Capítulo XIII

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            – Homens! – exclamou Ana injuriada. – Ele me afastou daquela sala de propósito e usou você para isso!

– Eu sei. – disse Tina aceitando o protesto e reconhecendo a ação de Crow.

– O Brett contou que esse homem pode estar atrás de mim? – perguntou um pouco mais calma.

– Ele me contou sobre a sua prisão e a fuga de La Rochelle. Castilhos estaria interessado em capturá-la por uma recompensa. É isso?

– Mais ou menos isso – admitiu e voltou o olhar para o chão, pensativa.

– Eu não acredito que aquele rato de navio esteja aqui por esse motivo. – continuou Tina agora em tom de indignação. – Mas não se preocupe. O Crow e o Brett vão saber lidar com ele. – consolou-a antes de abrir um sorriso maroto e arrastar Ana para sentar-se ao seu lado na beirada da cama – Agora, eu quero saber o que aconteceu no seu passeio e que história é essa de casamento?

Ana não teve como manter a expressão sombria do rosto. Acabou por sorrir, lembrando-se da tarde maravilhosa que passara ao lado de Crow.

– Ah, o passeio foi muito bom e ele me pediu em casamento. – contou resumidamente, aguardando a represália que viria a seguir.

Tina ficou com o olhar expectante paralisado sobre a face de Ana, ansiosa pela continuação e pelos detalhes que deveriam acompanhar o relato. Quando viu que a amiga dera por encerrada sua narrativa, explodiu da forma como Ana já esperava.

– Como assim? Acabou? Eu quero saber os detalhes. Tudo. Por favor... – implorou.

Percebendo que Tina não desistiria enquanto não contasse como Crow chegara ao pedido de casamento, resolveu contar sua história anterior a La Rochele. Apesar de conhecê-la há poucas horas, sentia que Tina era uma pessoa confiável.

A jovem pasmada ouviu o relato dos fatos que levaram Ana e Crow a se conhecerem anos antes, o conturbado reencontro e a viagem a Eleuthera. Afinal, o tão esperado resumo da tarde e do pedido de casamento, sem maiores detalhes íntimos, tornou-se o menos interessante da narrativa.

– Agora você entende o porquê da minha preocupação com a presença de Castilhos aqui na ilha?

– Sim, claro. – respondeu Tina ainda perturbada com a história que acabara de ouvir. – Nossa! Diante disso tudo, as minhas dificuldades com o Brett não são nada.

– Pois então. Agora quero que me conte o que aconteceu aqui na nossa ausência.

– Nada. – disse entristecida.

– Você não falou a ele sobre os seus sentimentos?

– Ah, Ana, eu bem que tentei, mas ele parece que não quer saber mesmo de mim.

Compadecida pela nova amiga, que parecia tão vivaz e dona de si mesma, mas que naquele momento parecia a mais frágil das criaturas, amargurada por ter sido rejeitada pelo homem que amava, Ana insistiu.

– Tina, o que aconteceu? O que o Brett fez para deixá-la assim?

– Nem sei se vale à pena tocar nesse assunto. – seus olhos brilhavam com as lágrimas represadas. – Não tenho o direito de entristecê-la com as minhas mazelas.

– Sabe, Tina, eu nunca tive uma amiga com quem partilhar meus problemas. Com minha mãe eu sempre podia contar, mas ela morreu quando eu ainda era uma criança. Fui forçosamente adotada por um homem que, apesar de nunca ter levantado a mão para mim, nunca foi o que se poderia chamar de paternal. As únicas mulheres com quem eu tinha contato eram algumas vendedoras no mercado onde eu buscava a minha sobrevivência roubando ou as prostitutas que me conheceram criança e que às vezes me chamavam para conversar bobagens ou para dividir um pedaço de bolo. Nunca pude sentir o que era uma verdadeira amizade com elas. Sendo assim, se você quiser ser minha amiga, pode começar a contar suas mazelas. Já contei as minhas.

O Corsário ApaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora