school

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Depois que relatou a mãe sua condição, foi como se um peso saísse de suas costas, mas Zairah não sabia que a parte mais difícil estava por vir.

Depois que recebeu alta do hospital, sua mãe fez questão que ela usasse o uniforme feminino do colégio, ensinou a garota a maquiar o rosto e lhe comprou peças de roupa íntima feminina, mesmo que Zairah tenha dito a ela que preferia usar cuecas por serem mais confortáveis.

No dia que voltou a escola seus cabelos já eram médios visto que cresciam em uma rapidez absurda. Trisha havia marcado uma pequena reunião com o diretor do colégio, ela precisaria de apoio na situação. O homem foi de certa maneira compreensivo alegando que o nome seria trocado nas chamadas no dia seguinte e falaria com os professores sobre usar pronomes femininos, porém havia também um grande problema. Os vestiários.

Zairah não poderia e nem gostaria de usar o dos garotos, afinal era uma garota e qualquer garota ficaria constrangida em meio a vários meninos nus falando bobagens. Mas o feminino não era uma opção, segundo o diretor o fato de Zairah ter um pênis iria irritar e amedrontar as demais usuárias do local. Isso sem falar nas roupas que usaria para fazer natação (aula que tinham uma vez por semana). Antes a garota sempre arrumava uma desculpa para fugir das aulas na água, já que se recusava a usar apenas uma sunga.

E lá estava ela novamente. Sentido-se deslocada e segregada por ser "diferente". Ela quis chorar mas aguentou firme quando o diretor optou por dispensá-la das aulas de educação física por ser "inadequado para condição que ela se encontra".

Depois disso a mãe levou ela na porta da classe deixando um beijo em sua testa e desejando boa sorte. A garota suspirou antes de dar dua batidas na porta sentido-se trêmula mas confiante. O professor a recebeu na porta a olhando confuso. Ela entregou-lhe o pedaço de papel com o bilhete que o diretor havia escrito enquanto sentia os olhos de toda a classe queimando sobre si.

Logo o burburinho se iniciou fazendo a garota se sentir desconfortável com comentários como: "não sabia que Zayn tinha uma irmã gêmea" ou "esta ou este, eu sei lá, não é o Zayn?".

A garota sentou-se no lugar de sempre olhando para o quadro e buscando logo os materiais para começar a copiar os exercícios que estavam ali, sem conseguir ignorar os comentários maldosos e curiosos sobre si.

Na hora do intervalo sentou-se com Charlotte, como sempre, mas foram poucos instantes que as amigas tiveram de paz antes que algum curioso viesse a mesa e perguntassem se ela era parente do Zayn ou se "agora você é um travesti?" sendo todos rapidamente repelidos pelas palavras duras de Lottie mandando que cuidassem das próprias vidas.

As coisas só pioraram quando Zairah precisou ir ao banheiro no final do intervalo e, como sempre, o banheiro feminino estava totalmente cheio de garotas retocando a maquiagem ou arrumando os cabelos. A morena já estava quase entrando em uma das cabines quando Lindsay, umas das garotas populares do colégio, disse que ela não poderia estar ali. Afirmou que o banheiro era para garotas e não para "aberrações" e que se Zairah não saísse imediatamente ela faria um escândalo sobre a garota ter lhe assediado.

Humilhada e a beira das lágrimas, ela saiu do banheiro derrotada e ainda com uma vontade imensa de voltar e bater o pé para usar o local como quisesse. Lottie logo notou e Zairah precisou segurá-la para que não fosse ao banheiro dar na cara de Lindsay.

Ao chegar em casa depois do primeiro dia, enterrou o rosto no travesseiro chorando baixo por ter sido humilhada e mal tratada tantas vezes em apenas algumas horas.

De cabeça erguida ela continuou a frequentar o colégio tranquilamente, e aos poucos as pessoas foram se acostumando com a presença dela, mesmo que houvessem comentários preconceituosos com frequência e obviamente, como não poderia faltar, um grupo de garotos que insistiam em insultá-la.

If I Lose Myself || ZiamOnde histórias criam vida. Descubra agora