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❃❃❃- Katherine! - a voz de minha mãe aos poucos vai tomando forma dentro de minha cabeça conforme eu desperto. Resmungo alguma coisa e enfio a cabeça entre os travesseiros.
- Kath, você precisa se levantar. Vamos nos atrasar para o café da manhã com os Clark. - ela continua, pelo jeito como minha cama afunda perto do meu corpo sei que ela acabou de se sentar.
- Mãe... - me viro para ela e esfrego os olhos. - Eu teria a opção 'não ir'? - Abro um sorriso para convencê-la e meus olhos se fecham de sono.
- Não. Você não teria essa opção. - ela pousa a mão na minha barriga. - Além do mais... Frank estará lá.
Me sento na cama e encaro seus olhos verdes, seu cabelo loiro está penteado impecavelmente e seu vestido vermelho está perfeitamente passado.
- Mãe...Eu já te disse que não estamos bem. - digo, ela abana a cabeça em reprovação.
- Não diga besteiras, Katherine.
Enquanto penso sobre meu namoro fracassado, faz-se um minuto de silêncio no quarto, sei que minha mãe está esperando que eu grite "É brincadeira! Eu o amo demais." mas eu nunca faria isso. Porque é mentira, e eu sou péssima com mentiras.
Até os 16 anos, Frank era meu melhor amigo, ele era literalmente minha melhor relação, meu porto seguro, e eu tinha certeza que ele estaria ali para mim sempre que eu precisasse, como ele estava quando meus pais se separaram. Ele sempre soube o que dizer para me deixar feliz e isso valia o mundo para mim. Mas então, à 1 anos atrás, eu e ele nos beijamos, não sei bem o motivo, mas provavelmente o carinho que existia na amizade foi facilmente confundido com uma paixão romântica, e os dois mergulharam de cabeça na relação.
Tudo ia muito bem, até que coisas que nunca existiram entre nós passaram a atormentar minhas noites de sono, como seu jeito ciumento em relação aos meus poucos amigos e a diferença entre nossos mundos. Frank era capitão do time de futebol, tinha todas as meninas aos seus pés, em uma semana ia à mais festas que eu provavelmente fui nos meus 18 anos de vida. Eu gostava da segurança da minha casa, de ficar estudando nas sextas feiras à noite e de assistir filmes tristes comendo sorvete.
Minha mãe estala seus dedos perto do meu rosto.
- Desculpa, estava pensando. - digo e pisco algumas vezes voltando à realidade.
- Vá se arrumar e pare com essas besteiras.
Minha mãe se levanta e sai do quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos. Depois de tomar um banho quente, visto a primeira roupa que encontro jogada pelo closet, uma cropped branca e uma calça jeans.
Desço as escadas e encontro minha mãe perto da porta com sua bolsa na dobra do cotovelo, ela segura minhas botinhas pretas.
- Eu sei que você iria querer isto. - Ela as joga no chão perto do meu pé. - Te espero no carro.
Calço as botas e corro na cozinha para pegar um copo de água antes de sair, Dorothy varre o chão perto da porta.
- Bom dia, senhorita. - Ela diz com um sorriso no rosto assim que me vê.
- Bom dia, Dor.
Bebo um copo d'agua rápido demais, deixando algumas gotas caírem na minha blusa fazendo pequenas manchas escuras no tecido branco. Entro no carro e passo o cinto de segurança pelo meu corpo, minha mãe me olha pelo canto de seu olho.
- O que foi? - questiono.
- Eu disse que o Frank vai estar lá. - ela se olha no retrovisor.
- Sim, é a casa dele. - Dou de ombros. - Porque você está falando isso de novo?
- Nada. - Ela suspira.- Talvez você deveria ter se vestido melhor.
- Não mãe. São oito horas da manhã. De um sábado. - Encosto a cabeça na janela. - Só você calça loubotins para tomar café e comer algumas uvas.
Chegamos na mansão dos Clark e tenho que lutar contra a vontade de revirar os olhos diante da enorme casa, era tão grande como a da minha mãe, mas eu nunca entendi a necessidade de tudo isso. Posso ser ingrata por não dar valor as coisas que tenho, ou pelo esforço que minha mãe colocou em seu trabalho para me proporcionar o máximo de conforto. Eu só acho que os Clark gostavam de sua casa, pelo simples fato dela chamar atenção.
Anne Clark está parada diante da porta quando descemos do carro,ela usa um vestido floral na altura dos joelhos e seu cabelo preto está preso em um coque impecável.
- Anne! - minha mãe exclama e dá um beijo em cada lado de seu rosto.
- Wanda! Que bom que vieram. Bom dia, Katherine. - Anne me dá um beijo na testa. - Entre... Frank está no quintal esperando por você.
- Ah... Obrigada.
Entro na casa deles, algumas pessoas se servem na mesa cheia de comidas, outras conversam nos sofás espalhados pela espaçosa sala de estar. Passo direto por todos e vou direto para a grande porta de vidro do quintal, Frank está de costas para mim, seu cabelo negro está molhado e bagunçado na sua cabeça, ele usa uma blusa social branca e calças de terno pretas.
- Frank?
- Kath! - ele se vira para mim, seus olhos castanhos brilhando com a luz do sol, ele caminha em minha direção com os braços abertos e encontra nossos corpos em um abraço.
- Bom dia. - digo quando ele me solta.
- Bom dia. - Ele coça a nuca e eu sei que ele está desconfortável com alguma coisa.
- Está tudo bem?
- Ahn, sim. Quer dizer... Será que nós podemos conversar um instante? - ele olha ao redor, e pega na minha mão, me guiando até um dos cantos do quintal onde ninguém consegue nos ver.
- Olha Kath, eu não sei como te dizer isso. - ele dá um riso nervoso. - Então vou falar de uma vez.
- Por favor. - digo.
- Eu não acho que essa relação esteja funcionando, quer dizer... Talvez você não seja o meu tipo, entende?
Concordo com a cabeça. E eu realmente entendia, eu não seria o tipo de Frank nem um milhão de anos.
- Nós frequentamos o mesmo mundo e tudo mais... - ele continua.
- Você se refere à essa bolha da Chanel que estamos presos? - o interrompo e cruzo os braços diante do corpo.
- Não enxergo desse jeito, não como uma bolha, seria mais como um outro patamar. - Ele abre um meio sorriso, claramente orgulhoso de sua vidinha.
- Mas não é esse o assunto aqui. - digo.
- É... - Ele passa a mão pelos cabelos. - Eu não tenho muito o que falar. Eu quero terminar com você e...
Fico em choque com suas palavras duras que foram ditas de forma tão natural, sei que devo falar alguma coisa, mas não consigo. Odeio admitir que já treinei várias vezes no espelho um discurso para quando esse momento chegasse, mas ele chegou e eu estou sem palavras. Frank ainda está falando algumas coisas de maneira desconfortável, mas as letras que saem da sua boca, não viram palavras na minha cabeça e eu não estou prestando atenção em nada do que ele está falando. Viro de costas para ele, o deixo falando sozinho e começo à andar, escuto ele chamar pelo meu nome mas eu não me viro, em vez disso ando o mais rápido que consigo, e sei que quando sair dessa casa, eu nunca mais volto.
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Magnets ➳ Leonardo Dicaprio
RomanceJa ouvi histórias sobre o bem e o mal, o que é certo e o que é errado, o bonito e o feio. Sempre pensei que eles fossem opostos, no caso de pessoas, uma é boa, e outra nem tanto. Mas quando o conheci, vi que todos estavam errados, os opostos não são...