Capítulo XV

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A cabeça doía muito. Abriu os olhos temendo que seu pesadelo fosse realidade. Seu coração não queria reconhecer o que seus olhos viam. Estava na cabine de um navio, que não era a mesma na qual estivera por mais de duas semanas com Crow. Onde estava? Insistia na pergunta da qual já sabia a resposta. Tentou levantar da cama onde estava, mas seu corpo parecia negar-lhe os movimentos. Aquilo não podia estar acontecendo... Suas últimas lembranças a levavam para o quarto de Didier, para onde Sam a levou aflito com o estado de saúde do amigo. Quando entraram, logo notou a desorganização exagerada do aposento que parecia ter sido revirado por ladrões a procura de ouro. O velho francês parecia estar acordando naquele momento e surpreendeu-se com sua presença ali, aparentando bom estado de saúde, não fossem os olhos inchados e a voz arrastada pela ressaca.

Foi então que sentiu uma pancada forte na cabeça e perdeu a consciência.

Não lembrava como fora colocada atravessada no lombo de um cavalo. Ouviu ao longe uma voz, que supôs ser do cavaleiro que a segurava, falando em espanhol para Sam.

Vamos! Sígueme! – mandou que montasse no outro animal que os esperava e saíram em desabalada corrida rumo ao norte, provavelmente em direção ao El Tiburón onde alguém estaria a sua espera muito ansioso.

Por medo ou devido a pancada na cabeça, perdera novamente os sentidos, para acordar somente agora, naquela cabine.

– Espero que esteja se sentindo bem, minha querida. Ainda bem que Castilhos deu um fim àquele estúpido que bateu em você dessa maneira. Poderia tê-la matado, o bandido.

Ana estremeceu ao ouvir a voz de Cristóbal e o pavor tomou conta de seu ser ao perceber que não estava sonhando e sim vivendo seu pior pesadelo. Lutando contra a apatia de seus músculos e a dor, sentou-se sobre a cama, encolhida contra a guarda e encarou seu algoz.

– Por favor... Leve-me de volta. Eu não quero nada seu. Tenho vivido minha vida sem exigir nada dos Villardompardo e assim pretendo continuar. Portanto não precisa temer em perder sua fortuna ou seu título. Eu lhe peço...

Um sorriso aparentemente piedoso surgiu no rosto do espanhol.

– Minha cara, você terá tudo que lhe é de direito assim que chegarmos à Cádiz. Por que pensa que a estou levando de volta?

– Para matar-me ou colocar-me em prisão perpétua num calabouço na torre de seu castelo.

Ouviu uma gargalhada inadequada brotar da garganta do tio vilão.

– Como pode pensar uma coisa dessas de mim? Sou seu tio e você é sangue do meu sangue.

– Não seja hipócrita. Lembro muito bem o que aconteceu em Villardompardo e o que levou meu pai a fugir de suas próprias terras temendo pela vida da mulher e da filha.

– Do que você pode lembrar, meu bem? Era apenas uma criança mimada que de nada podia entender. Não me julgue por suas antigas lembranças infantis.

Ana não conseguia entender o que o tio pretendia com aquela conversa cheia de falsidade.

– Eu já disse que não quero nada dos Villardompardo. O único dessa família a quem eu amava, meu pai, está morto.

– Não, minha querida... Você vai aprender a amar a outro Villardompardo... Eu.

Ana não podia crer no que ouvira.

O Corsário ApaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora