de algum tempo, Regina virou-se para eles e perguntou:

– Então... Vocês vão continuar me atrapalhando ou...

– Te atrapalhando? – perguntou Snow – do que você está falando? Eu vou com você. Não vou deixar você entrar sozinha.

Regina surpreendeu-se, e disse, com uma sobrancelha erguida:

– Bem, então nesse caso acho melhor nós nos apressarmos. Não sei quanto tempo aquelas duas vão aguentar manter as coisas sob controle.

– Hã, Zangado... – falou Snow cautelosamente, virando-se para o anão – não acho que seja uma boa ideia três pessoas entrarem. Sabe, quanto menos gente melhor.

– Você está brincando? Não vou te deixar, Snow. Charming iria querer que eu fosse com você. Sem discussão.

Snow revirou os olhos e suspirou.

– Tudo bem, então. Vamos lá.

Os três continuaram a caminhar apressadamente enquanto adentravam o palácio. "Eu deveria ter saído mais discretamente" pensou Regina, mas não havia mais o que fazer.

Os corredores do jardim davam para a porta do Salão de Festas, que estava entreaberta. Os três entraram no amplo espaço, que estava completamente vazio, seus passos ecoando ainda mais alto.

– Então, Regina... Você tem alguma ideia de onde o pergaminho pode estar? –questionou Snow.

– Não – admitiu ela –mas há um feitiço que eu posso usar para localizá-lo.

Dizendo isso, ela conjurou um feitiço localizador. Alguns metros adiante, uma neblina roxa surgiu, avançando lentamente pelo cômodo.

– Tudo que temos que fazer – explicou ela – é seguir a neblina. E ela nos levará até o pergaminho.

Eles começaram a andar ainda mais rápido, tentando acompanhar a fumaça. Ela levou-os até uma escada em espiral. Subiram as escadas e se viram frente a uma pequena porta que Regina sabia aonde ia dar. A fumaça atravessou a porta, indicando que eles tinham que entrar.

Os sons da batalha ao longe tinham cessado, fato esse que Regina achou um tanto estranho. A porta que eles encaravam dava direto para os calabouços. Poderia ser uma armadilha. Mas não havia outra escolha. Eles tinham que se arriscar, ou nunca impediriam a Maldição.

– Então... – perguntou Snow – vamos entrar ou não?

Regina abriu a porta, que estava destrancada. Mais um sinal estranho. Mesmo assim, adentrou o cômodo, e fez sinal para que os outros dois a seguissem. Aquela era a cela onde ela costumava manter Belle presa – era possível ver os riscos na parede onde ela contava o tempo de prisão, desgastados com o tempo. O cômodo era redondo e espaçoso, com uma pequena rocha que servia de cama ao fundo e sem nenhuma janela.

– É impressão minha ou estamos em uma cela? –perguntou Zangado.

Antes que pudessem responder, alguém entrou no lugar. Wilma.

– Vejo que os bobinhos caíram como patos na minha armadilha – e dizendo isso, conjurou duas paredes de grades que subiam até o teto, dividindo o cômodo em três celas diferentes. Cada cela prendia um deles.

– Vejam, só por causa de sua insolência – disse Wilma, andando em direção à grade que separava Zangado e Regina – vou dar um castigo especial para vocês.

– Onde está Tinker? – perguntou Regina, lembrando-se dela repentinamente.

– Ah, não se preocupe. – respondeu ela - Ela e a outra fada estão lá fora, vivas. Por enquanto. Não sei se serão capazes de matar o meu dragão. Você realmente achou que eu não ia perceber a sua ausência, Regina? Mas como eu ia dizendo... Esse é um castigo especial para vocês. Por terem pensado que podiam me desafiar, vocês não terão a chance de se despedir de seus entes queridos antes da minha Maldição ser lançada.

Ela aproximou-se ainda mais de Regina, e ficando cara a cara com ela, disse:

– Ah é, Regina. Mas eu me esqueci... Você não tem entes queridos.

E começou a andar apressadamente em direção à porta. Abriu-a, bloqueando a entrada, e antes de sair disse:

– Ah, e não pense que você pode desfazer minha armadilha. Veja, estas celas que eu conjurei bloqueiam totalmente a sua magia... Maninha. – disse a última palavra com um tom irônico e uma expressão de desprezo. Fechou a porta fortemente atrás de si e foi embora.

Zangado tentou abri-la, mas era inútil. Ela estava trancada com magia. E nem mesmo Regina poderia abri-la.

– Estamos perdidos! – exclamou Snow – A Maldição vai ser lançada, nós vamos ficar aqui e não haverá ninguém para nos salvar!

Regina sentou-se no chão e tentou não se desesperar, mas era difícil.

Snow começou a pressionar as barras de ferro que a mantinham presa na parte esquerda do cômodo, mas não conseguiu nem mesmo balançá-las. Estando na cela do meio, Zangado era o único com acesso à porta. Tinha que haver um jeito de abri-la. Mas mesmo que houvesse, lembrou-se Regina, como ele libertaria as duas?

Ficaram sentados em completo desespero por alguns minutos, até que um olhar de repentina alegria passou pela face do anão. Tirando um frasco de seu bolso, ele virou-se para Snow e disse:

– Isso aqui é a nossa salvação. Sabe, ser um anão e trabalhar nas minas tem suas vantagens. Estoque ilimitado de pó mágico é uma delas.

– Então abra logo isso! –exclamou Snow. Zangado retirou a tampa do minúsculo frasco, jogou um pouco do pó em sua mão, soprando-o contra as grades que prendiam Snow, que desapareceram.

– Vamos lá, Snow – disse ele – vamos dar o fora daqui – e soprou um pouco de pó mágico na porta, que se abriu lentamente.

– Espere, Zangado – interrompeu Snow – você se esqueceu da Regina.

Regina notou que ainda havia um pouco de pó mágico no frasco, e olhou para ele. O anão respondeu seu olhar com outro de desprezo.

– Não, Snow. Eu não me esqueci dela. Vamos embora.

Snow parecia incrédula, assim como Regina.

– Você quer dizer... Que vamos deixá-la aqui? Presa?

– Ela merece! – gritou ele em resposta – Ela destruiu nossas vidas! Não acha que está na hora dessa mulher receber um pouco de punição pelo que fez?

Regina riu.

– Você decidiu se vingar de mim, anãozinho? – indagou ela com uma voz carregada de ironia e desprezo – Vá em frente. Deixe-me aqui. Mas fique sabendo que vocês não vão a lugar nenhum sem minha magia. Vocês não são nada sem mim. Boa sorte em sua missão fracassada. Espero que se lembre disso quando estivermos no outro mundo com nossas vidas arrancadas de nós.

Ela não iria suplicar pela misericórdia de um anão idiota. Podia ter perdido muitas coisas, mas ainda tinha sua dignidade. Só ficou espantada e levemente magoada pelo fato de que ninguém parecia notar que ela não era mais a Rainha Má. Era tão difícil assim perceber que ela tinha mudado?

Mas Zangado parecia decidido.

– Está vendo, Snow? Ela não demonstra um pingo de bondade! Além disso, você ouviu a bruxa. Ela não tem entes queridos. Nós temos. Vamos dar o fora daqui. Nós ainda podemos alcançar a neblina, queimar o pergaminho e salvar o reino.

Snow virou-se para Regina com uma expressão culpada no rosto, e disse:

– Sinto muito, Regina.

Os dois saíram pela porta de mãos dadas, deixando-a presa. Regina bufou de raiva. Anos de poder e onde ela tinha ido parar? Presa em seu próprio castelo.

Mas de repente, ela ouviu um ruído. Um baque alto de metal e algo se chocando contra o chão. Em seguida, Snow adentrou o cômodo novamente, desta vez sozinha, com o pequeno frasco em suas mãos.

– Você voltou? Para me libertar?

– É claro. Eu não deixaria você aqui.

– Mas... Por quê?

– Por que você mudou, Regina. E eu confio em você.

Regina jamais admitira aquilo em voz alta, mas se emocionou com a declaração de Snow. Ela nunca a odiara de verdade. Apenas precisava de alguém para culpar por sua infelicidade.

Snow soprou o resto do pó mágico contra as grades que prendiam Regina. Elas sumiram, e Regina se levantou.

– Venha – disse Snow, oferecendo sua mão para a antiga madrasta – Vamos sair daqui antes que eu resolva mudar de ideia.

– Mas e o Zangado? – perguntou Regina, enquanto as duas andavam para fora do calabouço.

– Ah, eu o nocauteei. – respondeu Snow, como se fosse algo muito simples e natural.

– E vai deixá-lo aqui?

– Bom... – respondeu ela quando saíram pela porta e encontraram o corpo do anão inconsciente no chão – eu não vou carregá-lo, você vai?

Regina olhou para a jovem e riu.

***************

A fumaça rosa se aproximava. Regina estava na floresta, na cabana onde tinha sido abrigada por Snow, tantos anos antes. Vivera momentos tão inesquecíveis ali que sabia o caminho de cor. Desde que ela a salvara da cela de Wilma, Regina tinha pensado muito. Sobre perdão, e sobre superar o passado.

Infelizmente, elas não tinham conseguido queimar o pergaminho. Regina estava prestes a fazê-lo quando Wilma tomou-o dela. Mas Regina fez outra coisa antes disso. Algo que ela não contou a ninguém.

Semanas antes, ela havia pegado um fio de cabelo de Snow e outro de David. A maioria achava que ela não tinha tanto poder para isso, e nem mesmo ela sabia que era capaz. Mas ela fora. Criara uma poção do amor verdadeiro, como a que Rumplestiltskin criara na primeira maldição.

Quando entrou no castelo para queimar o pergaminho, ela levou consigo um frasco com um pouco da poção, sem que ninguém soubesse. E antes que Wilma tomasse-o dela, Regina conseguiu despejar uma gota do líquido nele. Uma válvula de escape. O que significava que o fruto do amor deles poderia salvá-los de novo. Emma poderia salvá-los mais uma vez.

A possibilidade de ser salva por Emma mexia tanto com Regina que ela preferia nem pensar nisso. Talvez Wilma tivesse percebido e tivesse tirado a poção do pergaminho. Talvez. Mas ela tinha que ter fé. Emma iria encontrá-la.

Estava tão absorta em seus pensamentos que mal notou a tempestade de raios começando. E a fumaça rosa se aproximando cada vez mais, encobrindo todo o Reino. Todos os outros deviam estar desesperados, pensando que não tinham salvação. Mas o importante é que eles tinham, e Regina sabia disso.

Quando a fumaça da Maldição finalmente chegou aonde ela estava e começou a entrar em seus pulmões, tudo começou a girar, e a última coisa que Regina disse, de olhos fechados e sorrindo, foi:

– Eu sabia que veria vocês dois novamente... É melhor vir me salvar logo, Senhorita Swan.

Não era tarde demais, no fim das contas.

Give Me LoveWhere stories live. Discover now