Why Alicia? | H.S.

7

Acordo um pouco mais cedo do que de costume e a primeira coisa que faço é tomar café da manhã, assim não preciso encarar minha avó logo cedo pois a mesma ainda não desceu. Arlete hoje me preparou algo mais reforçado e agradeço a ela por ter o feito. Não jantei ontem e acordei morrendo de fome. Como pão barrado de manteiga e algumas torradas, frutas em cubos e tomo um copo de iogurte. Depois da minha refeição ainda sinto meu estômago pedir algo mais, pego um pacote de bolacha e subo para meu quarto para me arrumar. Além do mais hoje é sexta-feira e ainda tem aula. Uma regata branca, uma calça jeans preta e uma blusa de frio cinza. Deixo a roupa em cima da cama já arrumada e tomo um banho, depois de limpa e higiene feita coloco a roupa um All Star e amarro meu longo cabelo em um rabo de cavalo alto. Passo um rímel e um hidratante labial. Saio do banheiro e pego minha mochila e desço para a sala. Mary infelizmente se encontra em um dos sofás com uma revista em mãos, sento no sofá do outro lado da sala sem dizer nada. Uma mensagem de Harry aparece no celular. Só então que me lembro que hoje irei fazer o trabalho na casa dele.

"Hoje eu tenho um trabalho na casa de um colega, posso ir?" Não a encaro enquanto pergunto.

"Fazer trabalho na casa de colega? Você sempre fez seus trabalhos sozinhas!" Ela pousa a revista a seu lado e me olha. Posso sentir o seu olhar julgador encima de mim.

"O professor pediu para fazermos em grupo!" Respondo baixo. Fico brincado com os meus dedos em cima do meu colo, não sei porque mas me sinto envergonhada.

"Onde ele mora?" Pergunta voltando a pegar sua revista mostrando não ter interesse no assunto.

"No mesmo prédio que o vovô!"

"Ok, não volte tarde." Quando ela fala, até levanto a cabeça para olhá-la de espanto. Ela deixou mesmo?

Respondo a mensagem dizendo que irei depois do almoço e que nos vemos na escola. Passam-se alguns minutos até que de a hora de ir. Levanto apressada e saio da sala para evitar aquele silêncio constrangedor que estava no ambiente. O carro já está pronto para partir e me pergunto qual a necessidade de um carro e um motorista para me levar ao colégio? Não é tão longe assim, eu não sou uma incapaz que não pode andar apenas para ir estudar. Bufo e entro no veículo. Nada do que eu falar vai fazer diferença.

Quando entro na sala apenas Harry se encontra, me sento ao lado dele murmurando um bom dia, a sala demora um pouco para encher de adolescentes inúteis iguais a mim que não querem saber nada da vida a não ser que possua bebidas, drogas e sexo. O professor demora mais de vinte minutos para chegar o que não faz muita diferença azar que ele apenas se sentou na sua cadeira quando chegou e ficou olhando para nossas caras. Ele deve ter pensado o mesmo que eu; adolescentes inúteis. Quando o sinal soa para a troca de aula ele parece aliviado e sai da sala o mais rápido possível, até parece que ele está preso aqui dentro. O professor de matemática entra na sala e começa sua aula sem qualquer problema a não ser por alguém batendo apressadamente na porta. Ele pede para que eu levante e abra a porta. Mando ele ir se foder mentalmente e me levanto caminhando lentamente. Sophia aparece no meu campo de visão quando abro a porta dando passagem para ela entrar, ela me olha de baixo a cima e passa por mim trombando no meu ombro. Tá cega? Eu me lembro dela. Lembro da época que éramos melhores amigas, lembro de quando ela ia na minha casa para a gente brincar, depois ia apenas para fazermos trabalhos e conversar. Lembro da época que saiamos pra nos divertir que nem duas adolescentes felizes. Mas depois que descobri da doença do meu pai, a afastei, e como uma boa amiga ela não me procurou mais, apenas no dia do enterro que ela veio me abraçar porque seus pais mandaram. Agora mal olhamos uma na cara da outra e mesmo assim continuo admirando a garota que ela é, linda inteligente e não muda por ninguém continua sempre um doce de pessoa e ajuda qualquer um com exceção a mim, lógico. Sei que a culpa foi minha, que fui eu que a afastei de mim, mas mesmo assim dói ver que ela não se importou.