Capítulo 26

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Sentada no sofá, Regina bebeu todo o uísque do copo de uma só vez, tentando relaxar antes da luta. Junto com o gosto do álcool, cada mínimo resquício de apreensão e culpa foi embora. Emma já estava no fim da rua com David, escondida, aguardando sua ligação, que não chegaria. Henry estava na casa de Mary Margaret, provavelmente preocupado.

Olhou para as chamas que dançavam na lareira. Para se livrar de vez do sentimento de culpa pelo que estava prestes a fazer, ela decidiu pensar em tudo de desprezível que sua irmã tinha feito - Fazê-la trabalhar como uma escrava, agredi-la, incriminá-la por algo que ela não fizera, ter roubado os créditos por seu trabalho no orfanato e, posteriormente, obrigado-a a fechá-lo. Minutos após receber a notícia de que estava oficialmente livre e poderia voltar à prefeitura, Regina sentara-se em seu gabinete, em sua cadeira de couro, e consertara tudo o que estava errado - ou quase tudo. Com apenas alguns telefonemas e assinaturas, ela reabrira o orfanato da cidade, cancelara a viagem dos órfãos para Boston, e consertara toda a fiação e luz elétrica de Storybrooke.

Além da satisfação em saber que estava fazendo algo certo, Regina sentia também um prazer que provavelmente não deveria alimentar, mas não conseguia resistir - o prazer de estragar tudo o que Wilma planejara, de reverter tudo o que ela causara, de ver que, no final, todos os planos da irmã tinham desmoronado como um castelo de areia. Agora, depois de subir ao poder novamente, só lhe restava destruí-la de vez. Dentro de sua mente, ela ouvia a voz de Emma e Henry, como acusações de sua própria consciência; heróis não se vingam, heróis não destroem... Heróis não matam. Começou a perguntar-se se valeria a pena colocar em risco a confiança de Henry e Emma que conquistara tão arduamente, mas em outro canto de sua mente, a raiva falava mais alto.

Regina, de certa forma, gostava da sensação de torturar pessoas que lhe causavam raiva, de punir aqueles que, de alguma forma, prejudicavam seus objetivos e iam contra suas vontades. Fora uma forma que ela encontrara de extravasar toda a raiva que ela tinha de seu próprio passado, de sua mãe, de Rumplestiltskin, e de todas as outras pessoas que ela jamais poderia prejudicar. Ela conseguira resistir àquele impulso doentio por muito tempo, mas isso, concluiu, fora porque ela se mantivera afastada de Henry e Emma. Porque ver alguém que ela amava sofrendo, sendo prejudicado, despertava nela um ódio ainda maior.

Não era apenas ela que Wilma havia prejudicado - com seus planos, ela fizera Emma sofrer bastante, e Henry também. Só de pensar em Henry chorando, na dor inundando os olhos verdes de Emma, crescia dentro dela um enorme desejo de justiça - mais do que isso, de vingança. De fazer a pessoa responsável por aquilo sofrer uma dor ainda mais terrível. Ela tinha esperanças de que, depois de matar Wilma, ou torturá-la, ou o quer que decidisse fazer com ela, os dois a compreenderiam - afinal, eles também sofreram por culpa dela. Ou talvez não - talvez eles jamais a perdoassem, mas Regina preferiu ignorar aquela possibilidade. Não sabia o que faria, como se explicaria ou como seria sua relação com Emma e Henry depois do que ela fizesse - naquele momento, só se importava em transformar o sorriso escarnecedor de Wilma em uma expressão de absoluto sofrimento.

Causar dor era o que ela fazia de melhor. Não sabia se valia a pena, ou se aquilo realmente a fazia feliz - depois de conhecer a sensação de ter uma família, ela achava que provavelmente não - mas flagelar seus inimigos era definitivamente satisfatório. E, ainda que fosse uma satisfação momentânea, era uma satisfação fácil.

No momento em que os ponteiros do relógio na parede marcaram meio dia, Regina ouviu a porta sendo destrancada. Levantou-se, assustada, e andou até a porta, seus saltos batendo contra o chão de forma quase intimidante. Quando ela foi aberta, os olhos azuis e frios da irmã a encararam entre as colunas de pedra.

– É engraçado entrar pela porta da frente de novo - ela disse.

