Capítulo XIX

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Dez dias após a chegada imprevista de Crow à propriedade dos Lodwick, próxima a Ashford, na província de Kent, este já se encontrava mais disposto. A tosse praticamente desaparecera e ele já readquirira quase todo o peso que perdera no período de prisão e fuga. Há pelo menos três dias começara a falar em partir. Um dos motivos era não querer complicar a vida de seu pai, tornando-o cúmplice de um fugitivo. O outro era sua intenção de comunicar a Edmond Boyle que sua sobrinha estava viva e, depois disso, partir ao encontro de Ana. Entretanto, fora demovido de tais ideias pelo Dr. Hall, que lhe dissera que seu organismo ainda não estava preparado para empreender nova fuga. Ainda precisava de pelo menos mais alguns dias para sua recuperação total. Impaciente, andava de um lado a outro do quarto, já que não podia sair para evitar que outras pessoas o vissem e a informação de sua presença fosse levada a quem não devia.

Naquela tarde de início de Outono, um cavaleiro fardado com as cores da marinha chegou ao castelo de Lodwick. Para surpresa de Crow, que não esperava nenhuma visita, identificou o homem como seu amigo Arthur Greenville. Sua presença, provavelmente significava que ele já soubera de sua fuga e viera para avisar seu pai do ocorrido. Talvez ele pudesse ajudá-lo a encontrar Edmond Boyle.

Quando entrou no salão principal encontrou seu pai conversando com Arthur em tom confidencial. Assim que o viu, o amigo que trouxera para a Inglaterra, semanas antes, exclamou:

– Nigel! Estão todos a sua procura. Por que fugiu?

– Não podia mais esperar, principalmente depois de saber que a intenção era me deixar morrer lá mesmo, sem julgamento.

– Como assim?

- É isso que você ouviu, Greenville – confirmou Timothy, interferindo na discussão para apoiar o filho em sua decisão. – Ele chegou aqui há cerca de dez dias quase morto. Não fosse o Dr. Hall e os nossos cuidados ele estaria morto.

– Sinto muito por isso, Nigel – retorquiu Arthur com expressão de pesar. – Realmente eu pensei que haveria um julgamento em breve. Inclusive, eu seria testemunha ao seu favor. Retornei a poucos dias de uma missão no The Conqueror pronto para comparecer ao julgamento, quando fiquei sabendo de sua fuga e da de Castilhos.

– Foi ele quem me ajudou a escapar.

– O quê? Castilhos o ajudou a fugir? Não acredito...

– Devo a ele por estar vivo ainda, por incrível que pareça.

– Muito bem... E agora... O que pretende fazer?

– Não sei...

– Ele ainda precisa de mais alguns dias para se recuperar antes de partir. – explicou Timothy. – Espero que você mantenha sigilo sobre Nigel estar aqui, Greenville.

– Nigel me conhece... Não sei se poderei guardar este segredo. Tenho meus deveres para com a Rainha e lealdade é um deles. Não posso fingir que não sei o paradeiro de um fugitivo que eu mesmo ajudei a prender.

– Santo Deus, Greenville! Ele não é um fugitivo comum. Ele é seu amigo!

– Eu o entendo, Arthur – contemporizou Nigel –, mas dessa vez não vou me deixar confinar mais uma vez naquela prisão fétida de Londres. Além disso, preciso concluir uma tarefa.

– Que tarefa?

– Comunicar a Sir Edmond Boyle que sua sobrinha Ana está viva.

O Corsário ApaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora