Capítulo VIII

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Apesar de ainda sentir-se um pouco fraco, devido ao ferimento e a perda de sangue, e do desejo de permanecer ao lado de Ana, que se mostrara tão cuidadosa e afável com ele, Crow voltou ao convés acompanhando Brett a fim de verificar os estragos feitos pela tempestade. Graças aos marujos experientes e ao comando de Brett, o Highlander conseguira contornar o ciclone e sair sem maiores danos, além do mastro secundário e velas rasgadas, conforme ele pode observar após sua avaliação. Os reparos necessários poderiam ser feitos durante a navegação, que continuaria rumo a Eleuthera.

– Crow, agora que já fez a sua vistoria, espero que crie um pouco de juízo, volte para a cabine e vá descansar.

– Eu estou bem, Brett. Além disso, você sabe que essa região é propensa a mudanças climáticas bruscas. Nada garante que estamos livres de outro ciclone ou de uma tempestade.

– Por isso mesmo. Quero que esteja bem saudável caso tenhamos que enfrentar outro probleminha como esse que passou. Aproveite que tem a sua disposição uma bela moça para cuidar de seu ferimento.

– Ela apenas ficou agradecida pelo que fiz hoje.

– Você realmente está gostando dela...

– Não seja ridículo.

– Que outro motivo teria para inventar tantas desculpas para fugir dela?

– Tenho mais com o que me preocupar do que fugir de uma mulher.

– Meu caro... Não é de uma mulher qualquer. É dessa mulher.

– Me deixe em paz, Brett.

Virou-se bruscamente, para evitar as argumentações de seu imediato e reconhecer que ele não estava muito longe da verdade, e sentiu a dor aguda voltar ao ombro, o que provocou uma imprecação quase inaudível.

Naquela noite, ele continuou se recusando a dormir na cabine e a compartilhar o mesmo espaço com Ana. Apesar de Brett lembrar que os homens já sabiam que ela estava bem, Crow disse que não queria impor sua presença a ela e criar-lhe alguma situação constrangedora. Contudo, no início da madrugada, Crow começou a gemer, chamando a atenção de Brett que dormia em outra rede próxima, no espaço que dividiam no porão do navio. Ardia em febre, o que podia ser um mau sinal, pois demonstrava que o ferimento não estava cicatrizando adequadamente. Ele não podia continuar ali naquele ambiente insalubre e deitado numa rede. Precisava de uma cama e de cuidados.

Ana acordou sobressaltada ao ouvir a batida forte. Didier fez um muxoxo e virou-se em seu leito improvisado no chão. Havia bebido todo o rum que sobrara do tratamento de Crow. Pegou uma faca que ficara na bandeja do jantar e caminhou cautelosamente até a porta.

– Ana! Por favor, abra a porta! Sou eu! Brett!

– O que quer? – perguntou intrigada com a causa de uma visita àquela hora da noite.

– É o Crow. Ele não está bem.

Imediatamente a porta se abriu e o rosto atônito de Ana apareceu na penumbra. A aflição só surgiu quando colocou os olhos sobre o homem que tinha sido trazido numa espécie de maca por outros dois marujos.

– Entrem! – ordenou, afastando-se do caminho.

Quando eles fizeram menção de deixá-lo no chão, ela imediatamente interferiu.

O Corsário ApaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora