Capítulo 27

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    Regina continuou chorando por cerca de dez minutos, quando escutou a voz de Emma do lado de fora mais uma vez.

– Regina, por favor, abra a porta. Eu prometo que não vou te prender. Eu posso simplesmente dizer ao meu pai que você fugiu e ir embora, mas Henry está aqui. Ele quer conversar com você.

Henry. À menção de seu nome, Regina levantou-se e destrancou a porta, abrindo-a por completo. Emma encarava-a com olhos inchados, e Henry parecia prestes a chorar também.

– Henry! – ela exclamou, tocando o rosto do garoto, mas ele afastou sua mão.

– Eu vim ver se você estava bem – disse ele, com frieza. – Mas vejo que você está mais do que bem. Afinal, você estava fazendo mal a outra pessoa.

Aquilo pegou Regina desprevenida.

– Eu fiz mal a alguém que também me prejudicou muito, Henry! – protestou ela.

– Não importa. Eu achei que você estava disposta a mudar por nós, mãe, mas vejo que me enganei. E se você não quer mudar por nós... Significa que você não nos ama de verdade.

Regina se sentiu a pior pessoa do mundo, mas o que Henry estava falando era absurdo. É claro que ela os amava, e mais do que tudo. Mas naquele momento, notou, a imagem de heroína que Henry costumava ter dela estava completamente arruinada.

– Henry está certo, Regina – interveio Emma – Você prometeu a ele que seria uma pessoa melhor. E você me prometeu que não lutaria com Wilma. Mas você está sempre quebrando suas promessas, sempre caindo nos velhos erros de novo. Por que, Regina? Por que você não poderia ter simplesmente prendido-a como eu falei? Por que você tem sempre que querer vingança?

– Me desculpe, Emma, mas essa mulher me fez muito mal! Emocionalmente e fisicamente! Ou você se esqueceu das feridas que ela me causou? Aliás, ela fez todos nós sofrermos! Ela esteve jogando conosco e nos torturando de diferentes formas nas últimas semanas, então sim, eu queria que ela pagasse!

– Ela iria pagar, Regina. Ela iria pagar pelo que fez se você tivesse ajudado, mas da forma certa; na cadeia, não sendo torturada ou tendo o seu coração arrancado. Isso é desumano.

Henry tinha se calado; apenas observava a discussão, assustado. Regina tentava, a todo custo, encontrar algum argumento que pudesse convencê-la, que pudesse fazer Emma compreender seus motivos e perdoá-la.

– A justiça convencional não seria o suficiente para ela – insistiu – Eu preciso fazê-la pagar com minhas próprias mãos. Só assim ficarei satisfeita. Sinceramente, Emma, você me perdoou depois de eu ter tentado te matar, tentado matar seus pais, ter matado Graham, e agora não vai me perdoar por ter desejado me vingar de alguém que só me fez mal?

Emma assumiu uma expressão de choque, e Henry também. Só então Regina percebeu que falara demais; nenhum deles sabia que ela fora a responsável pela morte de Graham. Ela nunca tinha revelado isso a ninguém.

– Você o quê? – exclamou Emma, completamente pasma – Você... Você matou Graham?

– Me desculpe – disse ela, tentando se explicar – Você sabe que eu estava com inveja da relação de vocês, e eu... Eu... Sinto muito.

– Você tem ideia – bradou Emma, com o rosto assumindo uma coloração vermelha – de por quanto tempo eu achei que a morte dele tivesse sido causada por um enfarto? E agora, depois de tanto tempo, você vem me contar uma coisa dessas? Você o matou?

Regina não esperava que ela fosse ficar tão chocada; afinal, já fazia bastante tempo.

– Isso foi há dois anos! – protestou – Eu nunca faria isso de novo, se pudesse voltar atrás.

– É mesmo? E quem garante que você não vai ficar com ciúmes e me matar se me vir conversando com algum homem? Se você fez isso com o Graham, o que a impede de fazer comigo?

– Como você pode pensar que eu, algum dia, seria capaz de te machucar? – falou Regina.

– Talvez não a mim, mas você acabou de mostrar que é capaz de machucar as pessoas que eu amo. Afinal, você acaba de tentar matar meu pai enforcado!

– Ele não chegou nem perto de morrer! E eu estava com raiva porque ele tentou intervir na nossa relação, me desculpe.

– Isso não te dá o direito de tentar enforcá-lo! – gritou Emma.

Henry observava a tudo em silêncio, recostado em uma das colunas de pedra, chorando. Regina queria consolá-lo, mas sabia que ele reprimiria o gesto.

Suspirou. A cada segundo sua vontade de chorar aumentava, principalmente porque sabia que Emma estava certa, mas não conseguia abandonar o instinto de defender suas ideias a qualquer custo.

– Regina, se você quiser ter uma família – continuou ela – Você não pode continuar saindo por aí e matando todos que te fazem mal. Não podemos continuar fingindo que isso é normal e aceitável, porque não é. Como você quer que o Henry tenha um crescimento saudável com uma mãe assassina?

– Eu pensei que você me amava – rebateu Regina – Mas você não é capaz de aceitar quem eu sou.

– Você acha que é uma assassina, Regina? – retrucou Emma, irritada - Realmente acha que esse monstro é a Regina verdadeira? Eu sei que não é. Minha mãe me contou histórias sobre quando você era uma jovem que a salvou de morrer num cavalo desgovernado. Ela me disse que, um dia, você foi uma pessoa gentil, bondosa... E feliz. Você pode achar que ser uma vilã faz parte de você, Regina, mas não faz. Eu vi a verdadeira Regina. Poucas vezes, mas vi. A verdadeira Regina é uma pessoa maravilhosa, divertida, altruísta, bondosa. Não alguém que mataria a própria irmã. Eu só... Eu só queria que você percebesse isso também. Que você tentasse despertar esta Regina verdadeira que ainda vive aí dentro, para que nós pudéssemos ser uma família feliz.

Regina começou a chorar. Ela odiava admitir, mas era verdade. Matar pessoas, torturar, se vingar – nada daquilo fazia parte do seu verdadeiro eu, da Regina com a qual ela nascera e fora realmente feliz. Tudo aquilo era somente uma maneira que ela arranjara de escapar da verdadeira Regina, porque seu passado era doloroso demais para encarar.

– Eu só quero que você se liberte de todo este ódio, Regina – continuou Emma – Porque você nunca vai ser realmente feliz enquanto não deixá-lo de lado.

Regina percebeu que era verdade; ela estivera tão concentrada em abandonar seu ódio por Snow que nem se dera conta de que ela odiava muitas outras coisas. Seu ódio se manifestava por toda parte, e havia ainda várias coisas que ela precisava corrigir – não apenas sua relação com Snow, mas sua relação com o mundo e consigo mesma.

– Então, Regina, eu vou te fazer uma pergunta – anunciou Emma, fechando os olhos e tentando se acalmar – Você está disposta a desistir completamente de sua vingança contra Wilma? Você está disposta a esquecer o passado, e nunca mais ferir nem a sua irmã e nem ninguém? Por mim e por Henry?

Regina respirou fundo. Tudo o que ela mais queria era dizer "sim", mas havia uma parte dela que simplesmente não conseguia esquecer tudo o que Wilma fizera. Ela não achava que seria capaz de conviver com aquelas lembranças sem fazer nada a respeito – sua raiva, seu desejo de vingança, eram fortes demais para ignorar. A vontade de feri-la estaria com ela todos os dias, e prometer a Emma que iria superá-la só traria mais decepções.

– Sinto muito, Emma, mas não. –forçou-se a dizer, cada palavra doendo como uma facada – Ela me causou sofrimento demais, e eu preciso fazer com que ela sofra também. É mais forte do que eu.

Emma deixou as lágrimas escaparem, e assentiu. Tocou o ombro de Henry, chamando-o para ir embora.

– Então adeus, Regina. – disse ela – Eu passarei aqui mais tarde para pegar as minhas coisas e as do Henry.

Dizendo isto, Emma virou-se e os dois foram embora, o último olhar amargo do garoto marcado em seu pensamento.

Regina entrou, fechou a porta, e mais uma vez, chorou como uma criança.

Fora fraca demais para resistir à vingança, e agora estava perdendo tudo de bom que conquistara em troca de breves momentos de revanche. Ela só queria que Emma pudesse entender seu impulso incontrolável de punir Wilma, ou que ela não sentisse aquele impulso. E mesmo que a vingança só estivesse deixando-a cada vez mais infeliz, ela decidiu ser honesta consigo mesma e admitir que jamais conseguiria evitá-la. Simplesmente não suportava a ideia de deixar Wilma nas mãos da justiça, sem fazê-la provar do próprio veneno.

No entanto, a convicção de sua fraqueza não anulava a culpa e o remorso que sentia; ela tivera uma família perfeita por breves horas, e arruinara tudo por causa de um defeito do qual não conseguia fugir. As lágrimas saíam cada vez mais, borrando sua maquiagem, enquanto, entre soluços, ela se lembrava da decepção estampada no rosto de Henry, e do sofrimento nos olhos de Emma.

Em um ato impulsivo, Regina afundou a mão no peito e retirou o próprio coração. Decidiu que merecia sofrer pelo que fizera aos dois, e olhou para o coração em sua mão. Metade dele estava limpa, em um vermelho puro, e a outra metade ainda estava repleta de pontos negros. Será que algum dia ela conseguiria se livrar daquela metade escura?

Regina envolveu os dedos ao redor de seu coração, e começou a apertar lentamente, gemendo de dor. Talvez ela perdesse o controle e acabasse esmagando-o até virar pó, mas não se importava muito – provavelmente merecia, e naquele momento onde a dor era sua única companhia, a morte seria bem-vinda.

Lembrou-se de algo que Emma lhe dissera mais cedo; "Ele provavelmente está orgulhoso de você, seu pai". Pareciam memórias de outra vida distante. Agora, se seu pai pudesse vê-la, orgulho seria a última coisa que ele sentiria. Pensando naquilo, sua amargura aumentou ainda mais, e ela apertou seu coração ainda mais forte. Mas depois de um tempo, a dor se tornou tão excruciante que ela não conseguiu evitar abrir a mão e libertá-lo de suas unhas. Ainda era apegada demais à sua vida para fazer aquilo.

Continuou sentada ali por um bom tempo, chorando em meio aos destroços e estilhaços, esperando que algum milagre levasse seu sofrimento embora.

***

Era o pôr do sol, e Regina estava em seu quarto, sentada em sua cama e observando o céu pela janela, tentando se distrair para não pensar na dor. Já tinha organizado a sala com magia, mas sua vida e seus sentimentos estavam uma bagunça.

Mais cedo, Emma fora até lá para pegar suas coisas, mas ignorara Regina completamente. Na verdade, a prefeita ficara trancada no quarto enquanto ela pegava suas coisas e as de Henry, incapaz de encarar seu olhar novamente. David ainda estava procurando por ela e por Wilma – aparentemente, ele não sofrera nenhum dano grave com o quase sufocamento e estava em casa, passando bem – mas Emma fingira que Regina havia fugido, para não ter que entregá-la. Mesmo após tudo o que ela fizera, Emma não se cansava de ser gentil e maravilhosa.

Olhando para o céu do crepúsculo, pensando no que seria de sua vida sem os dois, ela viu uma figura negra voando em alta velocidade. Inicialmente, era apenas um pequeno ponto negro ao longe, mas logo ela percebeu que estava vindo em sua direção, e conforme a figura foi se aproximando, ela percebeu do que se tratava: Um macaco voador.

Mas tão logo ela chegou a esta conclusão, o animal irrompeu pelo quarto, quebrando a janela e avançando contra ela entre altos guinchos. O animal era negro, peludo, e possuía largas asas da mesma cor de seu pelo. Ele pulou contra Regina antes que ela pudesse se defender, fazendo um rasgo na manga de seu vestido com as garras, e abrindo um pequeno corte em seu ombro, que sangrava.

Porém, logo depois de machucá-la, o macaco bateu asas e foi embora, saindo pela mesma janela quebrada por onde entrara. Aquilo era muito estranho, pensou Regina. Ela sabia que os macacos voadores eram capangas da Bruxa Má do Oeste – Wilma – então aquela invasão misteriosa não poderia ser algo bom.

Por via das dúvidas, resolveu colocar uma proteção mágica ao redor da casa, enquanto ia tratar do ferimento.

***

Já fazia um dia que ela e Regina tinham terminado tudo, e Emma estava sentada em uma mesa no Granny's, que naquele momento estava lotado, tomando um chocolate quente, que, por algum motivo, a fazia lembrar-se de Regina. Tudo ultimamente a fazia lembrar-se de Regina.

Sem ela, as horas se arrastavam como dias nublados, recheadas de tristeza. Na última noite, dormir na casa de seus pais longe de Regina, longe de seu toque e de seu afeto, fora extremamente doloroso, e ela não sabia se algum dia seria capaz de se acostumar a sua ausência. Ela queria tanto que Regina pudesse superar o ódio e a negatividade que tinha dentro de si, queria tanto vê-la feliz... Mas não havia o que fazer. Regina escolhera a própria infelicidade.

Ver o sofrimento de Henry era terrível também; o garoto tinha esperanças de que a mãe pudesse ser uma heroína, e agora ela tinha escolhido continuar sendo uma vilã. Ver a felicidade sendo arrancada da face do garoto era como perder tudo que fazia a vida valer a pena. Mas ela tinha esperanças de que ele ia superar aquilo. Tinha que superar.

Enquanto pensava em tudo aquilo, Henry adentrou o restaurante, e Emma notou que o garoto tinha um pequeno corte no ombro e uma expressão atônita.

– O que aconteceu? – perguntou ela, preocupada, quando ele se aproximou, tocando o ombro dele – Você está bem?

– Eu... Eu acho – disse ele, ofegante e assustado – Eu acabei de ser atacado por um... Um macaco voador.

– O quê?

– Foi o que você ouviu. Eu já li sobre essas criaturas no meu livro, eles são servos da Bruxa Má do Oeste.

– Wilma?

–Exatamente. E quando eu estava vindo da Mary Margaret para cá, eu me deparei com um deles voando na minha direção. Ele passou suas garras pelo meu ombro e foi embora. Isso é estranho.

– Muito estranho! – respondeu Emma – Esta cidade está mais perigosa do que eu pensava. Isso significa, mocinho, que você não vai mais andar sozinha na rua enquanto nós não capturarmos Wilma. Já imaginou o que poderia ter acontecido? Temos muita sorte de você estar bem – disse, e abraçou-o, preocupada. Ela talvez pudesse pensar em superar a perda de Regina, mas perder Henry seria simplesmente insuportável. Levantou-se e disse:

– Vamos para casa cuidar deste corte.

Mas quando os dois se levantaram, a porta da cafeteria se abriu, e Wilma entrou. Usando um terno preto sobre uma saia, ela disse:

– Estão todos aqui? Eu tenho um anúncio importante a fazer.

David levantou-se do banco onde estava sentado e avançou em direção à bruxa, mas ela conjurou uma barreira semitransparente que a separava das outras pessoas.

– Vejo que vocês estão bem irritados comigo, por isso vou ser clara e objetiva. Digamos que eu tenho um... Anúncio, que envolve diretamente todos os habitantes de Storybrooke. A vida de vocês está em jogo, então apareçam amanhã, às onze horas, em frente ao poço dos desejos. Eu estarei lá e explicarei, com detalhes, os meus planos.

– E se nós não aparecermos? – questionou Granny, do balcão.

– Então, digamos que vocês se darão mal. Muito mal. E nem mesmo saberão disso. Agora, se me dão licença... Preciso ir.

Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa ou tentar entender o que ela acabara de dizer, Wilma desapareceu, junto com a camada de proteção.

– Bom, não sei quanto a vocês – disse Emma - Mas eu acho que esta é uma ótima chance de colocarmos as mãos nela.

– E se isso for uma armadilha para todos nós? – indagou Mary Margaret, ao que vários concordaram.

– É por isso que somente eu, Emma e a Madre Superiora vamos até lá – interveio David – A não ser, é claro, que vocês queiram se arriscar. Isto pode ser uma armadilha, então se vocês quiserem ir, estejam avisados. Mas é melhor somente nós três irmos. Chegamos lá, capturamos Wilma e a prendemos de uma vez por todas. – disse ele, olhando para Emma, que assentiu, concordando com o plano, e perguntando-se o que aquela bruxa estaria planejando. Aquele questionamento também deu origem a outro, inevitável: Será que Regina aproveitaria esta oportunidade para tentar algo contra a irmã?

No dia seguinte, no horário marcado, Emma percebeu que os habitantes de Storybrooke não são os melhores em cumprir com combinados. Quando chegaram ao poço dos desejos da cidade, dezenas de pessoas estavam reunidas ao redor – Emma reconheceu Belle, Granny, Ruby e alguns dos anões, entre vários outros rostos conhecidos. Ao descer do carro, pôde avistar Henry ao lado de Mary Margaret.

– Eu pensei que tinha mandado você ficar em casa! – advertiu ela.

– Me desculpe, Emma – disse Mary Margaret – Mas eu estava muito preocupada, e resolvi que precisava vir aqui para ver que aviso é esse. E, como seria perigoso deixar o Henry sozinho, eu o trouxe comigo. Espero que não se importe.

Emma arqueou as sobrancelhas.

– Tudo bem, mãe. – disse.

Emma procurou David em meio à multidão, e logo o encontrou. Os dois ficaram lado a lado, armados e preparados para quando ela aparecesse. No entanto, quando Wilma chegou, materializando-se em sua fumaça verde, havia a mesma camada de proteção mágica que ela usara no dia anterior ao redor de seu corpo, movimentando-se junto com ela; uma proteção que eles não poderiam quebrar. Sendo assim, resolveram esperar que ela desse o tal aviso.

– Vejo que vieram todos – disse ela, em uma voz anormalmente alta para que todos escutassem – Pois muito bem. O que eu tenho para lhes contar aqui hoje... É que eu preparei um novo feitiço. Um feitiço muito poderoso que, dependendo de suas escolhas, decidirá para sempre o desfecho desta história.

Emma perguntou-se do que ela estaria falando, cada vez mais preocupada, e desejou que Wilma pudesse ser um pouco mais clara. A bruxa pareceu ler seus pensamentos, pois disse:

– No dia de hoje, vocês terão que tomar uma importante decisão. Uma decisão que, de qualquer forma, acarretará em sangue derramado. Hoje, vocês terão que escolher entre a total destruição de Storybrooke... E a morte de Regina Mills.

Give Me LoveWhere stories live. Discover now