Capítulo 5 - Encostar de lábios quase acidental

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— VOCÊS SE BEIJARAM? — Mandy gritou quase se jogando por cima da minha mesa para me alcançar. Meu rosto se contorceu em uma carranca. Olhei para a porta do meu escritório. Eu não sabia se Simon já havia chegado, mas não era o tipo de conversa que eu queria que ele escutasse. O tom sussurrado que eu estava usando devia ter alertado a ela que a conversa era para se mantida assim.

— Shhhhhhhhhhh!

Amanda encolheu os ombros em um pedido de desculpas.

— Não nos beijamos, foi um encostar de lábios acidental. — sussurrei em resposta.

— E como exatamente esse encostar de lábios acidental aconteceu? — ela mordeu a tampa da caneta que estava segurando, sussurrando no mesmo tom.

— Eu não sei bem como isso aconteceu. — encolhi os ombros.

Eu lembrava exatamente de tudo o que havia acontecido, mas não lembrava exatamente de como havia acontecido.

— Assim fica difícil imaginar a cena.

Eu grunhi. Havia pedido a Amanda que me desse uma visão de fora, imparcial, do que havia acontecido mais cedo, pois todas as vezes que eu havia voltado o vídeo em minha mente à cena ficava mais embaçada e confusa.

— Não sei, foi rápido. Eu o abracei na empolgação pelo apartamento e quando fui dar um beijo na bochecha dele... Enfim, não foi nada. — Sacudi os ombros como se isso fosse afastar para longe toda a confusão em minha cabeça, afastar toda e qualquer lembrança, voltar no tempo, onde eu teria apenas estendido a mão para Jeremy em forma de agradecimento.

Droga! Droga!

— Pode ter sido qualquer coisa, menos nada, Ally. Não nesse caso.

— Que caso? O de ser apaixonada por um homem casado? Por esse homem casado ser meu melhor amigo? Ou o de que um selinho estúpido me deixar mal? Qual deles? — suspirei irritada. Não com ela, mas comigo. Era ridículo! Ridículo eu não ter dormido a noite passada por causa de um estupido encostar de lábios. Ridículo estar sentindo que algo estava esmagando meu corpo lentamente. Dor, saudades, impossibilidade. Ridículo ainda estar apaixonada pelo meu melhor amigo – casado! - depois de tantos anos.

— Não foi nada, não significa nada e não muda nada. — Eu disse por fim, me convencendo disso. Para ter o que fazer comecei a juntar os papéis que soltos em cima da minha mesa.

— Claro que foi alguma coisa, dá para ver nos seus olhos que significou muito, mas, é, não muda nada. — Amanda parou minhas mãos afobadas, forçando-me a olhar pra ela.

Amanda não é do tipo de pessoa que fala o que se precisa ouvir. Ela fala a verdade, por mais que seja dura. E era disso que eu precisava a verdade jogada em minha cara todos os dias, por mais que doesse. Simon havia tentado, mas eu não havia sido muito receptiva. Embora o modo como ele abordou não tenha sido dos mais delicados e ainda me acusou de conjecturar para o termino de um casamento. Havia me ofendido, e também havia alimentado meu medo de estar realmente agindo como traidora, de não ser merecedora da confiança da Georgia, nem do Jeremy. Um ponto fraco que eu tentava esconder até mesmo de mim, ele definitivamente havia encontrado. Um tiro perfeito.

— Um selinho era um cumprimento para nós, porque agora tem que significar tanto?

— Significa tanto por que seus sentimentos pelo Jeremy mudaram, então tudo que vier dele também irá te afetar de modo diferente. — Amanda disse com uma pose séria.

— Eu devia odiá-lo por isso.

— Sim, e eu espero esse dia acontecer faz exatamente dois anos. — Amanda nunca escondeu a raiva que sente do Jeremy, uma raiva que ela não deixa exposta, mas que alimenta interiormente por minha causa, por mais que ele não tenha culpa de nada. Simon compartilhava da ideia e vivia afirmando e julgando Jeremy por isso. Era errado e isso me atingia. Jeremy não merecia ser julgado por uma decisão minha. Ele não me forçou a amá-lo.

Closer - Parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora