Os acordes do piano apresentaram uma música nova, de batidas leves, mas ferozes, como antes estavam os olhos dele. Simon apertou minha mão de uma maneira leve e me puxou delicadamente um passo para mais perto dele. Respirei fundo e isso trouxe ao meu nariz um cheiro oriental amadeirado, novo para mim, mas que estranhamente fazia parte de alguma lembrança sem imagens em minha mente. Nossos corpos não estavam colados, havia um pequeno espaço que deixava que nós olhássemos um para o outro. A mão dele deslizou de minhas costas para minha cintura.
Eu puxei o ar pela vigésima vez naquela noite.
Simon me guiou suavemente para o lado, passos lentos, no ritmo da batida da música. Me olhava de uma maneira indecifrável, seus olhos castanhos pareciam negros, a expressão era séria, mais estranhamente suave. Nós demos mais alguns passos pelo salão, em silêncio. Eu conseguia senti-lo de uma maneira assustadora e próxima demais. Mãos, pele, vibrações, respiração. Tão quente, tão perto. Como se eu tivesse o desvendando pela primeira vez, o enxergando.
— O que eu tenho que fazer para escutar sua voz hoje? — o tom dele estava baixo, e me assustou. Seus olhos não ousaram sair dos meus e eu não me senti capaz de desviar os meus. Mesclado por tantos sentimentos diferentes.
— Eu só não sei o que te dizer. — me escutei dizer. Sua íris brilhou de um jeito intenso. Eu não sei se ele esperava algum tipo de resposta ou resolução. Seus olhos estavam ilegíveis para mim.
— Então, por hora, não diga nada, apenas dance comigo. — e qualquer espaço que existisse entre nós não existia mais. Nossos corpos estavam colados de uma maneira que nunca tiveram antes. Eu sentia as batidas do coração dele em minha pele, por mais que duas camadas de roupas estivessem entre nós meu coração batia no mesmo ritmo que o dele. Estava sendo levada pelo salão, completamente guiada por ele, sem saber qual seria o próximo passo na dança e na nossa relação.
A cada passo o cheiro dele se acentuava e ficava mais forte, o corpo dele mais perto. A mão em minha cintura a cada vez que se movimentava me causava arrepios. Simon apertou a mão que segurava a minha antes de seu hálito quente bater em minha orelha e em meu pescoço, arrepiando os pelos da minha nuca.
— Não tente achar nomes nem conjecturas, não pense no que pode ser e sim no que está sendo agora. Somos apenas nós, sem precisar dar um nome pra isso, nem uma data de validade.
Ele me afastou um pouco de seu corpo, dando espaço para que nos olhássemos diretamente, sem que eu tivesse tempo de absorver o que ele tinha falado.
Mordi meu lábio inferior.
Eu conseguiria fazer isso? Ou melhor, eu queria continuar com isso? Havia o que continuar? O que era isso entre nós? Primeiramente, poderia existir um nós?
— Eu não gosto... — tentei organizar as palavras em minha mente. — Essa situação... nós... Eu não gosto de como está. Eu não sei lidar com isso.
— Eu não gostava de como estava.
Ele me deu um sorriso brando e paramos de dar passos pelo salão. Eu não abri minha boca, porque, como antes, não sabia o que responder. Essa falta de respostas por minha parte estava me dando nos nervos. Eu não era assim! Sempre sabia o que responder e na maioria das vezes o que decidir. E eu queria dizer que ia tentar, mas não sabia nem ao menos se queria tentar.
— Boa noite, Ally.
Os lábios dele tocaram em algum lugar perto da minha bochecha e dos meus lábios, minha respiração falhou. Simon soltou nossas mãos e tirou a mão de minha cintura. O toque da música sessou aos poucos. Sem mais nenhuma palavra ele saiu para um lado e eu voltei para a mesa. Com a sensação de que havia acabado de pular por minutos em uma cama elástica e que meus pés não pareciam tocar o chão.
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Closer - Parte II
RomanceÉ da natureza humana se afastar daquilo que causa dor e se aproximar daquilo que lhe faz bem. Allison ainda não aprendeu essa lição. Dois anos depois do casamento de Jeremy, a vida que ela imaginou aconteceu exatamente como esperado, ela só não pens...