Eu abaixo perto dele. Ele estava tendo uma convulsão. Os médicos acalmaram ele e chegou uma maca com dois rapazes. Colocaram o Caio lá e eu entrei na caminhonete junto. Fomos para o saguão. Tem uma pequena enfermaria ali.
Ana - O que aconteceu com ele?
Thomas - A Pamela estava na casa dele, eles estavam conversando aí ela correu na minha casa e disse que ele começo a tremer do nada, tipo o corpo todo dele começou a tremer, sabe? Aí eu fui ver o que era e ele começou a falar "choque, choque" aí eu chamei os médicos..
Ana - O choque ! Meu Deus.. Vai atrás do Felipe, leva uma maca e uma caminhonete, trás ele aqui o mais rápido possível que eu vou falar com os médicos!!
Thomas - Mas o que houve?
Ana - Vai logo antes que o Felipe tenha um ataque também! Depois eu explico!!
Ele sai correndo e eu vou falar com os médicos. Eu explico que o Carlos tinha colocado um aparelho na perna deles que dá choque até morrer. Eles começam a cirurgia.
Eu ficava toda hora andando de um lado para o outro. Faz meia hora que o Caio está lá dentro e o Felipe entrou na outra sala faz uns 15 minutos. Estou com medo de acontecer alguma coisa. Isso está me deixando nervosa. Estou sentada no banco quando o Thomas chega.
Thomas - Tenta ficar calma, Ana. Eles vão ficar bem.. Os médicos só precisam remover aquele aparelho da perna deles..
Ana - É difícil ficar calma nessas horas..
Thomas - Vamos tomar um café?
Ana - Melhor eu ficar aqui mesmo e esperar os resultados..
Thomas - Se você ficar aqui vai ser pior. Vamos lá na lanchonete. Quando eles terminarem a cirurgia a Pamela vai me ligar avisando. Ela vai ficar aqui.
Ana - Claro, como sempre..
A gente vai no carro dele. Fomos na cafeteria a onde eu trabalho. O Thomas e eu ficamos conversando. Eu disse pra ele tudo, até da parte que o Carlos mandou o Roberto atrás de mim, fingindo que eu iria ver o meu pai. Ele me distraiu bastante, foi bom.
Thomas - E então, seu pai já falou com você?
Ana - Não.. Eu não quero saber dele..
Thomas - Acho que ele está pra fora, foi resgatar sobreviventes...
Ana - Uhum..
Thomas - Eu não entendo. Você estava feliz por vir pra cá e me disse que tinha ido com o cara desconhecido porque achava que iria encontrar com o seu pai.. Mas agora que está aqui não quer nem saber dele. Qual o problema?
Ana - Eu não sei.. O meu pai, ele.. Ele me fez mal no passado e toda vez que eu fico de frente com ele eu lembro de tudo.. Mas ao mesmo tempo eu me sinto bem com ele por ele ser o meu pai..
Thomas - Mas que tipo de mal ele te fez ?
Ana - Ah, eu não gosto de falar disso...
Thomas - Tudo bem...
Enquanto eu fui pedir mais café o celular dele toca. Eu fiquei desesperada para saber se era a amiguinha dele.
Ana - E aí?
Thomas - Era a Pamela, eles já terminaram a cirurgia. Vamos.
Eu pego dois cafés para viagem.
Chegamos rapidamente no saguão. Eu i a Pamela e a Larissa sentadas no banco de espera. Assim que chegamos a Pamela correu pros braços do Thomas e antes que a Larissa corre para os meus eu virei em direção ao quarto do Caio.
Enfermeira - Ele está acordando agora. Pode ser que ele não fale muita coisa.
Ana - Ok, eu quero vê-lo.
Ele abre a porta e eu entro. Meu coração palpita a mil. Meu estômago embrulha e a ansiedade aumenta a cada segundo. Eu chego perto dele. Ele ainda está com os olhos fechados. Eu olho. Pego na mão dele. Está gelada. A canela dele está enfaixada. Ao fico ao lado dele. A sala está em silêncio. Mas tem uma coisa falando. Os meus pensamentos. Eles estão a mil. Eu penso em mil coisas, não sei o que fazer. É triste vê-lo em uma maca. É triste querer tê-lo só para mim e não poder.
Ana - Caio...
Ele não responde. Meu coração dói..
Ana - Caio, se estiver me ouvindo aperte minha mão..
Ele não se moveu. Deve estar sedado ainda. Acho que o efeito não passou. Mas eu preciso desabafar. Tenho que falar com ele, mesmo que ele não me ouça.
Ana - Olha, sei que não está me ouvindo. Mas se você tivesse acordado, eu queria poder dizer o quanto você é importante para mim. Eu não estou falando no sentido de amizade. Eu quero dizer que eu te amo. Desde o primeiro dia que a gente se conheceu, eu te amo, eu sempre te amei. E eu não quero te perder agora, sabe, esse tempo todo foi muito difícil pra mim. Eu queria poder dizer mas toda vez que eu ia falar você vinha com uma notícia que marcou um encontro com alguém ou que alguém se declarou para você. Claro, isso tudo é bobagem minha, mas o que eu sinto é verdadeiro. Eu posso ter ficado com outros caras, mas foi na tentativa de te esquecer. Eu nunca deixei de te amar e mesmo que eu tenha que guardar isso comigo para sempre, eu não vou me separar de você. Eu não quero te perder, Caio. Eu não quero. Você precisa acordar logo, eu quero te abraçar e dizer o quanto eu te odeio por ter feito isso. Você deveria ter me avisado dos choques. Eles começaram ontem, o médico me disse. Caio, eu sei que não me ouve, mas quando acordar eu vou dizer isso, eu vou dizer que te amo. Nem que seja a última coisa que eu falo para você. Mas eu preciso tirar isso de dentro de mim. Eu não aguento mais..
Lágrimas escorrem pelos meus olhos. Meu coração permanece acelerado. Caio não se moveu nem um segundo. Eu limpo as lágrimas e vou em direção da porta. Quando vou abrir a porta, escuto um sussurro.
Caio - Ana.. Eu também..