O coração de Regina gelou. Como ela poderia não ter se lembrado de que Wilma tinha uma cópia da chave? Durante a última noite, a qualquer momento, ela poderia ter entrado e ferido um deles. Poderia ter machucado Henry quando ele estivera em casa sozinho mais cedo, percebeu com calafrios. No entanto, ela não fizera nada.

Regina tomou a chave das mãos de Wilma bruscamente. Em seguida, conjurou uma bola de fogo na mão direita e a queimou, até que ela derretesse completamente.

– Assustada, Regina? – indagou ela – Se esqueceu de que, há algumas semanas, eu tinha livre e total acesso a esta casa?

– Mas você não tem mais - rebateu Regina, firmemente - E nem vai ter. Nunca.

Wilma sorriu, em deleite, e entrou, examinando cada detalhe da sala de estar com um olhar minucioso.

– Quanto a isso, veremos.

Regina fechou a porta, e a trancou com um movimento das mãos. Se Emma tivesse visto-a entrar, provavelmente já estava esperando pela ligação. E se Regina não lhe telefonasse, ela iria até lá para saber o que estava acontecendo. Não poderia deixar que Emma entrasse.

– Você não foi tola o suficiente para descumprir o combinado, foi, Regina? – questionou Wilma.

– Não. Como prometido, não há ninguém aqui. Somos só você e eu.

– Não se importa se eu verificar, certo?

Dizendo isto, Wilma conjurou uma densa fumaça verde que percorreu toda a casa. Regina conhecia aquela magia; se houvesse mais alguém ali, a fumaça voltaria até ela em uma coloração vermelha. Porém, como esperado, ela voltou para Wilma no mesmo tom verde-escuro.

– Interessante – observou Wilma – Vejo que, apesar da sua longa lista de defeitos, você é uma mulher de palavra, Regina.

Regina riu. Ouvir aquilo de sua irmã era, no mínimo, muito irônico.

– Você não deveria estar verde? – indagou Regina, querendo provocar, embora realmente estivesse em dúvida.

– Perdão?

– Há magia aqui novamente. Você não deveria ter voltado à sua... Cor original?

– Ah, Regina... Eu sei que você está decepcionada em ver que eu ainda sou mais bonita do que você. – disse ela enquanto caminhava pela sala, ao que Regina respondeu levantando a sobrancelha esquerda - Minha "cor original" é esta, irmã. Eu não nasci verde. E a Maldição das Trevas anula todas as outras maldições, se lembra?

Regina assentiu, lembrando-se de ouvir aquelas mesmas palavras de Rumplestiltskin, 30 anos atrás. Olhando para o rosto de Wilma, ela não via nenhum traço de si mesma estampado na irmã. Talvez os traços de Rumple fossem mais marcantes, deduziu, enquanto a observava andando por sua sala, analisando seus quadros, decorações e retratos de forma curiosa. Aquilo irritou Regina um pouco; por que elas estavam agindo tão cordialmente? Não estavam ali para tentar derrotar uma a outra? A fim de "esquentar" um pouco as coisas, Regina rebateu a provocação:

– Acho que é você quem deve estar decepcionada – disse – Afinal, sua Maldição não durou nem dois meses, e apesar de todos os seus esforços, eu não fiquei nem um dia inteiro na cadeia. Já reabri o orfanato e, em breve, vou recontratar Tinker... Ainda não percebeu, Wilma? A Rainha nunca perde.

– E ainda assim, fui capaz de fazer coisas que você nunca imaginou, como usar magia em um lugar onde ela não existe – retrucou Wilma.

Ao lembrar-se daquilo, Regina perguntou:

– Como você fez isso? Como conseguiu usar magia fora da cripta que, por sinal, você roubou de mim?

Wilma parecia satisfeita por deixá-la confusa.

– Como você deve saber – explicou – Objetos mágicos possuem magia independente, que não se afeta pelo ambiente ao seu redor. E eu tinha um objeto mágico. Quando eu era pequena... Bem pequena... Cora me deu um colar com uma esmeralda de presente. Mas não era uma simples esmeralda. Se você olhasse bem de perto, era possível ver a imagem de Cora refletida na joia, sorrindo e acenando para mim. Sempre os mesmos movimentos. – enquanto dizia isto, Wilma pareceu abandonar um pouco a sua raiva, pois seu olhar demonstrava fragilidade, como se as lembranças fossem dolorosas.

Regina lembrou-se de que Wilma realmente usava um colar com uma esmeralda; estivera usando-o na maior parte das vezes em que Regina a vira, até pouco tempo atrás. Em sua mente, surgiu uma imagem de Cora segurando uma pequena garota de cabelos castanhos e olhos azuis. Ainda não se acostumara à ideia de que tinha uma irmã, e era mais estranho ainda pensar em Cora cuidando de outra criança. Regina balançou a cabeça, tentando desviar-se de qualquer pensamento que pudesse despertar nela compaixão pela irmã.

– Cora me dizia que eu deveria sempre usá-lo, para que nós duas estivéssemos sempre juntas, não importava aonde ela fosse. – Wilma deu um riso amargo, misturado a uma voz embargada de choro – Bastante irônico da parte dela, visto que foi ela própria a responsável por nossa separação definitiva.

Regina lembrou-se do anel de noivado de Daniel que guardara durante tantos anos. Ele era um objeto mágico; tanto que ela conseguira usá-lo para abrir um portal com o chapéu de Jefferson, alguns anos antes. E ele, de fato, possuía uma magia independente; estava sempre mostrando o rosto de Daniel, em qualquer lugar.

– Enfim – continuou ela, enxugando os olhos, mesmo que ainda não tivesse derramado nenhuma lágrima – Tudo o que tive que fazer foi queimar a esmeralda, com o tipo certo de fogo, é claro. Em seguida, eu só precisei pegar suas cinzas e jogá-las no livro de feitiços. Assim que o abri, meu corpo absorveu uma enorme quantidade de magia... Autônoma, por assim dizer.

Regina sentiu-se um pouco tola e ingênua com aquela informação; durante todos aqueles anos de Maldição, nunca passara por sua cabeça que havia uma maneira tão fácil de conseguir usar magia em Storybrooke – isso certamente teria facilitado muitas coisas. Mas provavelmente, concluiu, ela nunca seria capaz de queimar o anel de Daniel.

– Por falar em magia, Regina... Eu fiquei sabendo que você e Emma tiveram algumas... Aulas de magia na cripta da nossa família.

Regina se incomodou com o "da nossa família" que ela usou na frase; não achava que Wilma fosse digna de dizer aquilo, mas perguntou:

– Você esteve nos observando?

– Não importa. Você tem certeza de que é uma boa ideia ensinar magia para a Emma, Regina?

Regina ficou confusa.

– O que você quer dizer?

– Você, mais do que ninguém, sabe o quanto esse tipo de poder é sedutor e perigoso. E se Emma se encantar pelas inúmeras possibilidades da Magia das Trevas? Convenhamos, a vida dela não é tão fácil...

Regina descartou totalmente a possibilidade.

– Eu não estou ensinando magia das trevas! E, além disso... Emma é uma pessoa boa. Muito boa. Ela nunca entraria pelo caminho no qual eu entrei. Nunca.

Wilma sorriu, não muito convencida.

– Todos nós fomos pessoas boas um dia – insistiu ela – Mas Emma tem seus fantasmas e mágoas do passado, e um pouco de ódio em seu coraçãozinho apenas esperando para ser alimentado... Eu vi a raiva nos olhos dela. Ela inclusive ameaçou me matar várias vezes. E, não se iluda, Regina... Ela vai se deixar seduzir pela magia. Agora que ela provou o gosto do sangue, não há mais volta.

Regina assustou-se bastante com aquilo. Ela não sabia, nem imaginava que Emma havia ameaçado matar Wilma. Assassinatos ainda pareciam algo natural quando vindos dela, mas ela não esperava aquilo de Emma. Ela sempre lhe parecera uma pessoa tão incrivelmente boa e virtuosa... E o que a irmã estava falando, mesmo que ela não gostasse de admitir, era verdade. "Pessoas machucadas + magia" era uma combinação perigosa. E o poder de Emma era grande – bastava aprender a usá-lo, e ela poderia fazer quase qualquer coisa. Perguntou-se se deveria continuar ensinando-lhe magia. Não queria corromper Emma como ela fora corrompida. Pensar naquilo fez com que a culpa dentro dela despertasse, lembrando-se de que ela estava traindo a confiança de Emma, então decidiu fugir do assunto.

– Você tem alguma outra pergunta antes de começarmos? – indagou Wilma, analisando as garrafas de bebida no armário de vidro de Regina.

Regina pensou, e respondeu:

– Sim, eu tenho. Como foi que você lançou a Maldição? Rumplestiltskin colocou-a em um único pergaminho, o qual eu destruí há um ano. No entanto, você conseguiu achar outro. Como isso é possível?

Wilma sentou-se no sofá para responder. Mesmo irritada, Regina permitiu.

– Você sabe muito menos do que pensa, Regina. Veja bem... Rumplestiltskin não criou um único pergaminho. Ele criou dois.

– Dois?

– Sim. Ele temia que, talvez, você não fosse capaz de lançar sua maldição, ou que se livrasse dela por falta de interesse... Aliás, você confirmou as suspeitas dele quando a deu à sua amiga Maleficent. Então ele criou um... Pergaminho reserva, caso, algum dia, outra aluna se mostrasse capaz de cumprir seus objetivos.

– E como você descobriu isso?

– Bem, digamos que eu fiz uma pequena e boa pesquisa na Floresta Encantada no último ano. Assim que descobri isso, tudo o que tive que fazer foi descobrir onde o pergaminho reserva se encontrava, o que não foi tão difícil. Estava escondido em seu castelo abandonado, dentro de seu cofre. O cofre só poderia ser aberto com magia de sangue, mas visto que eu sou a filha dele, isto não foi exatamente um problema.

Wilma levantou-se, parecendo pronta para começar o duelo. Mas em vez disso, ela andou até a mesa de vidro sobra a qual estavam distribuídas inúmeras garrafas de uísque e porta-retratos; a maioria com fotos de Henry. Wilma pegou um deles, que mostrava Regina e Henry abraçados no cais de Storybrooke. Embaixo, o nome do garoto estava gravado em letras cursivas.

– É um bonito nome – observou ela – Henry.

Ouvir Wilma pronunciando o nome dele fez seu sangue começar a ferver.

– É por causa do seu pai, não é? Henry... Sabe, ele era uma boa pessoa.

– Não fale sobre ele – advertiu Regina - Não pronuncie o nome dele!

– Por quê? Você vai agir com ciúmes e proteção sobre o pai que você matou por vingança? Você não o merecia, Regina. Não possuo lembranças muito claras dos três breves anos que eu vivi com Cora, mas eu me lembro de que Henry era um pai doce e amável. – Wilma sorriu ao falar sobre ele - Em meio a todos os castigos de Cora, sua voz reconfortante era meu único refúgio. Ele não merecia estar casado com aquela mulher, e não merecia ter sido morto pela própria filha. E por uma maldição que nem sequer durou.

Regina estava cada vez mais irritada ao ver sua irmã julgando-a por seus erros do passado. Porém, ao ouvir a última frase, ela lembrou-se de uma última dúvida sobre Wilma:

– Falando sobre maldições – disse ela – Eu tenho uma última pergunta.

– Sou toda ouvidos.

– Para lançar a maldição, é necessário um sacrifício. O coração da pessoa que você mais ama. Não há como lançar a Maldição das Trevas sem fazer este sacrifício.

– Então você quer saber que coração eu usei?

– Exatamente.

– Eu posso te responder, Regina, mas devo lhe avisar que você provavelmente não vai gostar da resposta.

– Experimente.

Wilma suspirou, enquanto andava até a parede oposta.

– Sabe, Regina... O amor é algo confuso e complicado. Você não escolhe amar alguém; Não é um sentimento que se possa controlar. Ele simplesmente... Acontece.

Regina sabia muito bem do que ela estava falando. Jamais escolhera amar Emma, e por muito tempo, tentara se livrar daquele sentimento, mas era simplesmente impossível.

– Por isso – continuou ela – Muitas vezes, nós amamos pessoas que não são merecedoras de nossos sentimentos. Pessoas que só nos causam sofrimento, e que não se importam conosco. É triste, mas como eu disse, não se pode controlar o coração humano. A não ser, é claro, que você o tenha em suas mãos. E a coisa que eu mais amava... Bem, acho que você já entendeu.

Regina começou a ofegar, entrando em choque ao perceber o que aquilo significava.

A coisa que Wilma mais amava era Cora. Sua mãe. Cujo túmulo, muito convenientemente, estava dentro de seu castelo antes da maldição. O castelo no qual Wilma passara um longo tempo.

Regina não pôde acreditar, e lágrimas queriam escapar-lhe aos olhos. No entanto, ela as segurou, e permitiu-se ser tomada pela raiva.

Mesmo que ela soubesse que Cora estava morta e que não havia como trazer os mortos de volta à vida, manter o coração da mãe no peito era como uma forma de preservá-la. Uma forma de manter vivo o seu último momento, no qual seu olhar demonstrara amor verdadeiro por Regina. No qual ela dissera que Regina seria o suficiente. Wilma não tinha o direto de violar aquilo; não tinha o direito de destruir o coração de sua mãe, fazendo-a voltar a ser apenas um corpo vazio.

Regina sentiu um impulso incontrolável de enforcar Wilma, torcer seu pescoço até que sua vida fosse completamente arrancada. Deixou-se ser tomada pelo ódio, e percebeu que sua magia estava fluindo.

Olhou para o sorriso sádico da irmã, que deu uma longa risada, deliciada com a frustração de Regina. Regina olhou para a mesa de vidro ao lado. Levantou a mesa com sua magia e atirou-a contra Wilma, mas ela foi mais rápida; desapareceu em uma nuvem de fumaça, e a mesa chocou-se contra a parede, quebrando-se em um estalo alto. Garrafas quebradas, porta-retratos rachados e poças de uísque se espalharam pelo chão.

– Vejo que você já quer começar – observou Wilma, reaparecendo ao lado dela.

– Agora – respondeu Regina

– Mas antes de começarmos este duelo, irmãzinha, devemos esclarecer algumas regras... Ou melhor, uma única regra. Somente uma de nós sairá viva desta casa hoje.

– Eu concordo. - apoiou Regina.

– E não vai ser você – disse Wilma, com desprezo. Em seguida, com um rápido movimento das mãos que Regina não pôde prever, ela criou uma espécie de redemoinho poderoso, que tirou Regina do chão e lançou-a em direção ao outro lado da sala. O armário e a cômoda voaram, espatifando-se, mas antes que Regina se chocasse contra o chão, ela conseguiu controlar a ventania; manteve-se parada no ar por alguns segundos e, em seguida, voltou-se para o outro lado. Voou com tudo em direção à irmã. Quando chocou-se contra ela, as duas caíram no chão, Regina em cima de Wilma, suas mãos em seu pescoço.

Regina deu um forte empurrão na irmã e jogou-a contra a parede. Olhou para cima. Usando sua magia, retirou o lustre do teto e usou a corrente que o mantinha pendurado para amarrá-la.

Encostada na parede com as correntes ao redor da cintura e dos braços, Wilma tentou se desvencilhar com magia, mas Regina continuava pressionando as correntes contra o seu corpo, insistente. Por fim, Wilma desistiu. Ofegou e disse:

– Você é mais forte do que eu pensei. Droga.

Regina continuava encarando-a, repleta de fúria, pensando no que deveria fazer para puni-la.

– O que você vai fazer? – questionou Wilma.

Uma ideia passou pela mente de Regina.

– Você tirou o coração da minha mãe – disse ela – E agora eu vou tirar o seu.

Andou até Wilma e, segurando-a contra a parede, introduziu a mão direita em seu peito esquerdo. Aprofundou-a, enquanto Wilma gemia de dor, até sentir a pulsação em suas mãos. Tirou a mão de dentro dela bruscamente, olhando para o coração da irmã. Manchas negras se espalhavam por toda a sua extensão.

– Tão negro... – disse ela, enquanto Wilma ofegava.

– Tão negro quanto o seu – rebateu ela.

– Meu coração não está mais negro! – protestou Regina, mesmo sem muita certeza – Eu acho...

– É mesmo? Se você tivesse um coração puro, não estaria prestes a matar a própria irmã.

Regina olhou para o órgão pulsando em suas mãos. Matá-la seria tão fácil, tão sem graça.

– Quem disse que estou prestes a te matar? Primeiro você precisa sofrer bastante.

