Capítulo XVII

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A carruagem encurtava rapidamente a distância entre Córdoba e o Reino de Villardompardo, em Jáen, deixando para trás um rastro de poeira na estrada pouco movimentada àquela hora do dia. Com sorte, a pequena comitiva chegaria ao castelo no meio da tarde.

A chegada a Cádiz fora relativamente tranquila. Brett assumira seu posto de capitão substituto dois dias depois da despedida de Crow, apesar da insistência de Tina e de Ana para que ele continuasse em repouso. Para não terem surpresas nas fronteiras marítimas espanholas, Brett ordenou que o nome do Highlander fosse disfarçado, colocando sobre ele um fino painel de madeira com o nome Hidalgo. A bandeira espanhola foi içada um dia antes de atracarem na conhecida cidade portuária. Após o desembarque, Brett ordenou que o navio ficasse atracado no porto de Cádiz até sua volta, que deveria ocorrer em torno de dez dias. Achava que esse seria o tempo suficiente para que Ana pudesse resolver os problemas com sua herança.

Para explicarem sua aparência anglo-saxônica, Brett e seus companheiros, Liam e Bald, fizeram-se passar por irlandeses, visto que nos últimos tempos a Espanha tinha oferecido apoio a causa irlandesa contra a Inglaterra. Decidiram não formar um grupo muito numeroso para não chamar a atenção em demasia. Alugaram um coche, compraram víveres e vinho, para evitar as pousadas no meio do caminho e, dessa forma, chegarem o quanto antes em seu destino. O Castelo de Villardompardo.

Apesar da profunda tristeza que acompanhava Ana, Tina notou uma mudança na postura da amiga, que passou a olhar mais demoradamente pela janela da carruagem, esboçando um tênue sorriso. Certamente, a região lhe trazia recordações da infância passada na Espanha. As terras dos Villardompardo pareciam férteis e eram bem cuidadas, apesar da ausência de seu duque. Aparentemente, Ana não teria problemas financeiros ou dificuldades em manter a boa rentabilidade de sua área cultivada ou dos rebanhos que abundavam as imensas pastagens.

Já se encontravam a poucas milhas da cidadela que circundava o castelo, quando um grupo de homens armados surgiu entre as árvores da estrada estreita, ameaçadoramente, ordenando que parassem.

Temerosos que fossem assaltantes, Brett e seus amigos, montados em seus cavalos e prontos a defender as mulheres que estavam dentro do coche, não obedeceram a ordem e mandaram o cocheiro acelerar ainda mais, forçando o galope dos cavalos, enquanto eles se mantinham na retaguarda para retardar o avanço dos salteadores. De espada em punho, ameaçavam os homens, enquanto a carruagem voava em direção ao burgo, com Tina e Ana desesperadas com a situação e incapazes de ajudar. Essa condição logo foi interrompida, pois mais um grupo surgiu à frente do cocheiro, assustando os cavalos e obrigando-os a parar.

Tina e Ana no mesmo instante sacaram seus punhais, que levavam em seu decote e preso ao tornozelo, respectivamente, escondendo-os da vista dos assaltantes, entre os panos de suas saias. Pretendiam surpreende-los, caso as atacassem. Através da janela viram Brett e os outros serem trazidos sob a mira de ancinhos e espadas.

– Quem são vocês que ousam invadir as terras do Duque de Villardompardo? – perguntou o cavaleiro mais velho e bem vestido do grupo de dez homens.

Ana já fazia menção de esclarecer sua posição de herdeira, quando Tina a fez calar-se. Até prova em contrário eles eram assaltantes perigosos, que poderiam sequestrar Ana e pedir resgate, caso soubessem quem era ela.

– Pensei que o ducado era um território livre e que poderia receber viajantes cansados, necessitando de pousada. – argumentou Brett, tentando manter a frieza até saber com quem estava lidando.

– Vocês são ingleses? – exclamou irritado o suposto líder ao notar o sotaque de Brett.

– Somos irlandeses e estamos a caminho de Granada – mentiu, pensando rapidamente num destino próximo e plausível.

O Corsário ApaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora