Companheiros da noite

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Ainda estava pensando na proposta, tinha dúvidas se era o certo a fazer. Não posso contar para Fran e nem para minha mãe. Não enquanto eu ainda estou em duvida. Outro país. OUTRO PAÍS. Eu não vou mudar de estado, nem de cidade. Vou mudar de PAÍS!

Pode ser o sonho de muitas pessoas, mas não faz parte do meu, apesar de ter uma financia garantida e uma vaga na faculdade da Califórnia, eu ainda não tenho certeza. A campainha me tira do devaneio.

Me levanto para atender, não fazendo idéia porque o idiota do porteiro não me avisa, ah não ser que seja a...

- Oi amiga! – grita Lari assim que abro a porta.

- Oi. – respondo. Eu já imaginava que era ela. – Como vai? Entra aí

Dou espaço e ela passa por mim, sinto o cheiro de seu perfume doce, provavelmente com aroma de flor ou algo do tipo. O cheiro infestou meu apartamento. Fiquei tentando imaginar o motivo de ela passar tanto perfume assim.

- Vou bem, e você? – respondeu se sentando no sofá. – Você está viva? Nossa, pensei que tivesse se suicidado aqui dentro. Por que está todo fim de semana trancada? Só sai para trabalhar e eu mal te vejo na faculdade.

- Vou bem. Desculpe, é que eu ando tão ocupada, e cansada também. Mal me divirto ultimamente. – respondi suspirando.

- É por isso que estou aqui. – disse ela, jogando o cabelo para o lado. – Para te convidar pra minha festa, será na próxima sexta-feira. Eu sei que ainda é segunda-feira, mas eu sou empolgada, você sabe.

Eu concordei. Lari era muito empolgada mesmo, se havia uma festa para daqui a dois meses, ela já começava os preparativos, a lista de convidados e recomendava as bebidas (sem brincadeira).

- E então, você vai? – perguntou ela com a sobrancelha arqueada.

- Hmmm... – hesitei pensativa. – Talvez.

- Ah, qual é? Vamos lá. Você precisa se divertir. Depois que terminou com o Alex, não é a mesma. Você nos esqueceu. – comentou fazendo beicinho.

Não resisti ao ver isso. Era assim que ela sempre conseguia as coisas. Com o "charme de Lari".

- OK, eu vou! Mas não faça mais beicinho. – a repreendi. A mesma deu risada e uns pulinhos de alegria.

- Aaaah, eu te amo! – me abraçou. – Obrigada mesmo! Espero você lá, hein? Não falte.

Eu assenti e dei um sorriso.

*

- Hoje é sexta-feira e você vai ficar em casa? Qual é! – gritou Yuri. – Nós vamos nessa festa e você vai beber até cair, cansei de ver você nerd seu bosta.

Era sexta-feira à noite e eu planejava ficar em casa. Isso mesmo, planejava ficar em casa assistindo série. Para que sair quando tem Netflix? Perca de tempo. Outro motivo para eu não querer ir é que a festa é na casa da Débora, e como todos sabe, ela é apaixonada por mim desde o começo do curso. Não quero passar a noite dando um "chega pra lá" nela.

- Eu não vou. Eu vou ficar em casa assistindo série. – respondi seco.

- Sabia que uma pesquisa comprova que as pessoas viciadas em série morrem mais cedo? – É claro que aquilo não era verdade, mas ele estava tentando me alfinetar.

- Então eu vou morrer mais cedo.

- Você é um idiota. Eu vou sozinho, mas veja bem... você está deixando seu amigo que vai viajar para o Brasil junto com você, ir sozinho numa festa. Grande amigo. Que gratidão. – Ele sabe convencer uma pessoa.

- Ta certo, eu vou. Droga.

Ele sorriu vitorioso. Eu me levantei para tomar um banho enquanto ele arrumava o cabelo. Era engraçado ver ele na frente do espelho com o secador na mão. Parecia uma mulherzinha. Eu sempre preferi meus cachos naturais.

Mas, esse deve ser o charme dele, ser vaidoso. Sei lá. Não importa, isso é dele.

Quando terminei de me arrumar fui em direção à garagem, Yuri parou na porta e gritou um "Espera aí, esqueci meu casaco!". Eu assenti. Enquanto esperava, recebi uma mensagem que me surpreendeu. Eu digo "surpreendeu" porque eu realmente não esperava uma mensagem dela.

"Oi, érr, você está bem? Eu estive pensando e OK. Eu vou à casa da Kaah para a gente conversar. Mas agora, você vai ficar conversando comigo porque estou numa festa e deve ser uma merda."

Receber uma mensagem da Alice era algo totalmente maravilhoso. A sensação é inexplicável. É como se apenas um "Oi" dela, fosse fazer o restante do meu dia feliz.

"É claro que eu te faço 'companhia' e obrigado por me dar uma chance de conversar com você, faltam apenas uma semana lol".

Talvez a mensagem tenha sido empolgada demais, mas era assim que eu me sentia. Como se fosse suportável a vida, como se a festa fosse ser uma merda, mas conversar com ela fosse me acalmar. Eu só não entendi porque ela veio do nada conversar comigo, sendo que da última vez ela quase me deu um tiro virtual. Depois de cinco minutos ela respondeu.

"Obrigada, hã, e foi mal por ter sido grossa aquele dia, eu estive pensando e você não tem culpa de ser primo dele. Mas isso não significa que eu confie em você. Pois ainda não confio."

"Tudo bem. Confiança não é algo fácil de se ganhar. Ah e eu também estou indo para uma festa e provavelmente vai ser uma merda também. Mas, estou fazendo pelo meu amigo.".

Yuri chegou entrando no carro como um foguete.

- Anda logo, vamos. Dirija rápido, como se acabássemos de roubar um banco. – disse ele.

- A diferença é que seria legal roubar um banco. Ir para essa festa não. – sibilei.

Ele segurou o riso.

- Cala a boca. Ande logo, vá. Dirija! – dizendo isso ligou o som do carro e aumentou no máximo. O barulho ensurdecedor de "True Friends" da banda Bring Me The Horizon soava alto. Mas, eu não me preocupei.

Se tem algo em que eu e Yuri somos parecidos, é o gosto musical. Nunca discutimos para ver quem "escolheria a música hoje", eu e ele sempre escolhemos juntos geralmente, e quando não escolhemos, não reclamamos, pois a música agrada a ambos.

Meu celular vibrou e o visor se iluminou, avisando que havia uma nova mensagem. Eu já sabia de quem era, mas não iria ler agora que estava dirigindo. Então num golpe rápido, Yuri pegou e abriu a mensagem.

- "Você está fazendo isso pelo seu amigo? Ah eu também, então você me entende. Tudo pelos amigos haha!". Que lindos – ironizou Yuri. – Quer dizer que você vai obrigado? Quer dizer, eu já sabia disso, mas não era pra você falar para ela.

- Não vejo uma razão para não falar. – insinuei. – E coloca meu celular lá de volta. Eu falo com ela quando parar de dirigir.

Ele ia colocar, mas o celular vibrou anunciando uma nova mensagem que ele leu novamente.

- "E nessa festa vai ter garotas? Ou é uma festa só para os caras. Não sei como vocês falam aí, mas é quando os amigos se reúnem para tomar cerveja ou algo do tipo.". Que porra ela ta falando? Nunca ouvi falar de festa só para os caras, qual a graça de uma festa só para os cuecas? – Yuri parecia confuso.

Eu soltei uma gargalhada. Então, ela queria saber se tinha garotas.

- Yuri, responde assim: "Vão ter garotas, mas a que me interessa está em outra festa, e inclusive está odiando a festa. Assim como eu vou odiar a festa para a qual estou indo e vou ficar trocando mensagens com ela.".

Yuri me olhou, pareceu que ia comentar algo, mas desistiu e começou a digitar.

- Hoje é a melhor sexta-feira de todas. – comentei enquanto acelerava mais o carro.

Tudo que eu mais queria era parar de dirigir logo, e falar com ela.

- Ela respondeu. – anunciou Yuri. – Disse assim: "Aqui também tem garotos, mas eu ando pensando mais num garoto que está indo para uma festa com o amigo e que provavelmente o amigo que está digitando porque ele está dirigindo. Errei?".

Eusorri e pensei "Como ela é incrível". 

Me dê amorOnde histórias criam vida. Descubra agora