Capítulo III

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           Dois sujeitos andavam abraçados pelas redondezas da casa de detenção de La Rochelle, aparentando adiantado estado de embriaguez. Cantavam músicas populares entre os grumetes e riam de piadas sem graça. Já passava das nove horas da noite, quando, na rua defronte à prisão, surgiu um soldado levando um prisioneiro pelo braço. Bateu no portão de madeira, chamando a atenção do vigia.

          – Abra! Trago um prisioneiro! – ordenou a voz grave e firme.

          – A essa hora? – objetou o guarda sonolento olhando pela pequena abertura gradeada do portão, tentando visualizar o colega fardado que lhe dava a ordem.

          – Ordens do Chefe Menotté – complementou em voz baixa sob a sombra de seu chapéu.

          Ao ouvir aquele nome, as dúvidas desvaneceram-se no ar e o portão imediatamente foi aberto.

          – Didier? – admirou-se o vigia, permitindo a entrada dos dois. – O que você aprontou dessa vez? Veio fazer companhia para sua filha?

          O outro permaneceu mudo e cambaleante.

          – Podemos acabar logo com isso? Quero voltar para meu posto na residência do Chefe – disse o soldado novato.

          – Eu nunca o tinha visto por aqui... Veio de Bordéus acompanhando Monsieur Menotté? – O soldado balançou a cabeça afirmativamente enquanto passavam pelo segundo vigia noturno e caminhavam em direção aos fundos da construção onde ficavam as seis celas do município, sendo que apenas uma estava ocupada naquela noite.

          – Sim, mas provavelmente eu volte para Bordéus – falava naturalmente enquanto os olhos observavam um vulto que se movera dentro de um dos cubículos.

          Quando o guarda tentava abrir a cela onde ficaria Didier, recebeu um golpe na cabeça, desferido pelo suposto auxiliar de Menotté, com o cabo de sua espada, que o deixou desacordado.       Imediatamente, o falso soldado terminou de abrir a porta gradeada, pegou o molho de chaves que ficara pendurado na fechadura, e correu para onde Marie estava encerrada. Enquanto isso, Didier colocava o guarda dentro da cela que anteriormente seria dele.

          – Didier! O que é isso? Quem é esse aqui e para onde vão me levar? – indagou Marie, recuando até a parede no fundo da cela, incerta do que estava ocorrendo.

          – Não acha que faz perguntas demais para quem está prestes a perder a cabeça?

          – Você de novo? – perguntou espantada com a presença do homem que a perseguia há dois dias. – Onde conseguiu essa farda?

          – Peguei emprestada. – respondeu irreverente. – Vamos sair daqui antes que o outro idiota venha saber por que estamos demorando tanto. – Vendo Marie imóvel, tratou de puxá-la pelo braço para fora da cela. Ela o seguiu sem resistência.

          – Remi? – gritou o outro guarda preocupado com a demora – Algum problema por aí?

          – Não houve nada! O prisioneiro apenas vomitou! – respondeu Crow, fazendo com que ele desistisse imediatamente de verificar a situação do colega de turno.

          Marie não pode deixar de rir e admirar a presença de espírito de... Como era mesmo o nome dele?... Nigel... Por que ele lhe parecia tão estranhamente familiar?

          Crow trancou a cela em que Didier colocara Remi, que ainda estava desacordado, e partiram para a segunda parte do plano.

          – O que deu em você para se unir a esse maluco e tentar me salvar? – sussurrou Marie a Didier, intrigada com a súbita nobreza de seu pai adotivo.

O Corsário ApaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora