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São dez e meia quando acordo no domingo de sol quente, não que faça muita diferença azar que vou passar o dia em casa fazendo vários nadas. Ontem foi um dia com notícias muito fortes que não me deixaram dormir à noite, em menos de uma ano meu avô quer que eu comece a comandar a empresa de meus pais, porém não me sinto preparada par tal coisa, sei que ele já está velho e precisa de mais tempo pra descansar mas porque a minha avó não comanda? Ela não gosta de dinheiro? Não gosta de sempre estar acima de tudo e de todos? Então porque ela não faz isso, porque tem que ser eu a fazer? Me levanto e desço ainda com o meu pijama de ursinhos para tomar café. Aparentemente não está ninguém em casa além de mim e Arlete.

"Seu café está pronto meu doce!" Meu habitual suco natural está em cima da mesa assim como as torradas e iogurte. "Como está?" Me pergunta assim que me sento.

"Bem, eu acho!" Dou uma mordida na torrada e a encaro. "E você?"

"Bem, eu acho!" Ela me imita e dá um sorrisinho continuando em pé a minha frente em vez de se sentar à mesa, os empregados tem sido muito corretos em suas funções depois da morte de meu pai. Apesar do sorriso amarelo que ela insiste em dar, sei que se passa algo de errado.

"Sua filha?" Encaro fixamente a senhora que rapidamente desvia o olhar e assente triste.

"Ela resolveu que vai ficar morando em Londres, e o pior que não havia me dito nada, foi meu genro quem me contou!" Ela diz e bufa pela a ingratidão da sua filha mais velha.

"Não fique assim, talvez isso seja o melhor pra ela, logo mais ela vê que errou e volta a falar com você!" Arlete assente e me dá um sorriso, pede licença e se retira me deixando sozinha. Devoro meu café da manhã e volto pro meu quarto, tenho que aproveitar o tempo que minha vó vai está em casa para poder ter um momento de paz sem suas cobranças. Aquela velha tem horas que consegue me fazer acreditar que ela é o Diabo.

Fecho as persianas do quarto e tranco a porta, mesmo que Mary não goste eu prefiro a porta trancada, não sei me sinto melhor, pego o notebook e me jogo na cama me afundando nos lindos e grossos edredons, coloco mais um episódio da minha série favorita para carregar e entro em um site daqueles anuncio que aparecem quando você coloca o episódio. Emagreça em cinco passos! É ridículo eu sei, porém apareceu e chamou a minha atenção, eu não sou magra apenas não sou muito gorda. Mary sempre diz que eu tenho que emagrecer, que tenho que ter o corpo perfeito. Minha auto estima piora ainda mais quando vejo as fotos das mulheres do anúncio, são todas magras, com curvas perfeitas absolutamente tudo no lugar. Enquanto eu, sou apenas eu. Alguém tenta abrir a porta do lado de fora e como não consegue esmurra a mesma, conto até dez pra me acalmar, odeio que façam isso e ela sabe disso mas mesmo assim continua batendo e gritando do outro lado da porta. A paz literalmente acabou! Durou tão pouco. Lágrimas já começam a escorrer pelos meus olhos tapo meus ouvidos e me encolho na cama esperando para que ela pare de fazer isso. As batidas diminui e logo em seguida sua voz autoritária chama pelo meu nome e manda eu ir abrir a porta. Me levanto e sigo lentamente abrindo a.

"Por que essa porta estava trancada?" A expressão de raiva em seu rosto faz com que eu me encolha com medo. Não respondo. "Eu perguntei porquê essa porta estava trancada?" Grita.

"Eu estava assistindo, só isso!" Murmuro quase inaudível.

"Assistindo? Com isso você quer dizer se cortando? Tomando remédios escondidos?" Nego rapidamente. "Deixa eu ver!" Ela agarra meus braços com força e procura neles algum tipo de corte ou ferimento, como não acha nada, segura meu rosto apertando minhas bochechas para que eu abra a boca. "O que você estava fazendo Alicia?" Grita mais uma vez.

"Nada!" Sussurro entre soluços. Essa mulher é completamente louca.

"Se eu descobrir que você está fazendo tudo aquilo outra vez, eu juro que acabo com você. Não vai ter psicólogo nem tratamento, entendeu?" Ela me solta, afirmo rapidamente e ela se vira pra sair, antes de se quer pensar que estou livre ela se vira e bate à porta na parede. "Mantenha a porta aberta, irei sair mas mandarei Arlete ficar de olho em você!" Volto pra minha cama e choro, choro o máximo que consigo.

Meu celular vibra em cima do criado-mudo ao lado da minha cama. Seco os olhos inchados e olho a mensagem.

Você está bem? Quer vir aqui em casa?

Sorrio pro celular. Era exatamente o que eu preciso, de um refúgio. Meu avô com certeza é a pessoa que mais amo.

Faço chocolate e compro filmes de romance pra minha netinha :)

Estou a caminho!

coloco uma regata branca com estampa e um shorts jeans, uma sandália fechada e saiu de casa deixando um bilhete a Mary avisando na onde estou. Realmente o dia está quente, as pessoas estão vestidas a vontade para o clima, tomam sorvete tranquilamente e procuram um lugar com ar condicionado para se refrescar. Chego na frente do prédio onde ele mora, um pouco cansada pela caminhada de poucos minutos eu realmente pareço uma velha! Recupero o fôlego e entro no elevador. Pode parecer estranho mas adoro elevadores!

"Segura aí!" Alguém grita fazendo com que eu ponha a mão para que as portas não se fechem. "Obrigado!" Diz Harry entrando de mãos dadas com uma pequena garotinha. Ele me dá um sorriso e não para de me encarar.

"Olá!" Murmuro me sentindo envergonhada. Tipo, ele fica parado me olhando e não diz nada, qual é o problema desse ser?

"Oi, você é a garota que não é psicóloga mas quer ajudar as pessoas!" Ele diz ainda sorrindo, morde os lábios e olha pra garotinha. "Ah, me desculpe por ter te tratado daquela maneira quando você queria somente ajudar."

"Tudo bem!" Digo olhando ele ficar vermelho só por estar pedindo desculpas, o que deve ser tão vergonhoso pra ele? Estar pedindo desculpas em voz alta?

"Não sério! Eu fui arrogante. Me desculpe...?"

"Alicia."

"Harry"

"Eu sou a Beatriz!" A menininha diz com a língua presa e sorri.

"Oi Beatriz, como você está?" Me agacho pra tentar ficar na sua altura.

"Bem, sabia que eu tenho três anos! Assim ó!" Dou risada quando ela me mostra os cinco dedinhos da sua pequena mão. Amo crianças, elas têm um quê mágico, uma inocência que ninguém tem o direito de tirar. O elevador para e as portas se abrem. Nós três saímos.

"Não sabia que você morava aqui"

"E não moro, só vim visitar meu avô!" Digo e volto a me abaixar dando um beijo no rosto da garotinha. "Tchau!"

"Tchau!" Ela diz e beija a minha bochecha. "Você pode ir brincar comigo?" Pergunta antes que eu volte a me levantar.

"Sinto muito linda mas agora eu preciso mesmo ir!"

"Tudo bem, mas depois você vai?" Ela pergunta com os olhos brilhantes.

"Claro!" Sorrio. Aceno para Harry e ambos saímos em direções opostas no extenso corredor. Toco a campainha do apartamento e espero para que meu velhote abra. Assim que ele abre a porta me jogo em seus braços lhe apertando fortemente.

"Isso porque você me viu ontem!" Murmura no meu cabelo.

"E dai? Já estava com saudades!" Digo indo em direção à cozinha. Na verdade sinto mais saudades do brigadeiro que me espera. "Então, preparado para nossa sessão filmes melosos com muito chocolate e lágrimas?" Pergunto entusiasmada.

"Mais é claro! Não podia esperar por mais nada!" Diz irônico e passo um dedo de chocolate na sua bochecha.

É tão bom voltar a ter cinco anos.

*

Why Alicia? | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora