Capítulo 3 - Casa

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Quando cheguei ao escritório já eram três da tarde. Minha cabeça latejava levemente e todo o meu corpo doía. A sensação era a de que um trem havia passado por cima de mim duas vezes, no mínimo. Para começar eu não havia dormido muito bem noite passada. Passei metade da noite pensando no que o Simon havia me dito e a outra metade sendo perturbada por sonhos estranhos. Dos três casos que eu tinha que resolver no fórum hoje de manhã, resolvi apenas dois. O não resolvido me presenteou com uma forte dor de cabeça e quase uma noite na prisão por desacato a autoridade. Não tenho culpa de o promotor ser burro. Eu delicadamente sugeri que ele voltasse a estudar. Queria apenas ajuda-lo, mas ele não pareceu gostar do meu conselho. Tenho culpa se ele é um incompetente? Também não acho que quase xingar a mãe dele seja um motivo para ir presa. A culpa é dela por ter colocado aquele ser no mundo. Ela que deveria ser presa. Para resumir, eu fui apenas advertida. Felizmente peguei aquela oferenda em um dia bom. Sem falar que estava fazendo um calor maldito que nenhum ar-condicionado conseguia amenizar. Isso não faz de você a pessoa mais feliz do mundo quando acaba ficando presa durante uma hora em um trânsito infernal e derretendo aos poucos. O som das buzinas ainda ecoavam em meu cérebro a cada pontada de dor que ele dava. Alguém devia avisar que buzinas não fazem os carros misteriosamente saírem da frente em um engarrafamento. E ainda estava preocupada em encontrar o Simon. Como estaríamos essa manhã?

Mal entrei no elevador do prédio em que ficava o escritório e já fui tirando o blazer e prendendo o cabelo em um coque bem apertado no alto da cabeça. Eu só queria me sentar sem ouvir buzinas ou reclamações. Não me dei conta que havia mais alguém no elevador até uma voz baixa me surpreender.

— Dia difícil, Allison?

Não! Por favor! Hoje não!

Olhei para trás, implorando a todos os deuses que não fosse quem eu pensava que fosse, mas era. Inferno!

— Com certeza não é dos melhores, Daniel. — Dei um breve sorriso para ele e virei o rosto dando uma olhada para o painel do elevador que mudava de andar com a velocidade de uma lesma manca.

Anda! Anda! Anda!

Daniel é o dono de um escritório de contabilidade que fica no andar acima do meu. Deve ter a mesma idade que eu, nunca havia tido a chance de perguntar e nem queria perguntar. Alto, cabelos negros brilhosos e de um corte moderno. Olhos grandes, puxados e caramelos, um sorriso meio torto e quase sempre presunçoso. Era um homem bem bonito, mas o que tinha de bonito tinha de galinha e insistente.

— Bem vinda ao clube. — Ele disse.

Voltei a dar uma breve olhada para ele. Ele não parecia ter tido um dia ruim com esse sorriso de dentes brancos e perfeitos escancarados para mim. Eu só sorria assim nos meus dias mais felizes.

— Nesse momento eu só queria fazer parte de um clube aquático. O que eu não daria por uns dias de folga e uma piscina. — Murmurei e imediatamente me dei conta de que verbalizei coisa demais e já sabia o que me esperava por ter dado essa brecha.

Maldito elevador lento! Maldita hora que o senhor Simon Nardini me forçou a escolher o vigésimo andar para instalar o escritório. A culpa de tudo era do Simon!

— Eu tenho uma piscina. –—Daniel disse, sua voz era tão irritantemente aconchegante e sensual que eu me vi forçada a olhá-lo de soslaio. O sorriso torto costumeiro estava lá, brincando em seus lábios vermelhos. Não encontrei uma resposta para dar a ele. Apenas franzi o cenho de uma maneira interrogativa. Eu havia entendido muito bem à insinuação, só não estava com paciência para responder. Ele continuou ao ver minha expressão e perceber que eu não responderia. — Qual será a desculpa dessa vez? E não diga trabalho. — Riu de um jeito galante.

Closer - Parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora