Capítulo VI

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– Meu grande amigo, vejo que algo muito sério está acontecendo. – concluiu Brett em tom sarcástico.

– O que quer dizer com isso? – perguntou Crow de cenho fechado, ainda a lembrar do olhar cheio de rancor de Ana.

– Jamais pensei vê-lo apanhar de uma mulher e não apresentar nenhuma reação. Acho que essa rapariga conseguiu penetrar onde muitas já tentaram e nenhuma conseguiu...

– Sobre o que está falando, Brett? – indagou aborrecido.

– Sobre isto aqui, meu caro – respondeu batendo de leve sobre o lado esquerdo do peito de Crow. – Terei de cumprimentar a moça se ela conseguir realizar essa proeza.

– Não diga bobagens, Brett! – afastou-se mal humorado do companheiro, pegando a luneta para mirar o horizonte e disfarçar o efeito provocado pelas palavras do camarada.

– Tomara que sejam bobagens... – divagou Brett, tornando-se subitamente sério. – Crow...

– O que quer agora? – perguntou irritado sem olhar para o imediato.

– Ela é quem eu estou pensando?

Crow, ainda de costas, largou a luneta.

– Quem? – tentou fazer-se de desentendido, mas percebeu que Brett não poderia ser enganado por muito mais tempo.

– É ela, não? A filha do Duque de Villardompardo e da inglesa... Por isso você a soltou da prisão e a trouxe para cá. Custei a acreditar, mas percebi a semelhança com a duquesa e os cuidados que tem com ela. Depois do que vi há pouco, tive certeza. – O silêncio de Crow confirmou suas suspeitas. – A mãe sobreviveu?

– Não. – respondeu após alguns segundos de ponderação silenciosa. Não era justo manter segredo da situação com Brett. Ele vivenciara a ação de Drake e sua vida também fora marcada de certa forma por tais fatos do passado.

– Que tal conversarmos sobre isso?

Crow virou-se e o encarou.

– Eu ia lhe contar quando chegássemos a Eleuthera.

– Não precisa explicar as razões. Apenas quero que saiba que pode contar comigo para o que precisar. Sabe que tenho uma dívida com você...

– Não há dívida alguma, Brett.

– Nem culpas, suponho.

– Esse é outro assunto.

– Tudo bem. – Sabia que o tema culpa exigia mais que uma conversa superficial. Por isso não insistiu. – Agora, me conte essa história e me diga o que pretende fazer.

– É melhor manter essa conversa em sigilo. Vamos sair daqui. – Pensou em ir para sua cabine, mas ela estava ocupada pelo motivo da discussão. Por isso, rumaram para os porões. Talvez a sala de armamentos estivesse livre de intrusos.

Olharam para os lados enquanto se deslocavam para baixo, a procura de curiosos, sem saber que a revelação de Brett já tinha encontrado um bom e ganancioso ouvinte que passava sob a ponte minutos antes. Munido da valiosa informação, saíra sem que os dois amigos percebessem sua presença.

À noite, Crow manteve-se acordado parte da noite, andando no convés, adiando o retorno à cabine e o encontro com Ana. A conversa com Brett pelo menos o deixara mais seguro acerca de seus planos, mas não o fizera esquecer as sensações provocadas por Ana quando a beijou e que ainda faziam seu coração bater mais forte a simples lembrança.

O Corsário ApaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora