Capítulo 20

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Emma's PoV

Emma não sabia que dragões podiam falar, mas afinal, o que ela sabia? Aquele nome, "Maleficent", lhe era familiar, mas ela não conseguia se lembrar onde o tinha escutado. A princípio, assustou-se um pouco com a frase "A Senhora de todo o Mal", mas ela tinha se apaixonado pela Rainha Má, então esses nomes não eram exatamente ameaçadores para ela.

Emma sacou seu revólver quando o dragão - ou dragoa - começou a se aproximar dela em passos lentos. Mas então ela percebeu que não podia matá-lo - não sem antes saber se ele guardava algo importante.

- Hã... Você, por acaso... Tem algo mágico ou coisa do tipo? Algo que eu possa usar para quebrar a Maldição?

Deus, como aquilo era estranho. O dragão soltou um grunhido que soou como "Sim". Bom, pelo menos ele estava disposto a ajudar.

Ele começou a se aproximar ainda mais, e Emma não sabia o que devia fazer. Provavelmente ela devia matá-lo, mas então como saberia onde estava o objeto que ela precisava encontrar? Quando ele chegou a três metros de distância, Emma apontou a arma para ele novamente, mas para sua surpresa, o animal virou-se e derrubou a arma de sua mão com a cauda. Aquilo doeu como uma chicoteada.

Em seguida, começou a virar-se de frente novamente, e Emma se desesperou. Olhou para a sua esquerda; a arma tinha sido jogada a alguns metros de distância, e ela não conseguiria pegá-la a tempo. Tinha que fazer outra coisa, e rápido.

Fechou os olhos e começou a pensar em Regina, em seu amor por ela, e em como estava desesperada para salvá-la. Pensou em Henry, e em como queria que ele e Regina fossem uma família novamente. E quando o dragão avançou contra ela, Emma ergueu as mãos na altura da cabeça, em um movimento impulsivo, e os ruídos cessaram.

Emma abriu os olhos, confusa. O dragão estava envolto em uma espécie de redoma semitransparente - magia. Mas de onde aquela magia teria surgido? Então ela se deu conta: Tinha surgido dela. Emma fizera magia. Quando fechou os olhos e pensou em Regina e Henry, ela, de alguma forma, conseguiu prender o dragão magicamente.

Recuperando-se da surpresa, ela sorriu, estupefata. Mas voltou a se assustar quando percebeu que o dragão não estava preso- ele foi envolto em uma nuvem de fumaça rosa e começou a girar, tornando-se um borrão escuro. Sua figura desapareceu e foi substituída pela figura de uma mulher alta, com cabelos loiros e cacheados, usando um longo vestido rosa e uma capa roxa espalhafatosa. Em sua mão direita, segurava um cajado de madeira, e em sua cabeça havia dois chifres de metal.

- Quem é você? - perguntou Emma.

- Você não sabe? - questionou ela, em uma voz fina e teatral, como se fosse um absurdo que Emma não a conhecesse - Eu já disse. Sou Maleficent, a senhora de todo o mal. E a maior metamorfa de todos os tempos.

- Meta o quê?

Maleficent suspirou, impaciente.

- De qualquer forma, eu tenho que lhe agradecer por ter me trazido de volta para minha forma original. Ah, como eu senti falta do meu corpo humano... - disse, mexendo os braços e olhando para si mesma.

- Hã... De nada. - respondeu Emma, confusa.

- Mas não pense que eu serei sua aliada, Srta. Swan - disse ela - Eu simplesmente preciso de você para algumas coisas. A primeira delas já se realizou. Agora vamos à segunda parte, que é o motivo de você ter descido até aqui, suponho.

- Sim. Eu vim porque me lembrei que, da última vez, a poção de amor verdadeiro estava aqui... Aliás, eu não entendo... Eu pensei que tivesse te matado.

Maleficent deu um sorriso irônico e forçado, como se aquela lembrança lhe deixasse furiosa.

- Sim, você... "matou" - disse, falando aquela última palavra com um tom de caçoo - Mas temporariamente. É preciso muito mais do que uma espada para me matar, Emma.

"Eu estava presa aqui porque Regina tinha me aprisionado antes de lançar a Maldição, e decidiu que queria me manter aqui nesse buraco, aprisionada em minha forma bestial" - continuou ela - "É claro, afinal ela sabia o quanto eu era perigosa. Depois que você me destruiu, por assim dizer... Eu fui reduzida a cinzas, sem conseguir assumir uma forma concreta por muito tempo. Se antes eu não conseguia assumir a forma humana, depois de você... Atravessar meu estômago com sua espada, eu não conseguia sequer me transformar em um mero unicórnio. Fui reduzida a um simples espírito, como um pobre fantasma andando por esta maldita caverna, de vez em quando conseguindo reunir minhas cinzas em uma espécie de zumbi monstruoso. Nada muito digno, mas eu ainda era útil para espantar alguns visitantes indesejados e guardar o gatilho de Regina. Ah, Regina..."

Emma ouvia tudo atentamente, esperando que algo de útil para ela surgisse daquele relato. Os olhos azuis da feiticeira possuíam uma amargura expressiva.

- Mas isso foi até o dia em que Storybrooke deixou de existir. Quando todos voltaram para o outro mundo, eu finalmente estava livre. Livre de qualquer caverna ou prisão. Assim que entrei em contato com a magia da Floresta Encantada, retornei à minha forma humana, da qual Regina havia me privado por tantos anos. Mas decidi ser discreta. Mantive-me escondida em meu castelo, longe de todos... E ninguém notou a minha ausência. Nem mesmo a pessoa que se referia a mim como sua única amiga. Estavam preocupados demais com essa nova bruxa verde do outro Reino. Eu devia ter sido mais rápida em meus planos, pois a tal Wilma lançou uma nova Maldição. E fomos todos trazidos de volta para a Terra sem Magia. É claro que até mesmo ela tinha ouvido falar de minha grandeza e poder, por isso fez o mesmo que Regina - optou por me manter aqui, nesta droga de caverna. E, mais uma vez, eu fui aprisionada na minha forma de dragão. Até agora."

Sorriu para Emma ao dizer aquilo.

- Só havia uma coisa capaz de me retirar da minha "prisão corporal". A magia da Salvadora.

Emma respirou aliviada. Então ela era mesmo a Salvadora. Mais uma vez.

- Mas... Eu pensei que não houvesse magia aqui. - observou, confusa.

- E não há. Esta caverna é uma exceção - respondeu Maleficent. Em seguida, continuou:

- Um dia antes de lançar a Maldição, Wilma descobriu sobre a poção que Regina tinha feito e colocado no pergaminho. - Neste ponto, Emma sorriu, orgulhosa da esperteza de Regina - Mas não havia mais como retirá-la. Apenas como escondê-la. Então, sem que Regina soubesse, Wilma roubou o resto da poção de amor verdadeiro que sua irmã tinha fabricado, e deu-a a mim. Ela disse que nessa nova terra eu seria a responsável por guardá-la, e impedir que você pudesse usá-la para quebrar a Maldição. Eu escondi a poção no topo de meu cajado - disse, indicando a pequena bola de cristal que havia no topo do seu cetro de madeira - Cajado este que, por acaso, só aparece quando estou em minha forma humana. Mas veja bem, Srta. Swan... Eu não quero impedi-la de quebrar a Maldição. Primeiro porque eu não recebo ordens de ninguém, e segundo porque eu preciso que você a quebre. Porque, enquanto esta maldição não acabar, eu não posso sair daqui. Sob nenhuma forma.

Maleficent tirou a órbita de seu cajado, que se desencaixou facilmente, e entregou-a a Emma. Era um pouco pesado, então ela tomou cuidado para que não caísse. Observando a esfera, notou que havia uma espécie de líquido rosa dentro dela.

- É claro que o beijo de amor verdadeiro é sempre o jeito mais poético de se quebrar uma maldição - disse Maleficent - Mas o que você está segurando é a forma mais prática. Dentro deste globo, está todo o resto da poção de amor verdadeiro dos seus pais que Regina fabricou. Não há mais nenhuma gota além do que está aí dentro, então seja cuidadosa.

- E como eu uso isso? - indagou Emma, perguntando-se se poderia confiar naquela vilã, mas notando que não tinha muita escolha.

- Isso é com você. - respondeu ela - Provavelmente basta despejar toda a poção em alguma fonte de magia da cidade... Quero dizer, deve haver uma. Algum... Lugar onde as coisas perdidas retornam.

Emma já tinha ouvido aquelas palavras antes. Claro, de August. O lugar do qual Maleficent falava era provavelmente o poço dos desejos de Storybrooke, o qual eles tinham visitado algumas vezes.

- E lembre-se, Emma: Você é a única pessoa que pode fazer isso, pois você é a Salvadora.

- Obrigada - ela disse, ainda um pouco desconfortável.

- Mas eu tenho que lhe avisar, Senhorita Swan... Quando a Maldição for quebrada, você e Regina estarão em perigo.

Claro. Estava bom demais pra ser verdade. Emma suspirou, e perguntou:

- Que tipo de perigo?

- Eu. - ela respondeu, com um sorriso maníaco - Veja bem... No instante em que eu estiver livre deste lugar, vou correr atrás da minha vingança. Contra você, Regina... E especialmente contra uma velha inimiga, Aurora.

Ótimo, Emma pensou. Isso era exatamente o que aquela cidade mais precisava: Outra bruxa em busca de vingança. Será que eles nunca teriam descanso? E será que os velhos inimigos de Regina nunca deixariam de aparecer?

- Mas... Por que você quer vingança contra nós? - questionou ela.

Maleficent riu.

- Você ainda pergunta? Você tentou me matar, Emma. Graças a você, eu passei da minha forma de dragão, que já não era tão agradável, para um monte de cinzas amontoadas. Para um espírito moribundo, um morto-vivo ridículo.

- Eu fiz isso porque eu não tinha outra escolha! - defendeu-se Emma - Meu filho estava morrendo, e eu precisava da poção.

- É mesmo? - disse ela, num tom de voz irônico de falsa preocupação - Eu não poderia me importar menos.

Emma fechou os olhos, perguntando-se porque as coisas pareciam nunca acabar.

- E Regina?

- Regina é uma traidora. Na verdade, nós costumávamos ser amigas por muitos anos... Até que ela roubou a Maldição das Trevas de mim. Maldição esta que ela tinha me dado por livre e espontânea vontade. Mesmo após eu tê-la aconselhado a não fazer aquilo, dizer que seria perigoso, que haveria um preço... Ela foi burra o suficiente para lançá-la. E aprisionou sua única amiga sob a forma de dragão por vinte e oito anos! Você tem ideia do quanto é ruim viver em uma constante transfiguração? Regina tem que pagar pelo que ela fez. Ela não se importou nem teve a menor consideração por mim.

Ela parecia realmente magoada enquanto falava tudo aquilo. Emma lhe disse:

- Eu sei. Eu sei que Regina foi... Realmente má um dia, mas ela mudou. É sério, ela mudou. Ela não é mais aquela Rainha Má. Regina agora é uma mãe. Ela se tornou uma pessoa boa. Você disse que a Maldição teria um preço, e você estava certa, ela teve. Regina sofreu muito pelo que fez. Ela... Perdeu muitas coisas, e passou por inúmeros momentos dolorosos nos últimos anos. Ela colheu tudo de ruim que plantou. Mas ela também se redimiu. Ela não é mais essa pessoa. Você tem que acreditar - suplicou Emma - Regina merece uma chance. Talvez vocês possam ser amigas como eram antes, eu não sei, mas se você vê-la novamente, vai entender o que eu estou falando.

Maleficent não pareceu acreditar.

- Ela não poderia mudar - disse - Pessoas como nós nunca mudam. É tão tarde para ela quanto é para mim.

- Não, não é. - insistiu - Você pode ser uma pessoa melhor, como a pessoa que Regina se tornou.

Maleficent não respondeu; apenas olhou para ela com amargura, como se considerasse a si mesma uma pessoa boa até aquele momento.

- E Aurora? O que ela te fez? - perguntou Emma

- Digamos apenas que... Eu tive uma história complicada com a família dela. Passei anos perseguindo sua mãe, e depois ela. O máximo que consegui fazer foi colocá-la sob uma maldição do sono, que foi quebrada por seu Príncipe Phillip. - falou aquele nome com nojo estampado no rosto e na voz - Aliás, eu ouvi dizer que eles tiveram um filho... Agora eu tenho uma terceira geração para machucar.

Emma ficou completamente horrorizada, mas disse, suplicante:

- Por favor, não faça isso. Não fira ninguém. Tente superar o passado.

- Eu não sabia que você estava aqui para me dar lição de moral - retrucou ela, com fúria - Agora, é melhor você ir logo quebrar esta maldição. Seu tempo está correndo.

Emma virou-se para ir embora, mas Maleficent disse algo mais:

- Ah, e por favor, derrote Wilma, ok? Eu não gostei daquela vadia.

Emma virou-se, e respondeu:

- OK. Mas eu acabei de perceber algo.

- O quê?

- Por que diabos eu estou conversando com Maleficent? - dizendo isto, correu até onde a arma estava e apanhou-a. Apontou para a bruxa e apertou o gatilho. Maleficent fez uma cara de espanto quando recebeu o tiro, e por um momento, Emma pensou que tinha conseguido. A feiticeira foi envolta por uma névoa e começou a girar. Em seguida, ela desapareceu.

Mas logo Emma notou que não seria assim tão fácil. Maleficent reapareceu, mas não como estava antes - ela estava gigante, em um tamanho descomunal.

- Você vai precisar de muito mais do que isso para me derrotar, Emma - disse ela, com uma voz sobrenaturalmente alta, e desapareceu em mais uma nuvem de fumaça rosa, sua última risada maléfica ecoando por todo o lugar.

Emma esperou alguns segundos, mas ela não apareceu novamente. Lembrando-se de que ela não podia sair dali, decidiu ir embora logo.

Seguiu pela pequena caverna por onde entrara, até avistar o elevador novamente. Entrou nele e as portas se fecharam.

Enquanto subia, Emma pensava, cheia de frustração, na conversa que acabara de ter. Droga. Por que sempre que algo se resolvia, algum outro vilão tinha que aparecer? Ás vezes, ser quem ela era, a filha da Branca de Neve e do Príncipe Encantado, era quase uma maldição.

Aparentemente, Regina colecionava inimigos no outro Reino, pensou. Mas Emma não se importava, e nem se convencia de que ela merecesse aquilo. Regina podia ter feito coisas monstruosas, mas ela já sofrera as consequências de seus atos - afinal, ela tivera que ver o próprio filho ficando contra ela várias vezes, perdera a mãe, ficara sozinha, e tivera que abrir mão da coisa que mais amava, vivendo um ano inteiro sem ele. Se isso não era pagar por seus erros, então Emma não sabia o que era. Mas agora, depois de tanto sofrimento, estava na hora de ela receber seu final feliz. Afinal, ela se arrependera - ou pelo menos era o que parecia, mesmo que Regina não gostasse de admitir. Porém, parecia que, infelizmente, os fantasmas do passado de Regina não iam parar de atormentá-la tão cedo, concluiu com amargura.

Quando o elevador parou e se abriu, Emma respirou fundo e saiu dele. Tentou tranquilizar-se. "OK Emma, pense em uma coisa de cada vez". Primeiro, era melhor ela se preocupar apenas com a quebra da Maldição - depois que aquilo fosse resolvido, ela teria tempo para se preocupar com Maleficent. Era melhor dar um passo de cada vez, ou seu cérebro não aguentaria tantas preocupações e temores.

Com a bola de cristal ainda em mãos, ela foi até o Granny's para pegar seu carro e ir até o poço dos desejos de Storybrooke. Tinha que quebrar aquela maldição logo.

Give Me LoveWhere stories live. Discover now