Dizendo isto, apertou os dedos firmemente ao redor do coração. Soltou Wilma das correntes apenas para que ela pudesse se debater em agonia. A bruxa caiu no chão, gemendo e se contorcendo de dor, os olhos escancarados enquanto Regina apertava seu coração cada vez mais.

– Não vai pedir por misericórdia? – provocou.

– Nunca! – exclamou Wilma, a voz sufocada pela dor.

De repente, a campainha soou. O coração de Regina deu um salto.

– Regina? – disse a voz de Emma do outro lado – Você está aí? O que está acontecendo?

Regina parou de apertar o coração da irmã um pouco e resolveu ficar em silêncio, mas Wilma deu um longo riso de satisfação.

– O que você vai fazer agora, hã? O que vai dizer para a sua namoradinha?

– Regina, abra a porta! – exclamou a voz grave de David. Ela continuou em silêncio.

Cinco segundos depois, a porta caiu ao chão com um chute de David. Com uma arma em mãos, ele foi até as duas e disse:

– Vocês duas estão presas em nome da lei! – mas Regina levantou-o do chão com a mão esquerda, e começou a sufocá-lo. Não sabia bem o porquê, mas estava dominada por muita raiva e precisava descontar em alguém. Irritou-se um pouco com a forma que David falou em prendê-la, sem se importar que ela estivesse com Emma, e lembrando-se de como ele fora inicialmente contra o relacionamento das duas, sobre como ele julgara Regina como indigna do amor de Emma, um ódio por ele começou a crescer dentro dela.

Porém, sua tortura foi rapidamente interrompida quando Emma entrou.

– O que diabos está acontecendo aqui? – exclamou ela, com a expressão atônita, olhando para os móveis e objetos quebrados pela sala e para Wilma contorcendo-se no chão.

A voz de Emma foi o suficiente para que Regina soltasse David, e ele caiu ao chão. Emma correu até ele, ajudando-o a se levantar.

– Pai! Você se machucou?

– Estou bem. – ele respondeu, passando a mão no pescoço.

Emma andou até Regina, e ela percebeu, com remorso, que havia lágrimas em seus olhos.

– Por que você tinha que fazer isso, Regina? – questionou, com a voz trêmula – Por quê?

Regina olhou para baixo, começando a perguntar-se se ela realmente estava preparada para pagar um preço tão alto por rápidos momentos de vingança.

– Coloque o coração dela de volta – ordenou Emma.

– Mas, Emma... Ela precisa pagar...

– Coloque o coração dela de volta.

Regina andou até Wilma, incrédula. Abaixou-se, e com o coração em mãos, aprofundou sua mão no peito de Wilma novamente. Soltou o órgão em seu devido lugar, enquanto ela respirava aliviada, e dizia:

– Então Cora estava certa. O amor é uma fraqueza.

Regina ignorou-a, e olhou para Emma, seus olhos suplicando perdão. Mas os olhos verdes da loira responderam-na com uma frieza dolorosa.

David levantou-se e apontou a arma para Wilma, mas ela desapareceu.

– Droga! – exclamou ele – Nós a perdemos novamente! E por sua culpa – disse, virando-se para Regina.

– Vire-se de costas, Regina – ele disse, pegando um par de algemas do bolso. Regina olhou para ele, e dele para Emma.

– Não vai rolar – disse, e em seguida, conjurou um forte vento que empurrou ambos porta afora. Assim que eles foram jogados para fora da casa, Regina reergueu a porta com um movimento das mãos, encaixou-a nas dobradiças e trancou-a novamente.

– Regina, abra essa porta! – exclamava a voz trêmula de Emma do outro lado, aumentando sua dor.

Regina apoiou as costas na porta, fechou os olhos e começou a chorar, tentando ignorar a voz de Emma.

– Ok pai, precisamos levá-lo a um médico. Você não está bem – ouviu-a dizendo, e notou, com uma culpa crescente, que David respirava pesadamente.

– Mas nós temos que prendê-la, Emma!

– Não se preocupe. Eu te levo até o hospital e volto aqui para prendê-la – prometeu, ao que David se calou.

Regina ouviu os passos dos dois se distanciando, e sentou-se no chão, chorando desesperadamente. Não tinha mais raiva de Wilma, nem de David, nem de ninguém – a raiva que ela sentia agora era totalmente direcionada a uma única pessoa: ela mesma.

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