Seis

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DESPEDIDA - William
CAPÍTULO NÃO REVISADO


Ela está na cadeira, dormindo tranquilamente e não faz a mínima ideia que a observo. Levanto da cama e quando me olho no espelho do banheiro não vejo hematomas ou qualquer tipo machucado além de um pequeno corte na parte lateral de meu lábio inferior.
A garota que havia me salvado dorme como se o mundo fosse colidir com um asteroide, conturbada e inquieta, com a mão no arco que repousa ao lado da cadeira.

Com muito cuidado para não acorda-la, tiro o arco de perto e a pego no colo. Genevieve é tão leve quanto uma pena, mas apesar de dormir pesado murmura algo e sempre parece conturbada.
Ela não acorda e tenho plena consciência que meu pai irá me esfolar vivo (dou graças por não ser no sentido literal) quando chegar em casa.

Pensar que alguém faria isso por mim é estranho, quero dizer, ela é uma garota e normalmente elas só querem se aproveitar de um príncipe, mas ela não sabe que sou um príncipe.

Genevieve.

Este nome me é conhecido, a garota que não pude salvar. Claro que ninguém sobreviveria a um ferimento como aquele se não tivesse ajuda, mas e se for ela?
"Bobagem, ninguém sobrevive a mim" é o que meu pai diria.

Caminho até a porta, mas quando estou para sair do quarto ouço o específico barulho de cordas sendo puxadas. Uma flecha passa rente a minha bochecha e se aloja na parede a minha frente.

ㅡ Nem mais um passo! ㅡ ela praticamente esbraveja, seus dentes, embora eu não possa ver, certamente estão cerrados.

ㅡ Tenho que voltar para minha casa ㅡ me viro com os braços levantados em sinal de rendição.

Sorte sua que não estou com minha espada ㅡ penso.

ㅡ Como eu vim parar nesta cama? ㅡ ela aponta para a cama ao seu lado, desconfiada demais para alguém de sua idade. Alguém que viveu tão pouco.

ㅡ Eu te carreguei?!

ㅡ Por quê?

ㅡ Você estava desconfortável na cadeira. ㅡ dou de ombros. Era difícil mesmo acreditar em mim?!

ㅡ Nunca mais toque em mim ㅡ
sua voz falha levemente, talvez indicando algum trauma recente.

ㅡ Posso ir? ㅡ aponto para a escada que se encontrava ao virar o corredor. Ela assente, me permitindo ir até a porta. Sua ideia inicial parece mudar no mesmo segundo em que o vento gélido toca nossos rostos. Genevieve fecha a porta e se dirige até a cozinha sem falar uma palavra sequer.
Volta com um saquinho e me entrega-o, ainda calada.

ㅡ O que é isso?

ㅡ Gengibre, eles esquentam no frio ㅡ ela da de ombros ㅡ,e também são gostosos.

Abro o saco e me deparo com pequenos biscoitos em formato de folhas, Algo que poucos fariam por mim, mesmo sendo tão simples, a garota havia feito.

ㅡ Obrigada ㅡ beijo sua bochecha e saio.

Genevieve

Abro a escotilha e entro no térreo escuro, aperto o botão do elevador e desço rumo ao subsolo cinco.

ㅡ Precisamos falar com você ㅡ Ásia fala assim que a porta do elevador abre. A garota parecia um timer.

Mentalistas e suas manias estranhas.

ㅡ Onde? ㅡ Cochicho ao considerar o horário.

ㅡ Venha ㅡ ela me conduz pelo corredor branco.

Às vezes tenho flashes de meu passado apersar de minha tia e Ásia terem me ajudado a esquecer dos meus pais. Esqueci-me de tudo, na verdade.
Lembro apenas que os olhos de meu pai eram verdes como os meus e minha mãe cantarolava sempre que penteava meu cabelo.
Apesar de nunca ter tido um pai ou uma mãe, eu cresci com pessoas maravilhosas: meu tio sempre me encorajou a ser eu mesma e me impor a aqueles que não acreditam em mim; minha tia me ensinou como uma mulher pode ser forte em um mundo dominado por homens. Meus amigos me ensinaram a amar, a ser companheira e ter compaixão.
Nunca quis matar o príncipe, eu queria matar o rei. O príncipe sempre foi uma consequência

Meu tio andava de um lado para o outro com a mão esquerda no queixo, ele fitava o chão até que olhou para mim e disse:

ㅡ "Querida, eu não queria acabar com a humanidade que há em você".

Engoli a seco, sabia que isso significava que teria que fazer aquilo de novo.

ㅡ "Tio, ele esta bem?" ㅡ perguntei balançando os pés freneticamente.

ㅡ "Eu preciso te treinar, Gen" ㅡ ele me fez levantar ㅡ "Venha comigo"ㅡ o segui corredores adentro até chegarmos ao segundo andar.

Ele me conduziu até uma sala com um espelho enorme na parede. Se pôs a minha frente e disse:

"Atrás desta porta há uma ajudante do rei, ela matou pessoas e possui informações muito importantes sobre ele." ele fez uma pausa, engoliu a seco, e prosseguiu "Faça ela nos contar tudo que sabe."

Afirmei com a cabeça veementemente, segui até uma porta que ficava ao lado do espelho e entrei.
Uma mulher ruiva com uma mordaça me olhou, mas não com nojo como o outro fez, e sim com compaixão. Ela parecia ter pena de mim.

A mulher era magra em boa parte do corpo, mas seus braços e sua barriga eram um pouco grandes, mas não liguei para isto, logo a fiz tirar sua jaqueta.
Peguei uma faca disse com coragem:
"O que você sabe sobre o rei?"
ela balançou a cabeça em um gesto negativo, pus a faca sobre sua pele e passei lentamente retirando uma camada grossa de pele e sangue da mulher que agora gritava.

Ela continuou sem dizer nada mesmo estando sem a mordaça na boca, apenas gritava e dizia que não sabia de nada.

Quando enfiei uma faca comprida que se assemelhava a uma cimitarra em sua barriga ela pareceu sofrer mais do que sofrera em qualquer outro momento.
Notei que sua calca começou a se encharcar de sangue e meu tio junto a seus guardas entraram e a levaram.
Mais tarde naquele dia meu tio me explicou que ela realmente não tinha nada a ver com o rei. Pensei que iria chorar, mas não derramei uma lágrima sequer, apenas observei o corpo da mulher coberto por um lençol branco no necrotério.

"Ela perdeu o bebe" meu tio murmurou para um dos guardas.

Esta frase foi a confirmação:
Eu sou um monstro.

Ásia abriu a porta de seu quarto revelando Lilly, Lilith e Joyce sentadas uma em cada lugar fazendo variadas coisas. Como sempre, tão distintas e tão próximas...

Lilly estava fitando um bicho de pelúcia, aparentemente se perguntando qual seria o lugar ideal para estripa-lo. Lilith estava lendo um livro freneticamente e Joyce estava de cabeça para baixo na cama nos fitando entediada.

O que queriam me dizer? ㅡ não perco tempo.

Temos uma plano ㅡ Ásia diz.

Um príncipe e Uma rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora