Capítulo 21 - Novo vizinho

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Esperar dói, esquecer dói, mas não saber o que fazer é a pior dor.

- Paulo Coelho

'Nossa, como os dias passaram rápido!'

Foi o que a Amanda disse postada diante do espelho, enquanto fazia a penúltima prova do vestido de noiva. Eu discordava completamente! Os dias pareciam décadas e os minutos longas horas. Duas semanas que mais pareceram vinte longos anos. E não, eu não estava nem um pouco ansiosa para que as horas parecessem passar mais lentas, o que eu sentia era o peso da falta do que eu sempre tive, o grande vazio deixado dentro de mim que nada no mundo conseguiria preencher, por mais que eu tentasse. Um vazio opressor. Nos dias que se passaram tentei escreve um roteiro para a minha vida, mesmo sabendo que tudo não passava de um rascunho enquanto eu não conseguisse lidar com o vazio, preenche-lo. Enquanto eu não conseguisse voltar ao que era, ou simplesmente... esquecer. Para se iniciar um novo capítulo tem que se passar uma página, não é? Mas virá-la nunca foi tão difícil. Sentia que estava balançando em um pendulo alto demais para que fosse possível alguém me ajudar a pará-lo e eu não fazia ideia de como descer dali, mesmo sabendo que não poderia ficar balançando eternamente. Em algum momento eu teria que pisar no chão, em algo fixo, ter alguma estabilidade. Ninguém pode ficar se balançando pelo resto da vida, uma hora enjoa, ou apenas, acaba a energia do embalo. No entanto, haviam me balançado com muita força e eu não alcançava mais o chão, o medo de me jogar era grande demais, pois a queda sempre doía. É como no parquinho, quando o amiguinho empurra o balanço com força demais, e você aperta as correntes com medo de cair, mas o balanço vai e vem o mais alto que pode e parece que nunca vai descer, você sente um misto de medo e euforia que faz o estômago revirar. E você tem três alternativas, ou o amigo faz o balanço parar, você se joga, ou então espera o tempo suficiente para que ele pare sozinha, que entre nos eixos, mas corre o risco de ser empurrada mais uma vez, antes que isso se torne possível. Jeremy fez isso comigo, e eu continuo balançando, presa as correntes, com medo de me jogar, mesmo sabendo que ele não vai fazer parar. Só dependia de mim parar.

As palavras de Amanda se repetiam em minha mente, sem me dar paz. E por mais que eu persuadisse minha mente a ignorar e desacreditar qualquer suposição que a Amanda tivesse jogado sobre mim, cada vez mais outras explicações perdiam o sentido para explicar as atitudes do meu amigo. Não que ele sentir ciúmes de mim fizesse qualquer sentido, ou melhor, não podia fazer sentido, pois eu não estava preparada, não aceitava e nem queria lidar com isso. Eu preferia acreditar que ele só estava magoado comigo, por tê-lo deixado sem noticias.

As duas primeiras semanas sem qualquer contato ou noticia foram incomodas. Pareciam suspensas, esperando uma grande resolução. Na terceira semana o peso da realidade me atingiu como se uma bigorna tivesse caído em cima de mim. Ao mesmo tempo em que me estraçalhou, amorteceu todos os meus nervos. Receber uma ligação da Georgia para que nós duas fossemos procurar o presente da Amanda, devo dizer, foi o ponto crucial da semana.

— O Jeremy está super ocupado, e me pediu para ajudar. Ele disse que você não iria se importar

Foi o que ela disse ao telefone, enquanto do meu lado só havia silêncio, um silêncio desacreditado. Devo ter aberto a boca umas três vezes, mas não conseguir fazer qualquer ruído inteligível. Sem esperar minha resposta, ou talvez notando algo de errado, Georgia prosseguiu quase em tom de desculpas.

— Ele disse que você não iria me importar.

É, talvez ele não me conhecesse como eu imaginava que conhecesse. Engoli a frase que coçou em minha língua, engolindo também a mágoa que estava se formando. Ele iria simplesmente se afastar?

Closer - Parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora