Capítulo IX

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O dia finalmente amanhecera. As nuvens carregadas de chuva afastavam-se rapidamente. Deixavam a região conhecida por suas turbulências. O vento encarregava-se de inflar as velas do Highlander levando-o em suas asas através do rumo traçado quase duas semanas antes. A ilha de Eleuthera. Poucos homens estavam no convés trabalhando com as escotas, remendando velas rasgadas na tempestade ou secando o convés. Os demais, que haviam lutado contra a fúria do tempo, durante a noite, foram dispensados para um breve descanso. Brett podia sentir todo o peso do cansaço das horas sem dormir no corpo dolorido. Não conseguira voltar à cabine para ver Crow. Esperava que ele estivesse melhor. Quando pensou em descer à cabine para ver como estava o amigo, este apareceu ao seu lado. Parecia bastante abatido, mas a febre aparentemente o abandonara.

Você devia estar na cama. – disse sem esconder a satisfação de vê-lo na expressão sorridente.

– Estou me sentindo melhor. Além do mais não conseguia dormir.

– E Ana?

– Está descansando.

Olhou para o horizonte, sentindo a brisa marinha batendo em seu rosto. Não cansava de admirar a tênue linha que dividia céu e mar. Uma faixa tão delicada que tornava difícil definir onde começava um e terminava o outro. As águas das Caraíbas eram coloridas por tons de um azul luminescente, que ele só vira nos mares do sul da China, mas àquela hora do dia, com o sol nascente, se tornavam douradas, mesclando tons vermelhos e alaranjados de uma beleza indescritível. Eram momentos assim que o levavam a gostar tanto da vida em alto mar. Pensou em como seria maravilhoso ter Ana ao seu lado para compartilhar o encanto de imagens como essa. Logo barrou esse pensamento, virando-se para Brett.

– Ela me falou da ajuda de Liam e do seu chá... Muito obrigado.

– Não há de quê.

– Também sei que houve outra tempestade. Algum estrago mais?

– Nada que não se possa recuperar ou ignorar. O Highlander conseguiu sair-se muito bem. Pode voltar para a cama e tratar de se recuperar nos braços da bela Ana. – disse em tom de galhofa, porém notou que Crow não achara graça e que, em pensamento, não estava exatamente ali ao seu lado. – Algum problema?

– Não. – respondeu mantendo o olhar no horizonte, que começava a perder o tom dourado e voltava a ser uma mistura de nuances do azul.

– Quer se abrir comigo?

– Não... São apenas coisas a resolver quando estivermos em Eleuthera.

– Muito bem. Não vou insistir. – calou-se ao ver que estariam acompanhados em instantes.

– Nigel! – Ana surgiu ao seu lado, angustiada, com os cabelos desgrenhados rebelando-se contra a brisa forte que os fustigava e as faces rosadas. – Quem mandou o senhor levantar daquela cama? Como ficará bom se não para de levantar a toda hora? – Sua voz não conseguia esconder a irritação pela teimosia de seu paciente.

– É, parece que arranjou uma ama-seca, capitão. brincou Brett.

– A melhor, eu diria – disse ele docemente dirigindo-se a Ana, sob o queixo caído de Brett que esperava ouvir uma imprecação e não uma confirmação do que havia dito ironicamente.

Percebeu que a ira dela imediatamente abrandou-se e, surpreendendo-o novamente, seu braço enroscou-se na cintura de Crow e sua cabeça repousou em seu peito.

O Corsário ApaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora