2 ✿ drιve

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- Kath? Está tudo bem? - minha mãe segura meu braço quando passo por ela apressada.

- Mãe... Você poderia me levar para casa? - Digo, os braços cruzados e a cabeça abaixada.

- Minha filha, estou conversando. - Ela força um sorriso e faz um movimento na direção de seus "amigos".

- Então me dá a chave, por favor. - eu sei que ela sentiu o desespero na minha voz, provavelmente seu sexto sentido de mãe. Ela procura pelo objeto em sua bolsa.

- Eu posso te buscar depois. - digo quando pego a chave de sua mão, ela nega com a cabeça.

- Eu dou um jeito.

Aceno com a cabeça e corro para fora da casa, esbarrei em algumas pessoas antes de finalmente estar no jardim, eu sentia que meu peito estava ficando pesado, e eu não sabia o que era. Eu não poderia estar triste,certo? Eu queria que acabasse. Então o que era esse aperto no estômago?

- Katherine! Espera! - a voz de Frank está se aproximando, olho para trás para vê-lo saindo pela porta de sua casa.

- Vai à merda, Frank! - tomada pela raiva levanto meus dois dedos do meio, vejo que alguns adultos no jardim arfam de surpresa com meu ato, Frank esfrega as têmporas mas se vira e volta para dentro.

Enfim chego no carro, jogo a bolsa no banco do passageiro e apoio a cabeça no volante com os olhos fechados. Como era possível isso? Não estou triste por terminar o namoro, estou até aliviada, mas estou com raiva, muita raiva.

Dou um tapa no volante.

- Babaca.

Dirijo algumas horas pelo condomínio de Beverly Hills, era tudo tão bonito, mas ao mesmo tempo tão falso. A musica baixa que toca no carro é substituída pelo barulho alto do meu toque de celular, clico um botão no volante para atender a chamada.

- Olá. - digo e paro em um sinal vermelho.

- Kath?

- Oi pai.

- Filha, você está em casa? - sua voz ecoando pelo carro era como um abraço.

- Mais ou menos... Estava com a minha mãe na casa de alguns amigos dela, mas estou voltando para casa.

- Eu e Judy estamos organizando um almoço, nós adoraríamos se você viesse. Quer dizer, se não for incômodo para você.

- Claro que não pai! Chego aí em vinte minutos.

Chego na casa do meu pai e sinto meu coração se encher de uma sensação inexplicável de conforto, não era uma mansão como a da minha mãe, era uma casa grande, mas modesta e aconchegante, com piso de madeira escura e paredes brancas. Provavelmente o meu lugar preferido do mundo.

- Kath! - meu pai e sua mulher, Judy, exclamam quando me vêem entrando pela porta da frente.

O local está com um cheiro delicioso de comida sendo preparada, não comi nada ainda e estou morrendo de fome, a sala e a cozinha são separada por um balcão, onde dois peixinhos dourados nadavam em um pequeno aquário. Meu pai está sentado no sofá com as pernas em cima da mesinha de centro, Judy está mexendo alguma mistura com uma colher grande.

- Ei. - Caminho até eles para dar um abraço em cada um, após abraçar meu pai, coloco a bolsa no chão e arrumo alguns cabelos atrás da orelha.

- Onde está Dylan? - pergunto.

Dylan é meu meio irmão, filho do meu pai, ele tem sete anos mas as vezes parece ser mais maduro que eu, percebo quando ele escorrega pelo corrimão da escada vestindo um pijama com estampa de aviões e meias.

- Aí está. - meu pai sorri e passa a mão pelos cabelos rebeldes do filho quando ele passa correndo na sua frente.

- E aí, amigão? - Me ajoelho com os braços abertos e ele me dá um abraço apertado com seus bracinhos finos, seu cabelo castanho é cacheado como a da sua mãe e seu olhos são verdes como o do meu pai. De algum modo, eu e ele éramos muito parecidos.

- Oi, K. - ele diz e segura meu rosto com suas mãos pequeninas, dando um beijinho na minha testa depois. Dylan corre para perto da sua mãe com os braços abertos fazendo um barulho de avião com a boca, com um pulo ele se senta no balcão e presta atenção em todos os movimentos de Judy, até quando ela refaz o rabo de cavalo nos cabelos escuros.

Sento no sofá do lado de meu pai, ficamos em silêncio por algum tempo até ele terminar de ler seu jornal.

- Como está sua mãe? - ele pergunta e tira seus óculos de leitura, se inclinando para frente para colocá-lo na mesa de centro.

- Bem, eu acho. - dou de ombros.

- Ah... - Ele se arruma no sofá para ficar de frente para mim, apoiando o cotovelo no encosto. - E você, Kath, está bem?

- Não muito. - brinco com a pele ao redor das minhas unhas bem feitas.

- Você quer me falar o que aconteceu? - ele pergunta.

- O Frank, sabe? - cruzo as pernas em cima do sofá.

- Seu namorado.

- É. Meu ex-namorado agora...

Meu pai abre um sorriso na tentativa de me consolar, ele se inclina na minha direção e me abraça, seu suéter tem cheiro de amaciante e canela, e eu adoro isso. O seu abraço era mais um lar para mim do que minha própria casa.

- Mas eu vou ficar bem, pai.

- Eu sei que vai, filha. Você sempre fica.

Judy termina de fazer o almoço e todos nós nos sentamos no balcão da cozinha para comer, naquele momento eu até esqueci a manhã horrivel que tive, Dylan nos contou sobre a menina bonita da sua sala de aula, meu pai contou sobre seu companheiro de trabalho e sua mulher grávida, Judy comentou sobre alguns filmes que andou vendo, e eu fiquei sentada ali, sabendo que aquele lugar era o lugar que eu deveria estar.

Ajudo Judy à lavar a louça e depois brinco um pouco com Dylan e seus carrinhos de brinquedo, só percebo que está de noite quando saio da casa de meu pai e o ar fresco da noite me envolve. Ter que ir embora é bem chato, quando meu pai voltar para Nova Iorque em algumas horas nós iremos demorar a repetir esses momentos que valem o mundo para mim. Assim que entro no carro de minha mãe, sinto que aos poucos começo à ficar triste de novo. Apoiada no volante olho para o céu através do vidro.

- Estrelas... - sussurro, e uma voz dentro de mim sabe o que eu tenho que fazer.

Da casa do meu pai em Mar Vista até as colinas de Hollywood demoraria 40 minutos, mas eu sinceramente não me importava, dirigir sempre foi uma terapia para mim, estar sozinha em um carro no silêncio era a melhor coisa para mim. Sem trânsito, eu chegaria lá antes das nove horas e para mim estava perfeito.

Dirijo bastante, deixo meus pensamentos voarem para Frank, depois para minha mãe, e enfim meu pai. Converso um pouco sozinha e em algum momento do percurso sinto meus olhos se encherem de lágrimas, mas elas não chegam a rolar. E eu não poderia estar mais orgulhosa de mim mesma.

Magnets ➳ Leonardo DicaprioOnde histórias criam vida. Descubra agora