Capítulo 19

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Foram necessários cerca de dez minutos para que David se convencesse de que Emma tinha se acalmado e estava dentro de si. Depois que ela bebeu um calmante, o xerife finalmente resolveu levar seu pedido a sério. Mas segundo ele, provavelmente aquela visita não seria possível.

Como sua primeira decisão no cargo de prefeita, Wilma decretara que Regina seria mantida em uma cela no subsolo do hospital – um local reservado para os crimes mais desprezíveis, e segundo Wilma, Regina se encaixava nesta descrição. Emma se sentiu horrorizada ao pensar em Regina sendo colocada em um lugar destinado aos piores criminosos da cidade.

– Somente a prefeita, que agora é Wilma, tem a senha de acesso ao subsolo do hospital, Emma. Somente a prefeita, eu e a Madre Superiora, é claro. E somente pessoas autorizadas podem descer até lá. Eu sinto muito.

– E eu não posso... Obter permissão? – perguntou Emma.

– Bem... Eu poderia telefoná-la, mas você sabe que ela não vai permitir.

– Estou disposta a tentar.

David suspirou. Emma sorriu, percebendo um pouco da velha cumplicidade de pai nele.

– OK. Você venceu. – ele disse, e pegou o telefone. Discou o número da prefeita. Era repugnante para Emma pensar que aquela bruxa estava sentada na cadeira de Regina, governando a cidade.

Estava distraída em seus pensamentos, desesperada para ver Regina logo, para lhe dar alguma esperança, quando ouviu David dizendo:

– Tem certeza disso, Senhora Prefeita?

Uma faísca de esperança se acendeu.

– OK. Eu vou acompanhá-la.

David desligou o telefone.

– Parece que é o seu dia de sorte, Emma. – ele disse – Wilma estava de bom humor, e permitiu que você visitasse Regina.

Emma supôs que Wilma quisesse lhe proporcionar mais um pouco de sofrimento. Talvez ela estivesse prestes a conseguir.

David guiou Emma até fora da delegacia, e ela entrou no carro de polícia, sentando-se no banco do passageiro ao seu lado.

Logo chegaram ao hospital da cidade. Subiram algumas escadas e andaram em meio às inúmeras cabines de vidro, onde pacientes estavam deitados em suas camas. Logo atravessaram outra porta, que levava a uma ala ainda mais distante. David guiou Emma por um largo corredor onde não havia quase ninguém. No final do corredor, havia uma porta onde se lia "Saída." Ao lado, um pequeno painel eletrônico com dígitos de 1 a 9.

– Poderia, por favor, virar-se de costas, Emma? – pediu David.

Emma obedeceu, e ouviu alguns bipes e uma porta se abrindo. Virou-se, e David guiou-lhe por algumas escadas que desciam. Desceram em silêncio por um tempo que pareceu a Emma o infinito, até que chegaram a uma nova porta, aberta. Depois dessa porta, havia um pequeno escritório com uma lamparina, um computador e alguns papéis. Atrás de um balcão, a Fada Azul – ou melhor, Madre Superiora – olhava para eles.

– Bem, Emma – disse David – espero que você tenha memorizado o caminho, porque agora eu realmente preciso sair. Cuide-se. – acenou e subiu as escadas, indo embora.

Emma olhou para Blue.

– Presumo que você tenha vindo visitar Regina? – ela disse.

– Sim. – Emma respondeu.

Ela indicou a Emma o lado esquerdo da sala, por onde um corredor de paredes cinzentas sem pintura erguia-se.

– Siga reto e vire à esquerda. Você vai chegar a um corredor com uma cela. É onde Regina está.

– Regina está realmente aqui? Sendo mantida neste... Buraco? – perguntou Emma, incapaz de acreditar.

Ela assentiu.

– Sim, ela está aqui. Tudo o que você precisa encontrar está no subsolo, Srta. Swan. – a forma aleatória com que ela disse aquela última frase fez Emma questionar-se se havia algum significado oculto por trás dela, mas não pensou naquilo por muito tempo.

– E se... Ela sentir fome ou sede? – perguntou Emma, curiosa e preocupada.

– Então tudo o que ela precisa fazer é apertar um botão eletrônico em sua cela. Quando ela o faz, esta luz pisca – respondeu a mulher, indicando uma pequena bola de vidro eletrônica implantada sobre sua mesa – e eu vou até a sua cela, abro-a e dou a Regina o que ela precisar.

Emma assentiu, notando um molho de chaves sobre o balcão – chaves que lhe pareceram bastante tentadoras...

Começou a andar pelo corredor cinzento e fracamente iluminado. Quando virou à esquerda, enxergou rapidamente a cela da qual Blue tinha falado.

Correu até às grades verdes, e viu Regina do outro lado, sentada no canto, usando um uniforme cinza da prisão. Havia uma pequena cama, um chuveiro e um vaso sanitário na cela. Ao vê-la olhando para ela com tanta fragilidade, começou a chorar.

– Me desculpe, Regina – foi a primeira coisa que disse, e o que mais precisava falar. – Eu falhei com você. Sinto muito.

Regina aproximou-se, e esticando a mão por entre as grades, tocou seu rosto.

– Você não tem que se desculpar por nada – disse ela – Você fez o seu melhor. Mas Wilma é muito poderosa. Não havia nada a ser feito. Receio que meu destino já tenha sido decidido.

Emma chorou ainda mais, e Regina enxugou suas lágrimas.

– Eu tenho que te agradecer – disse ela – Você me defendeu até o fim. Mesmo quando todas as provas estavam contra mim... Você insistiu em acreditar que eu era inocente. Então, obrigada. Ninguém nunca confiou tanto em mim como você.

Emma sentiu-se um pouco culpada, pois ela tinha duvidado de Regina por breves momentos; mas não disse nada.

Enquanto seu amor por Regina crescia a cada batida de seu coração, sua dor aumentava na mesma medida. Dor por vê-la jogada naquele buraco, como uma criminosa horrível, pagando por um crime que nunca cometera, quando ela já se redimira pelos seus erros do passado. Emma entraria naquela cela para substituir Regina sem hesitar, se isso fosse deixá-la feliz. Mas ela não podia.

– Posso perguntar algo? – indagou Regina.

Emma assentiu.

– Por quê? Por que você lutou tanto para me defender? Por que você acreditou em tudo o que eu disse, sem nunca desistir de mim?

A resposta era tão óbvia, mas também tão difícil.

– Porque... Porque eu te amo. – Emma respondeu, notando que era a primeira vez que falava aquilo a Regina. As palavras saíram tão naturalmente que ela nem percebeu, mas não poderiam ser mais verdadeiras.

Por um momento, ela esperou que Regina respondesse "Eu também te amo", mas aquilo era obviamente sonhar alto demais. Em vez disso, ela respondeu algo quase igualmente valioso:

– Obrigada por acreditar em mim. Você é a pessoa mais especial que eu já conheci.

Ela sorriu, mesmo não estando completamente feliz.

– É uma pena que eu vá ficar aqui por uma década – acrescentou Regina.

– Você não vai. – disse Emma – Eu vou te tirar daqui. Eu ainda não desisti, Regina.

– Emma, por favor – disse Regina – Eu já fui julgada. E condenada. Não há mais nada que se possa fazer.

– Sim, há. – pensou Emma, lembrando-se exatamente do que poderia fazer – Não se preocupe, Regina. Eu vou te tirar daqui. Eu prometo. – e, pensando que provavelmente Regina iria reprovar a ideia, saiu antes que ela pudesse responder, disposta a cumprir sua promessa.

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Henry chorava em seus braços enquanto Emma tentava consolá-lo. Ter que abrir a porta do quarto, encarar o olhar esperançoso de Henry e dizer-lhe que sua mãe havia sido condenada a uma década na cadeia foi uma das coisas mais difíceis que ela já teve que fazer.

Em meio à lágrimas, Emma contou ao garoto tudo o que acontecera durante o julgamento; o modo como Wilma tinha armado provas inacreditavelmente convincentes, e o modo como ela confessara a Emma que tinha armado tudo.

Henry chorou um pouco, enquanto Emma acariciava seus cabelos. Vê-lo sofrendo era, definitivamente, a pior sensação do mundo. Emma teve ainda mais raiva de Wilma, por fazer não apenas sua rainha, mas também seu príncipe chorar.

Porém, Henry logo enxugou suas lágrimas e tentou se acalmar.

– Mãe... Nós não precisamos chorar – ele disse – Tudo o que precisamos é... Arranjar outra forma de quebrar a Maldição.

– Eu sei. – respondeu Emma – Percebi isso também. Principalmente porque isso não é mais apenas sobre Regina, ou sobre a minha família. Daqui a dois dias, os órfãos serão tirados daqui e enviados para Boston. E nós sabemos o que vai acontecer se eles saírem.

– Então você vai... ?

Emma suspirou.

– Acho que é hora de apressar a Operação Mãe.

– E como você vai fazer isso? – questionou Henry.

Emma começou a refletir, perguntando-se o que seria preciso para quebrar a Maldição, agora que a opção do beijo de amor verdadeiro estava descartada. Então ela se lembrou do que a Madre Superiora lhe dissera mais cedo.

"Tudo o que você precisa está no subsolo".

Certo, havia algo de estranho sobre aquela fada. Emma sempre tivera a impressão de que ela era mais poderosa do que aparentava, e o modo como ela dissera aquilo... Quase parecia que ela não tivera sua memória alterada. Então tinha que ter significado algo.

Ao lembrar-se da palavra "subsolo", uma luz se acendeu em sua mente.

– Subsolo... – ela disse, em voz alta – É isso, Henry! Da última vez, eu quebrei a Maldição te dando um beijo de amor verdadeiro, mas esta não foi a primeira opção. Não... O Sr. Gold, inicialmente, me disse que eu precisava da poção de amor verdadeiro dos meus pais para quebrá-la. Poção esta que estava guardada numa espécie de... Gruta subterrânea embaixo da biblioteca. Guardada por um dragão. Eu consegui pegar esta poção, mas as coisas se complicaram um pouc, e enfim... Você me disse que Regina pode ter feito uma poção de amor verdadeiro ou qualquer outro feitiço para servir como "válvula de escape" da Maldição. E talvez você esteja certo.

– Então, o que você está querendo dizer – interrompeu Henry – é que, se existe algo mágico para te ajudar a quebrar a Maldição, como da última vez, este algo está sob a biblioteca?

– Eu acho que sim. Quando eu fui visitar Regina, eu perguntei se ela estava realmente no subsolo, e a Madre Superiora me respondeu que sim. Mas não foi só isso. Ela me disse que "Tudo o que você precisa está no subsolo". Não pode ser uma coincidência.

Henry franziu a testa, pensativo.

– Mas, mãe... E se não houver mais uma gruta sob a biblioteca? E se você tiver que enfrentar outro monstro, e acabar descobrindo que não há nada de importante lá? E se...

Emma sabia o que ele diria em seguida: A possibilidade mais assustadora de todas; "E se você não for a Salvadora?", mas interrompeu-o:

– São muitas possibilidades, Henry. Mas eu tenho que começar por algum lugar.

Henry deu um longo suspiro.

– Tudo bem – ele disse, por fim – Você está certa.

Emma abriu a gaveta e pegou sua arma. Tinha que estar preparada para qualquer coisa.

– Eu vou até aquela biblioteca, vou descer e vou enfrentar qualquer coisa que esteja lá. Não precisa se preocupar, criança.

– Sério? E como você vai fazer isso se você não tem as chaves da biblioteca?

Emma notou que ele estava certo. Droga.

– Então o que eu faço?

– Não se preocupe. As chaves ficam com Mary Margaret. Eu posso ir até a escola e pedi-las, sob a desculpa de que quero ler alguns livros. Vamos esperar que ela confie em mim.

Emma sorriu.

– Este é meu garoto esperto.

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Segundo Henry, não fora difícil conseguir as chaves com Mary Margaret. Empolgada com a ideia de um jovem da idade dele se interessando pela literatura, ela chegou a oferecer-se para acompanhá-lo até a biblioteca, mas Henry conseguira escapar dizendo que "preferia ler sozinho". O garoto realmente puxara Emma em alguns sentidos.

Emma pegou o molho de chaves e saiu em disparada até a torre do relógio, que estava apenas a uma rua de distância do Granny's. Correu até chegar às portas duplas brancas. Colocou uma das chaves na fechadura, e abriu-as.

Fechando as portas atrás de si, entrou. Estava escuro, então ela acendeu as luzes assim que encontrou um interruptor. A biblioteca estava cheia de estantes e mais estantes, e também algumas cadeiras de madeira espalhadas aqui e ali.

E ali, no fundo do lugar, estava o estranho elevador cheio de manivelas e engrenagens. Mas agora havia nele uma enorme placa que dizia "ELEVADOR QUEBRADO- MANTENHA DISTÂNCIA".

Da última vez em que estivera ali, ela e Regina trabalhavam juntas pela primeira vez, para salvar Henry. Ainda se lembrava com clareza do que Regina fizera, então girou uma manivela e o elevador se abriu.

Emma entrou, torcendo para que o aviso fosse apenas uma tentativa de manter as pessoas afastadas, e lembrou-se de algo que Regina lhe dissera da última vez. "É preciso duas pessoas para operar o elevador". Droga, será que ela não conseguiria?

Mas para sua surpresa, quando ela entrou, as portas se fecharam e o elevador começou a descer em alta velocidade. Parecia que algumas regras tinham mudado nessa nova Maldição. Era quase como se o universo quisesse que ela fosse bem sucedida.

Quando a máquina parou, Emma se viu diante daquela mesma caverna escura. Desejou que tivesse uma espada, mas não seria possível. Andou pela escuridão, até chegar a um local mais amplo. Olhou ao seu redor, procurando por qualquer objeto que pudesse parecer importante. Não viu nada.

– Se houver alguém aqui guardando algo mágico – disse ela, sua voz se propagando no eco – Agora seria a hora perfeita para aparecer.

Esperou, mas nada aconteceu. Desanimada, estava virando-se para ir embora, quando foi surpreendia por um movimento atrás dela.

Virou-se e viu uma criatura gigantesca erguer-se sobre ela – o mesmo dragão negro, com dois chifres na cabeça e olhos verdes e ofídicos que ela enfrentara anos antes. Ela já não tinha matado aquela coisa?

– Você de novo? - exclamou

Surpreendeu-se ainda mais quando o dragão começou a falar. Sim, falar. Numa voz sombria e monstruosamente grossa, mas levemente feminina, ele disse:

– Eu sou Maleficent. A Senhora de todo o mal.

Give Me LoveWhere stories live. Discover now