Califórnia, 5 de fevereiro
A vida deve ser muito injusta com várias pessoas, as vezes estou tão abismada com os meus próprios problemas que não percebo que tem outras pessoas ao meu redor que também sofrem. A aula começou a mais de duas horas e ainda tem babacas tirando com a cara do aluno novo pelo fato dele ter pais e ambos serem homens, nunca me vi em uma situação dessas, mas me sinto com pena do garoto. Como será pra ele conviver com isso? Será que foi por isso que ele mudou de escola?
A quarta aula passa rápido graças aos céus, e como de costume espero as pessoas saírem para eu poder me retirar e ir ao refeitório. Depois passo pela quadra onde uma pequena multidão se encontra nos fundos da mesma. Me sento na arquibancada e espero tudo aquilo esvaziar. Após o ocorrido poucas pessoas se encontram no espaço, o garoto novo está sentado no chão e não parece nada feliz. Será que a vida dele foi sempre assim? Será que ele sempre aturou isso? Ele é forte o bastante pra lidar com todas as pancadas que levou? Me levanto, caminho até os fundos da quadra e me sento no chão frio perto do garoto. Seu cabelo está uma desordem horrível, seus olhos verdes estão lacrimejando, sua testa tem um corte, na bochecha também, seu lábios estão inchados e em baixo do seu olho esquerdo uma nódoa roxa, ele apanhou muito.
"Vai me zoar também?" Ele aponha a cabeça no joelho e respira com dificuldades.
"Não, só achei que você queria conversar ou... Sei lá!" Digo porém nem eu mesmo sei o que estou fazendo aqui.
"Você por acaso é psicóloga?" Diz sem me encarar.
"Não..., só imaginei que de alguma forma poderia te ajudar a se sentir melhor!" Suspiro, por que quando eu quero ajudar alguém ou pelo menos tentar as pessoas me tratam como se fosse um lixo?
"Eu não preciso da sua ajuda!" Murmura com raiva. E ficamos ambos em silêncio sentados, eu pensando em como fui trouxa ao achar que iria ajudar alguém quando eu mesmo preciso de ajuda, e ele, bem, ele deve estar querendo matar alguém. Só que pra minha surpresa ele começa a chorar e agora eu não sei o que fazer.
"Eu odeio tudo isso, odeio essa escola, odeio a sociedade e a imagem que criaram julgando ser perfeita, odeio esse tipo de pessoas." Ele levanta a cabeça, seus olhos estão vermelhos e me encara apontando para os ferimentos em seu rosto. "Isso foi causado por intolerância e pessoas ignorantes, pessoas essas que não aceitam ver alguém feliz, eu odeio essas pessoas, pessoas essas que não aceitam a felicidade dos outros sem se incomodar, eles me fizeram isso por causa dos meus pais. Só que se acham que assim vão me fazer sentir vergonha de ter pais gays estão muito enganados, porque agora mais do que nunca sinto orgulho deles. E eu os amo!" Ele fala tudo em uma rapidez surpreendente, sinto lágrimas escorrerem pela minha face, e me sinto orgulhosa pelo garoto a minha frente.
"Você tem razão! Seus pais devem ter muito orgulho de você." Sorrio limpando minha cara com as mangas da blusa. Me levanto e ofereço a mão ao garoto. "Vem?! Vou te levar a enfermagem você está precisando!" Dou-lhe um sorriso, ele segura a minha mão e ajudo-o a levantar. Quando chegamos na enfermagem, a velha enfermeira fica louca, andando de um lado para outro desesperada.
"Anda garota vá pra sala!" Ela diz me expulsando da ala. "Harry Styles precisaremos ligar aos seus pais para informar o ocorrido!" Consigo ouvir antes de sair.
Quando chego em casa na hora do almoço resolvo puxar assunto com minha avó e conto-lhe o ocorrido na escola.
"Os diretores deveriam tomar alguma providência sobre isso." Diz e concordo dando mais uma garfada na minha comida. "Onde já se viu um garoto como esse estudar em uma escola daquelas? Pago muito caro e quero que você tenha uma boa educação e não uma convivência com "gente" desse tipo!" Toda a comida que estava na minha boca volta para o prato. Como ela teve coragem de dizer isso?
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Why Alicia? | H.S.
Fanfiction"O que eu quero? Eu quero ser feliz por um momento sem que me julguem, eu quero poder ser eu mesma e não levar uma surra por isso. Eu quero crescer, ser quem eu quiser ser sem limitações. Quero poder escrever histórias que mesmo não fazendo sentindo...